Notícia
"Tudo em todo o lado ao mesmo tempo" conquista Hollywood com sete Óscares
Era um dos favoritos e levou para casa sete estatuetas, incluindo Melhor Filme e Melhor Realização. O português "Ice Merchants" não conseguiu conquistar o Óscar de Melhor Curta de Animação
13 de Março de 2023 às 07:51
"Tudo em todo o lado ao mesmo tempo" foi o grande vencedor de uma noite de Óscares histórica, ao levar sete estatuetas que incluíram Melhor Filme, Melhor Realização, Melhor Atriz Principal, Melhor Atriz Secundária e Melhor Ator Secundário.
Foi o filme mais premiado desde "Quem quer ser bilionário", em 2008, e consagrou Michelle Yeoh como a primeira asiática a ganhar o Óscar de Melhor Atriz Principal. Também deu a Jamie Lee Curtis o seu primeiro Óscar e premiou Ke Huy Quan com Melhor Ator Secundário, apenas o segundo asiático de sempre a ganhar esta categoria.
"Este é um momento histórico", afirmou Michelle Yeoh na sala de entrevistas, após a vitória, dizendo que "quebrou o teto de vidro" com um movimento de Kung-Fu.
"Isto é para todos os que foram identificados como minorias", considerou a atriz. "Nós merecemos ser ouvidos, merecemos ser vistos e ter oportunidades iguais, para podermos ter um lugar à mesa", continuou. "Deixem-nos provar que nós valemos a pena". Yeoh venceu contra 'pesos-pesados' como Cate Blanchett ("Tár") e Michelle Williams ("Os Fabelmans").
Urgindo todos os que têm sonhos a "acender esse fogo na alma", Yeoh, de 60 anos, também mandou um recado aos que têm preconceitos contra as mulheres após uma certa idade. "Não deixem que vos ponham dentro de uma caixa, que vos digam que já não estão no auge", afirmou.
A importância da representação e reconhecimento de atores asiáticos também foi abordada por Ke Huy Quan, que venceu um Óscar depois de andar afastado da indústria durante décadas por falta de oportunidades.
"Quando comecei a representar em criança, lembro-me de o meu agente me dizer que seria mais fácil se eu tivesse um nome que soasse americano", disse Ke Huy Quan. Foi por isso que na fase inicial da carreira o seu nome aparecia como Jonathan Ke Quan.
"Quando decidi voltar à representação há três anos, a primeira coisa que quis fazer foi regressar ao meu nome de nascimento", explicou.
Quan foi o vencedor mais exuberante da noite na sala de entrevistas, para onde entrou aos saltos e a gritar de alegria. "Conseguem acreditar que estou a segurar uma [estatueta] destas na mão?", perguntou. "Isto é tão surreal".
Pelos bastidores também passaram os 'dois Daniéis', a dupla de realizadores responsável por "Tudo em todo o lado ao mesmo tempo", que levaram para casa a estatueta de Melhor Argumento Original, Melhor Realização (batendo Steven Spielberg) e Melhor Filme.
"Estamos numa crise de saúde mental, em especial a geração mais jovem, que não tem muito por que ansiar", disse o co-realizador Daniel Kwan. "Há uma desolação que se infiltra", continuou, referindo que ele próprio passou por tempos muito difíceis na adolescência.
"O poder radical e transformador da alegria, do absurdo e de perseguir a nossa felicidade é algo que quero trazer às pessoas", disse, "e este filme é um tiro de alegria, absurdo e criatividade".
O produtor Jonathan Wang acrescentou que a intenção da equipa era que o filme culminasse num abraço caloroso, apesar de ser uma história de caos. "Decidimos dedicar a nossa vida a fazer filmes que são bons e que levam a algo bom, e não apenas a algo que vai obter atenção", afirmou.
A Academia premiou o trabalho de uma forma que já não fazia há muito. São raras noites de consagração para um só filme, com poucas exceções, que incluem "Ben-Hur" em 1959, "Titanic" em 1998 e "O Senhor dos Anéis: O regresso do rei" em 2004, com 11 Óscares cada.
"Há algo tão inspirador em fazer um filme que nos ensina coisas ao longo do caminho", refletiu o co-realizador Daniel Scheinert. Também Paul Rogers, que levou o Óscar de Melhor Edição, sublinhou o incrível sucesso que esta história estranha e surreal teve.
"Vemos muitos filmes que contam histórias sobre certos tipos de pessoas, e tendem a focar-se no homem branco", disse. "E ter esta história linda de uma família emigrante foi incrível".
