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Hidrogénio verde já chega aos fogões de famílias no Seixal desde outubro. O que mudou?

O Governo quis marcar oficialmente a primeira injeção de hidrogénio verde numa rede de gás natural em Portugal, mas a verdade é que no Seixal 82 casas, empresas e indústrias já são abastecidas há quatro meses pela Floene com uma mistura de 95% de gás e 5% de hidrogénio. O próximo passo é aumentar até aos 20% de H2 e replicar o exemplo noutras redes do país.

Bárbara Silva barbarasilva@negocios.pt 07 de Março de 2023 às 17:07
O primeiro-ministro, António Costa, assistiu esta terça-feira à cerimónia que marcou oficialmente a primeira injeção de hidrogénio verde numa rede de gás natural em Portugal, mais propriamente no Seixal.

No entanto, já desde outubro de 2022 que 82 casas, empresas e indústrias nesta cidade da margem sul do Tejo são abastecidas com uma mistura composta por 95% de gás natural e 5% de hidrogénio, tinha já avançado a Floene (antiga Galp Gás Natural Distribuição) ao Negócios em dezembro.

Nos próximos dois anos o objetivo é aumentar gradualmente o volume de hidrogénio até aos 20%. O CEO da Floene, Gabriel Sousa, garantiu em entrevista ao Negócios no final do ano passado que "a primeira rede de gás do país onde circula hidrogénio verde desde o produtor até ao consumidor final já está a funcionar em pleno desde outubro no Seixal". Isto sem ter sido necessário mudar os equipamentos já existentes nos clientes nem fazer mudanças na rede de abastecimento.

"É a primeira rede do país onde circula, em parte dela, 100% de hidrogénio, e está a funcionar muito bem", disse Gabriel Sousa na mesma entrevista, acrescentando: "A Floene já recebeu mais de 70 pedidos de injeção de hidrogénio e biometano na rede", no último ano. 

Para já, e nestes últimos quatro meses, o que mudou na vida destas famílias seixalenses quando acendem o fogão ou ligam o esquentador? Na verdade, muito pouco. Diz quem sabe que a olho nu nada se nota, com a exceção de a chama gerada num fogão doméstico, por exemplo, com esta mistura que já integra 5% de hidrogénio verde ser "mais quente no meio do que nas extremidades". 

Foi isso precisamente que António Costa presenciou esta terça-feira com os seus próprios olhos. No evento "A Energia Natural do Hidrogénio", o primeiro-ministro visitou a infraestrutura misturadora da Floene, que permite precisamente integrar a percentagem (ainda pequena) de hidrogénio no gás natural e, depois, assistiu à injeção da mesma numa rede de distribuição fechada.

A honra de abrir a válvula do hidrogénio verde coube não só a António Costa mas também a Duarte Cordeiro, ministro do Ambiente e da Ação Climática, e ao presidente da Câmara do Seixal, Paulo Silva, também presentes no evento.

A cerimónia terminou com uma demonstração "ao vivo e a cores". Antes de encerrar o evento, o primeiro-ministro procedeu ao acendimento de um fogão alimentado pela mistura de hidrogénio verde com gás natural, "mostrando assim a adequação dos atuais equipamentos domésticos" à utilização deste gás renovável.

"O momento em que o primeiro-ministro deu início à mistura de hidrogénio verde constituiu a Hora H da transição para a energia do futuro em Portugal, com elevado impacto na autossuficiência energética, no desenvolvimento económico, na redução da fatura energética e na preservação do ambiente", assinalou o CEO da Floene, Gabriel Sousa, em comunicado.

Por seu lado, o Presidente do Conselho de Administração da Floene, Diogo da Silveira destacou que "a introdução de gases renováveis, como o biometano e, neste caso, o hidrogénio, na rede de distribuição de gás é a prioridade e um compromisso da Floene, alinhada com o os objetivos nacionais e europeus de descarbonização, redução das emissões de gases de estufa e de diversificação do cabaz energético".

"A demonstração da utilização de hidrogénio no consumo doméstico evidencia, assim, o princípio de complementaridade entre os sistemas de gás e elétrico no processo de descarbonização", frisou a Floene no mesmo comunicado, acrescentando: "A rede portuguesa é uma das mais modernas da Europa, com cerca de 96% de polietileno, e está preparada para receber gases renováveis sem necessidade de adaptação ou investimento adicional

Esta rede fechada no Seixal abastece então 82 casas, empresas e indústrias, e por isso foi escolhida para levar a cabo o projeto de demonstração "Green Pipeline Project". Em desenvolvimento já há algum tempo (sendo que chegou a ter o seu arranque marcado para o primeiro semestre de 2021 e, depois, para janeiro de 2022), este piloto é o primeiro em Portugal a introduzir de hidrogénio verde na rede de gás natural.

Inclui uma central de 50MW para produção de hidrogénio verde, a cargo da empresa portuguesa Gestene e localizada no Parque Industrial do Seixal. O gás de origem renovável ali produzido segue depois por um gasoduto num gasoduto de polietileno (igual a cerca de 95% da rede de gás utilizada em Portugal) com 1,4 km de comprimento, que transporta 100% de hidrogénio entre o produtor e a estação de mistura com o gás natural. É depois injetado na rede que abastece os 80 clientes, na sua maioria residenciais.

Liderado pela Floene, e com financiamento do Fundo Ambiental, o projeto tem como parceiros técnicos empresas como a Bosch, Gestene, Catim, PRF, ISQ, e ainda o Instituto Técnico de Lisboa e a Associação Portuguesa para a Promoção do Hidrogénio.

O próximo passo é replicar o exemplo do Seixal noutras zonas do país, como Évora por exemplo, onde a Floene tem já um projeto semelhante em parceria com a Fusion Fuel.

Gabriel Sousa garantiu ao Negócios que o país tem potencial para fazer chegar o hidrogénio verde aos consumidores de todo o país. E explicou porquê: "Temos a sorte em Portugal de ter uma infraestrutura de distribuição de gás com cerca de 15 anos, muito mais moderna que a dos outros países, que lidam com o desafio de ter de substituir alguns materiais mais antigos" se quiserem injetar gases renováveis.

Além disso, frisou, "os equipamentos a gás que saem hoje dos fabricantes já têm certificação para misturas até 30% de hidrogénio". "Os desafios vão surgir quando chegarmos a um cenário de 100% de hidrogénio verde a circular na rede", antecipou.
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