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Mercados imobiliários de Hong Kong a Singapura juntam-se à queda global
A Ásia está finalmente a sucumbir à desaceleração do mercado imobiliário global que tem agitado proprietários e investidores de Vancouver a Londres, com os mercados de Singapura, Hong Kong e Austrália a revelarem sinais de abrandamento.
Os efeitos económicos podem ser sérios. A queda dos preços das casas e o aumento dos juros dos empréstimos não só prejudicam a confiança dos consumidores, como também o rendimento disponível, disse a S&P Global Ratings num relatório no mês passado. Um declínio simultâneo nos preços das casas, a nível global, pode levar a "instabilidade financeira e macroeconómica", segundo referiu o FMI num estudo divulgado em abril.
Embora cada cidade da região tenha características distintas, existem alguns denominadores comuns: subida dos custos dos empréstimos, aumento da regulamentação governamental e mercados de ações voláteis. Também há uma procura cada vez mais fraca de uma força tão poderosa que levou os preços para máximos em muitos lugares: os compradores chineses.
"Com a economia da China a ser afetada pela guerra comercial, as saídas de capital tornaram-se mais difíceis, enfraquecendo a procura em mercados como Sydney e Hong Kong", afirmou Patrick Wong, analista imobiliário da Bloomberg Intelligence.
Hong Kong
Depois de um ciclo de subidas de quase 15 anos, que tornou Hong Kong conhecida por ter o Mercado imobiliário mais caro do mundo, os preços das casas sofreram um golpe.
Os preços caíram durante 13 semanas consecutivas desde agosto, a maior série de descidas desde 2008, segundo dados da Centaline Property Agency Ltd. Preocupações com os custos mais elevados dos empréstimos e uma taxa turística iminente acentuaram a queda.
Os construtores chineses que concorrem com sucesso a áreas residenciais também está a diminuir, tendo a taxa descido de 70%, em 2017, para 27%, em 2018, mostrou o Residential Sales Market Monitor, da JLL, divulgado na quinta-feira. Das 11 áreas residenciais oferecidas pelas autoridades no ano passado, apenas três foram conquistadas por empresas chinesas.
"A mudança de atitude pode ser explicada por uma desaceleração da economia", disse Henry Mok, da JLL. "Envolvido numa guerra comercial com os EUA, o governo tomou medidas para restringir as saídas de capital, o que por sua vez aumentou as dificuldades dos empresários para investirem no exterior".
Singapura
Os preços das casas em Singapura, que estão entre os mais caros do mundo, registaram a sua primeira queda em seis trimestres nos últimos três meses de 2018. O mercado de luxo foi o mais atingido, com os preços das áreas nobres a afundarem 1,5%.
As políticas do governo são as principais culpadas. Em julho, foram implementadas medidas que incluíram impostos mais altos e regras mais rígidas para a concessão de crédito. Desde então, já foram impostas restrições adicionais, entre as quais limites ao número de apartamentos conhecidos como "caixas de sapatos", devido às suas dimensões reduzidas, e regras contra a lavagem de dinheiro que impuseram uma carga administrativa adicional aos empresários.
Sydney
O valor médio dos imóveis residenciais na cidade portuária caiu 11,1% desde o pico de 2017, segundo dados da CoreLogic, divulgados na quarta-feira - superando a queda de 9,6%, quando a Austrália estava prestes a entrar na sua última recessão.
Embora os preços ainda estejam cerca de 60% mais altos do que em 2012, as previsões dos economistas de uma queda adicional de 10% estão a fazer com que os investidores nervosos pensem duas vezes sobre gastos desnecessários.
O banco central também está preocupado com o facto de uma desaceleração prolongada poder penalizar o consumo e, com o principal partido da oposição a prometer um redução dos benefícios fiscais para os investidores imobiliários se vencer uma eleição esperada em maio, a confiança poderá ser ainda mais afetada.
Xangai
As medidas para controlar o sobreaquecimento dos preços prejudicou as vendas e deixou os preços das maiores cidades do país cerca de 5% abaixo do pico. Regras sobre compras de várias residências, ou sobre quando uma propriedade pode ser vendida depois de comprada, estão a começar a ser aliviadas, e já há construtores a oferecer"brindes" para atrair compradores.
Em setembro, um construtor estava a oferecer um BMW Série 3 ou X1 a qualquer pessoa que quisesse comprar um apartamento de três quartos ou uma moradia no seu projeto em Xangai. As entradas também foram reduzidas, com o Grupo China Evergrande a pedir apenas 5% do valor, em comparação com os habituais 30% exigidos.
"Não é uma surpresa ver os preços residenciais de Pequim e Xangai a caírem, devido às políticas de contenção que existem atualmente nesses dois mercados", disse Henry Chin, diretor de pesquisa do CBRE Group Inc.
O índice que mede os preços das casas usadas em Pequim tem vindo a cair desde setembro, enquanto em Xangai está em declínio há quase 12 meses.