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"Políticas implementadas para habitação são muito desfasadas", avisa Ricardo Guimarães
A fiscalidade do setor é apontada como um dos grandes problemas do imobiliário. Siza Vieira alerta que é preciso "atacar factores que fazem subir preços da construção". António Ramalho acredita que o risco de bolha imobiliária vai desaparecer nos próximos dois anos.
A escassez de oferta de casas, a burocratização dos processos de construção e as medidas "desfasadas" da realidade foram alguns dos principais problemas apontados por alguns especialistas do setor durante a apresentação do Observatório do Imobiliário promovido pela Century21.
António Ramalho, chairman da Touro Capital Partners, começou por destacar que Portugal é um país de proprietários. E os números do estudo da mediadora imobiliária mostram isso: 65% dos inquiridos têm casa própria. Mas, como o gestor sublinhou, ainda assim, "existem dificuldades no acesso à habitação, que é fortemente prejudicado pelas taxas de juro". Porém,com as notícias da futura descida das taxas, acredita que o risco de bolha imobiliária vai desaparecer nos próximos dois anos.
Questionado sobre se as medidas do Mais Habitação seriam suficientes ou seria preciso revistar alguns dos pontos, Ricardo Guimarães, diretor da Confidencial Imobiliário, respondeu que o pacote "trouxe um aumento dos impostos", com o IVA a passar de 6 para 23%. "Houve um agravamento num país que já tem uma tributação elevada". "As políticas implementadas são muito desfasadas", lamentou, acrescentando que já passou um ano desde o Mais Habitação e não se sentiram grandes efeitos, lamentou.
Já Pedro Siza Vieira destacou a importância de se "dar tempo" às medidas que foram implementadas para mitigar a crise da habitação, nomeadamente de licenciamentos e planeamento urbanístico. "Deixe-se o mercado experimentar e trabalhar com estas novas regras", reforçou.
O antigo governante sublinhou ainda que o problema em causa "não é só a falta de capacidade de financiamento", partilhando da mesma posição que Ricardo Guimarães no que toca à fiscalidade do setor. "Tem de se resolver atacando os fatores que fazem subir preços da construção". "O tema da fiscalidade imobiliária penaliza a produção, mais do que noutros países e cobramos pouco pela propriedade dos proprietários", apontou.
Siza Vieira relembrou ainda que os custos da construção dispararam quase 17% nos últimos dois anos, principalmente devido ao custo da mão de obra. E que enquanto os setores de construção e imobiliário chegaram a valer 17% do PIB, hoje pesam "7 ou 8%".