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Fusion Fuel muda foco do hidrogénio verde para o gás para tentar salvar a empresa
Com a fábrica de eletrolisadores de Benavente parada, e sem dinheiro para pagar a trabalhadores e funcionários, a Fusion Fuel anunciou a compra de 70% de uma empresa americana de fornecimento de gás.
Quatro dias depois de ter comunicado a entrada em insolvência da sua subsidiária em Portugal, a tecnológica portuguesa Fusion Fuel, que produz eletrolisadores no país para projetos de produção de hidrogénio verde, anunciou esta terça-feira a assinatura de um acordo vinculativo para adquirir cerca de 70% da empresa americana do estado do Nevada QIND - Quality Industrial Corp., que opera no setor de fornecimento e serviços de gás, e tem experiência em toda a cadeia de valor industrial e de serviços públicos.
"Esta aquisição, que a empresa espera concluir em breve, marca um passo fundamental na estratégia da Fusion Fuel para construir um novo negócio de serviços de engenharia energética, combinando capacidades nos setores da energia tradicional e limpa, para atender à crescente procura do setor energético global", refere a empresa em comunicado.
Ao Negócios, o CEO da empresa, Frederico Figueira Chaves explicou que o negócio não vai exigir qualquer investimento de capital por parte da Fusiaon Fuel, tratando-se de uma "transação por ações".
"Com a insolvência da empresa portuguesa, isto permite-nos ter como base uma empresa que já fatura e tem lucros, para manter algum valor aos acionistas e dar continuidade a algumas atividades e projectos. Além disso, a QIND quer expandir-se para o hidrogénio verde", explicou o gestor.
Na prática, a Fusion Fuel vai emitir ações (20%), em troca de 70% das ações da QIND, que também receberá "convertible shares" que só se transformarão em ações com o cumprimento de algumas condições. "Se todas estas condições se verificarem, a QIND trará traz muito valor para a empresa (incluindo capital) mas tambem ficará com 70% das ações da Fusion Fuel", acrescentou Frederico Chaves, sublinhando: "Se tudo correr bem há crescimento, investimento, mas eles também ficam com a maioria da empresa".
Com sede em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos, a QIND é uma empresa industrial especializada no setor de energia. Em 2023, seu negócio de gás - através da Al Shola Gas - registou receitas de 11 milhões de dólares e um lucro líquido de 1,8 milhões de dólares. Até setembro, as receitas e os lucros aumentaram já 19,5% e 12,4%, respetivamente, em comparação com os mesmos nove meses do ano passado, refere a empresa em comunicado.
A Al Shola Gas tem atualmente cerca de 40.000 clientes em todo o Médio Oriente, entre os quais a Emirates Airlines, Emaar Properties, Governo de Dubai, Dubai Properties, WASL Group e muitos outros.
"Através desta transação, a Fusion Fuel pretende integrar no seu portefólio receitas de mercados já com procura existente e comprovada. Prevê-se que a aquisição produza sinergias significativas, especialmente entre os serviços especializados de engenharia de hidrogénio da Fusion Fuel e as competências da QIND em toda a cadeia de valor de gás e serviços públicos. Esta aquisição criará novas oportunidades para a QIND expandir as suas ofertas nos mercados europeus, e permitirá também à Fusion Fuel alargar os seus serviços de hidrogénio ao Médio Oriente, uma região que regista um crescimento na procura e um investimento significativos", explicou a Fusion Fuel no mesmo comunicado.
O CEO frisa que a "estratégia é criar uma empresa virada para o presente, a pensar no futuro. Embora o mercado do hidrogénio verde se tenha desenvolvido mais lentamente do que o previsto, a procura pelos nossos serviços de engenharia e consultoria continua forte. Ao adquirir a QIND, estamos a estabelecer uma base rentável que nos permitirá satisfazer as necessidades atuais do mercado, ao mesmo tempo que nos posicionamos para as futuras oportunidades de crescimento a longo prazo que vemos no setor do hidrogénio verde".
John-Paul Backwell, CEO da QIND, disse: "Reconhecemos uma oportunidade estratégica na integração de competências das duas empresas. Esta colaboração permitir-nos-á fornecer um conjunto abrangente de serviços que vão ao encontro das necessidades energéticas atuais, ao mesmo tempo que estabelecemos as bases para um futuro de crescimento sustentável".
Na sexta-feira passada a Fusion Fuel anuncipou ao mercado que a sua em Portugal – responsável pela parte mais significativa do desenvolvimento e produção de tecnologia de eletrolisadores da empresa – entrou com pedido de insolvência depois de ter falhado o investimento de 33,5 milhões de dólares conreratados com a empresa Hydrogenial, detida a 100% pelo empresário alemão Norbert Bindner, que tem residência na Suíça e em Portugal.
"A administração vê esta etapa como uma oportunidade para recalibrar a sua estratégia de negócio para melhor se alinhar com as condições atuais do mercado. No curto prazo, a empresa concentrar-se-á em melhorar as suas ofertas de consultoria e engenharia de hidrogénio, ao mesmo tempo que dá prioridade à integração dos serviços de gás recém-adquiridos. Esta abordagem permitirá à Fusion Fuel capitalizar eficazmente a procura dos clientes nos setores de energia tradicional e limpa", justifica a empresa em comunicado.
Como parte do negócio, John-Paul Backwell, CEO da QIND, passará a integrar o Conselho de Administração da Fusion Fuel.