A história de "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" oscila entre o absurdo e o fantástico, centrando-se numa imigrante chinesa de meia-idade ("Evelyn Wang") que se vê atirada para uma aventura em múltiplos universos e linhas temporais.
O português "Ice Merchants" ficou sem estatueta
O primeiro filme português a ser nomeado pela Academia, "Ice Merchants", não ganhou o Óscar na cerimónia desta madrugada mas a 'curta' de João Gonzalez e Bruno Caetano deixou a sua marca em Hollywood.
Numa categoria com fortes concorrentes, o Óscar foi entregue, como se esperava, a "The Boy, the Mole, the Fox and the Horse", distribuído pela Apple TV+, com produção executiva de J.J. Abrams.
Nos bastidores da cerimónia, o escritor-realizador Charlie Mackesy elogiou os outros nomeados em resposta a uma pergunta da Lusa.
"Os outros filmes são extraordinários e adorei vê-los. E conheci todos [os cineastas]", afirmou Mackesy. "Uma das coisas brilhantes de estar nos Óscares é conhecer outros cineastas e ouvi-los falar dos seus filmes, a animação e os atores são extraordinários".
A curta foi baseada na história escrita por Mackesy e teve uma equipa de mais de uma centena de animadores, uma estrutura poderosa em comparação com os dois animadores que criaram "Ice Merchants".
O realizador considerou, após a vitória, que a magia da animação é ser um meio que permite fazer tudo o que quisermos.
"É uma espécie de paisagem maciça de possibilidades", caracterizou, referindo que este foi o seu primeiro filme.
O português João Gonzalez já tinha referido à Lusa, na antecâmara dos Óscares, que esta era a curta-metragem favorita à vitória, juntamente com "My Year of Dicks".
Gonzalez referiu nessa altura que a nomeação de "Ice Merchants" já era uma vitória e o produtor Bruno Caetano salientou a quantidade de pessoas que viram e elogiaram a curta, incluindo a lenda da animação da Disney, Glen Keane, que moderou um painel com os portugueses na Semana dos Óscares.
"Ice Merchants" foi o primeiro filme português a ser nomeado para os Óscares e recebeu apoio do Ministério da Cultura para a campanha de promoção em Los Angeles nas semanas que antecederam a cerimónia da Academia. Foi produzido pela cooperativa portuguesa Cola Animation, em coprodução com França e Reino Unido, e teve um orçamento de cerca de 100.000 euros.
A 95.ª cerimónia dos prémios da Academia decorreu esta noite no Dolby Theatre, em Los Angeles.
Foi o filme mais premiado desde "Quem quer ser bilionário", em 2008, e consagrou Michelle Yeoh como a primeira asiática a ganhar o Óscar de Melhor Atriz Principal. Também deu a Jamie Lee Curtis o seu primeiro Óscar e premiou Ke Huy Quan com Melhor Ator Secundário, apenas o segundo asiático de sempre a ganhar esta categoria.
"Isto é para todos os que foram identificados como minorias", considerou a atriz. "Nós merecemos ser ouvidos, merecemos ser vistos e ter oportunidades iguais, para podermos ter um lugar à mesa", continuou. "Deixem-nos provar que nós valemos a pena". Yeoh venceu contra 'pesos-pesados' como Cate Blanchett ("Tár") e Michelle Williams ("Os Fabelmans").
Urgindo todos os que têm sonhos a "acender esse fogo na alma", Yeoh, de 60 anos, também mandou um recado aos que têm preconceitos contra as mulheres após uma certa idade. "Não deixem que vos ponham dentro de uma caixa, que vos digam que já não estão no auge", afirmou.
A importância da representação e reconhecimento de atores asiáticos também foi abordada por Ke Huy Quan, que venceu um Óscar depois de andar afastado da indústria durante décadas por falta de oportunidades.
"Quando comecei a representar em criança, lembro-me de o meu agente me dizer que seria mais fácil se eu tivesse um nome que soasse americano", disse Ke Huy Quan. Foi por isso que na fase inicial da carreira o seu nome aparecia como Jonathan Ke Quan.
"Quando decidi voltar à representação há três anos, a primeira coisa que quis fazer foi regressar ao meu nome de nascimento", explicou.
Quan foi o vencedor mais exuberante da noite na sala de entrevistas, para onde entrou aos saltos e a gritar de alegria. "Conseguem acreditar que estou a segurar uma [estatueta] destas na mão?", perguntou. "Isto é tão surreal".
