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Investimento de 1.100 milhões da Repsol em fábrica em Espanha também pode voar para Portugal
Fábrica a erguer em Tarragona, para a conversão de resíduos urbanos em combustível, envolta em "suspense". Segundo a imprensa espanhola, Repsol diz que o aperto fiscal anunciado compromete o retorno do investimento e obriga-a a avaliar se o transfere para Portugal ou abandona.
Depois de ter decidido apostar 15 milhões de euros no hidrogénio verde em Sines em protesto contra as medidas fiscais de Madrid, há outros investimentos da Repsol que arriscam ser transferidos de Espanha para Portugal, com a petrolífera espanhola a manter o "suspense" sobre um projeto pioneiro de conversão de resíduos urbanos em combustível, avaliado em 1.100 milhões de euros, avança, esta quinta-feira, a imprensa espanhola.
Em causa figura uma fábrica para transformar resíduos em combustível através de uma tecnologia que terá pouca concorrência na Europa, a erguer no complexo industrial de Tarragona, onde desenvolve, há vários anos, o projeto designado de "Ecoplanta Molecular Recycling Solution", que tem sido descrito como "a primeira fábrica de Espanha de transformação de resíduos municipais não recicláveis em metanol".
Ora, a instalação da unidade pioneira no complexo explorado pela Repsol tem "luz verde" ao nível administrativo e conta com as autorizações urbanísticas municipais e as licenças ambientais por parte do governo regional catalão (Generalitat), mas a sua entrada em funcionamento, prevista para 2028, aguarda o aval definitivo da administração da própria empresa, com a cúpula da Respsol a pôr o pé no travão devido ao imposto extraordinário sobre as energéticas decidido pelo Governo de Pedro Sánchez, escreve o Cinco Días.
De acordo com o mesmo jornal, a petrolífera espanhola, que acusa Madrid de "demagogia fiscal", sustenta que o aperto fiscal compromete o retorno do investimento e obriga-a a avaliar se o transfere para o seu centro industrial em Sines (em Portugal) ou se o abandona.
O Negócios contactou a Repsol, mas aguarda resposta.
À luz do plano inicial, apresentado pela Repsol, a nova fábrica teria capacidade para processar aproximadamente 400 mil toneladas de resíduos municipais não recicláveis procedentes das estações de recolha e tratamento das localidades vizinhas, ou seja, o equivalente ao lixo gerado num ano por uma população de 800 mil habitantes. Segundo o jornal espanhol, os defensores do projeto garantem que o metanol produzido se destina a fazer parte de um combustível essencial para descarbonizar o transporte marítimo, onde o uso de motores elétricos é muito pouco eficaz pelo elevado peso das baterias.
No âmbito do mesmo plano, a Repsol congelou a implantação de "um electrolisador de grande capacidade à escala europeia", cuja instalação está desenhada para produzir 2,7 toneladas de hidrogénio renovável por hora, gerando hidrogénio verde e oxigénio para as empresas que operam no pólo petroquímico de Tarragona, o de maior envergadura do sul da Europa. Assim, no total, está em jogo um investimento de 1.100 milhões de euros que tem impacto direto naquele complexo, não tanto pela criação de emprego, dado o elevado recurso a tecnologias previsto no projeto, mas pelo efeito contágio que pode ter no parque industrial onde as atividades se encontram muito interligadas, refere o mesmo jornal.
A segunda vice-presidente do governo em Espanha, Yolanda Díaz, criticou a "ameaça" da energética de deixar em suspenso o milionário investimento na Catalunha, afirmando que "as empresas espanholas devem envolver-se com o seu país".
O Cinco Días faz ainda referência ao comentário do autarca de Barcelona, Josep Santacreu, que afirmou, esta quarta-feira, que lhe parece "preocupante" a possibilidade de manter o imposto sobre as energéticas por um período muito longo, alertando para potenciais riscos como a hipótese de afetar a capacidade de investimento das empresas num momento em que se encontram em plena fase de transição energética: "Mexer numa coisa sem ter em conta tudo o resto pode acarretar consequências mais negativas do que positivas".