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Efeito da descida das taxas de juro vai "chegar aos bolsos” das famílias no final do ano
Administradores do BPI, Novo Banco e Santander Portugal avisam que efeito da descida das taxas de juro não será imediato. Sobre o aumento da renegociação dos contratos de crédito à habitação, é um sinal que "a competição está ao rubro, como nunca esteve".
Com as expectativas da descida das taxas de referência do BCE a partir de junho, os administradores de três dos principais bancos alertam que o efeito na prestação mensal do crédito à habitação da maioria das famílias não será imediato. E confessam que olham para 2024 com um "optimismo moderado".
"É bastante consensual que chegámos a um patamar máximo das taxas de juros de referência do BCE e a perspetiva é que a partir de meados de 2024 comece a haver redução", começou por destacar Diogo Sousa Louro, administrador BPI na apresentação do Observatório do Imobiliário promovido pela Century21.
Desde final de 2023 que tem sido observada uma redução das taxas euribor, indexadas ao crédito da habitação. "E a nossa perspetiva é que continuem a reduzir-se gradualmente ao longo do ano de 2024", comentou. Mas deixou o aviso que em termos do impacto concreto nas prestações que as famílias pagam, "esse efeito positivo da descida dos indexantes ainda vai demorar algum tempo a ser sentido. Para as pessoas começarem a sentir isto no seu bolso ainda vai levar algum tempo", acrescentou.
Apesar de haver clientes que "começam a sentir já neste trimestre uma redução", como sublinhou Miguel Belo de Carvalho, administrador do Santander, os responsáveis apontam que para muitos dos contratos de crédito só será mais visível no final do ano.
As previsões para 2024 são positivas, mas moderadas. Luís Ribeiro, administrador do Novo Banco, confessou ser "um optimista", mas no que toca às perspetivas económicas "temos de ter um otimismo moderado".
O gestor destacou que os "indicadores de Portugal são positivos", dando como exemplo a recente notícia da dívida pública abaixo dos 100% do PIB em 2023 ou a resiliência do mercado de trabalho. Os fatores de instabilidade são principalmente externos, acrescentou o administrador do BPI referindo-se aos conflitos geopolíticos.
No que concerne à área do imobiliário, Luís Ribeiro refere que "a indecisão", e consecutivo atraso na tomada de decisão, "pode levar à diminuição da procura". Mas o principal problema é a escassez da oferta, como concordam os três administradores das instituições financeiras.
Mercado "ao rubro"
Questionados sobre o impacto do Simplex Urbanístico, inserido no pacote Mais Habitação, dizem ainda ser demasiado cedo para tirar conclusões. "Mas tudo que sejam medidas para desburocratizar e tornar mais simples os processos é fundamental", apontou Diogo Sousa Louro, acrescentando que também é necessário "haver mais parcerias entre o público e o privado para gerar mais oferta e ajudar as pessoas que têm dificuldade em encontrar a casa que precisam. E os bancos vão ser sempre parte da solução. Tudo faremos, como temos feito nos últimos anos, para que essas medidas sejam efetivas", assegurou.
Uma posição partilhada pelos restantes administradores que realçaram ainda as quase nulas taxas de incumprimento. Uma situação para a qual contribui a renegociação dos contratos de crédito da casa. De acordo com os dados do Banco de Portugal, no ano passado atingiu os 8,8 mil milhões de euros, um valor cinco vezes superior ao registado em 2022.
Luís Ribeiro acredita que a renegociação de contratos vai manter-se ao longo deste ano, mas não irá aumentar.
No ano passado, o Novo Banco renegociou 25 mil contratos, o BPI cerca de 9 mil e o Santander Portugal 55 mil. Números que mostram que "a competição está ao rubro, como nunca esteve", referiu Miguel Belo de Carvalho referindo-se à transferência de créditos.
Além disso, os responsáveis relembraram que no ano passado houve níveis elevados de amortização de dívida, "o que permite um ambiente mais saudável", acrescentou o administrador do Santander Portugal.
No ano passado, as amortizações antecipadas de crédito à habitação quase duplicaram em 2023, passando de 5,5 mil milhões de euros, em 2022, para 10,1 mil milhões de euros. E segundo os mesmos dados do Banco de Portugal, as amortizações antecipadas totais - que incluem os contratos finalizados por amortização da dívida do devedor, consolidação de crédito num novo contrato e as transferências de crédito para outra instituição - representaram 83% das amortizações antecipadas em 2023.