Pelos bastidores também passaram os 'dois Daniéis', a dupla de realizadores responsável por "Tudo em todo o lado ao mesmo tempo", que levaram para casa a estatueta de Melhor Argumento Original, Melhor Realização (batendo Steven Spielberg) e Melhor Filme.
"Estamos numa crise de saúde mental, em especial a geração mais jovem, que não tem muito por que ansiar", disse o co-realizador Daniel Kwan. "Há uma desolação que se infiltra", continuou, referindo que ele próprio passou por tempos muito difíceis na adolescência.
"O poder radical e transformador da alegria, do absurdo e de perseguir a nossa felicidade é algo que quero trazer às pessoas", disse, "e este filme é um tiro de alegria, absurdo e criatividade".
O produtor Jonathan Wang acrescentou que a intenção da equipa era que o filme culminasse num abraço caloroso, apesar de ser uma história de caos. "Decidimos dedicar a nossa vida a fazer filmes que são bons e que levam a algo bom, e não apenas a algo que vai obter atenção", afirmou.
A Academia premiou o trabalho de uma forma que já não fazia há muito. São raras noites de consagração para um só filme, com poucas exceções, que incluem "Ben-Hur" em 1959, "Titanic" em 1998 e "O Senhor dos Anéis: O regresso do rei" em 2004, com 11 Óscares cada.
"Há algo tão inspirador em fazer um filme que nos ensina coisas ao longo do caminho", refletiu o co-realizador Daniel Scheinert. Também Paul Rogers, que levou o Óscar de Melhor Edição, sublinhou o incrível sucesso que esta história estranha e surreal teve.
"Vemos muitos filmes que contam histórias sobre certos tipos de pessoas, e tendem a focar-se no homem branco", disse. "E ter esta história linda de uma família emigrante foi incrível".
A história de "Tudo em Todo o Lado ao Mesmo Tempo" oscila entre o absurdo e o fantástico, centrando-se numa imigrante chinesa de meia-idade ("Evelyn Wang") que se vê atirada para uma aventura em múltiplos universos e linhas temporais.
O português "Ice Merchants" ficou sem estatueta
O primeiro filme português a ser nomeado pela Academia, "Ice Merchants", não ganhou o Óscar na cerimónia desta madrugada mas a 'curta' de João Gonzalez e Bruno Caetano deixou a sua marca em Hollywood.
Numa categoria com fortes concorrentes, o Óscar foi entregue, como se esperava, a "The Boy, the Mole, the Fox and the Horse", distribuído pela Apple TV+, com produção executiva de J.J. Abrams.
Nos bastidores da cerimónia, o escritor-realizador Charlie Mackesy elogiou os outros nomeados em resposta a uma pergunta da Lusa.
"Os outros filmes são extraordinários e adorei vê-los. E conheci todos [os cineastas]", afirmou Mackesy. "Uma das coisas brilhantes de estar nos Óscares é conhecer outros cineastas e ouvi-los falar dos seus filmes, a animação e os atores são extraordinários".
A curta foi baseada na história escrita por Mackesy e teve uma equipa de mais de uma centena de animadores, uma estrutura poderosa em comparação com os dois animadores que criaram "Ice Merchants".
O realizador considerou, após a vitória, que a magia da animação é ser um meio que permite fazer tudo o que quisermos.
"É uma espécie de paisagem maciça de possibilidades", caracterizou, referindo que este foi o seu primeiro filme.
O português João Gonzalez já tinha referido à Lusa, na antecâmara dos Óscares, que esta era a curta-metragem favorita à vitória, juntamente com "My Year of Dicks".
Gonzalez referiu nessa altura que a nomeação de "Ice Merchants" já era uma vitória e o produtor Bruno Caetano salientou a quantidade de pessoas que viram e elogiaram a curta, incluindo a lenda da animação da Disney, Glen Keane, que moderou um painel com os portugueses na Semana dos Óscares.
"Ice Merchants" foi o primeiro filme português a ser nomeado para os Óscares e recebeu apoio do Ministério da Cultura para a campanha de promoção em Los Angeles nas semanas que antecederam a cerimónia da Academia. Foi produzido pela cooperativa portuguesa Cola Animation, em coprodução com França e Reino Unido, e teve um orçamento de cerca de 100.000 euros.
A 95.ª cerimónia dos prémios da Academia decorreu esta noite no Dolby Theatre, em Los Angeles.