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"Think tank" Negócios/Banco Popular Portugal: Automóvel alerta para políticas que afectam dinamismo

Há vários investimentos anunciados na indústria automóvel. As vendas estão, por outro lado, a crescer. Mas todo o sector se une nos alertas para os constrangimentos que sentem no dia-a-dia e na mudança das sociedades.

ACAP, AFIA, Instituto Politécnico e Entreposto foram os convidados do Negócios e Popular para debaterem o sector automóvel. Inês Lourenço
10 de Janeiro de 2017 às 12:01
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O parque automóvel português está a tornar-se, de novo, envelhecido. As políticas públicas não privilegiam, pelo contrário penalizam, a propriedade de automóvel. Um sector que está pressionado com as novas tecnologias que, ainda assim, admite estar aqui uma oportunidade. Factores que condicionam a venda, mas também pode condicionar a produção de automóveis. Mas os dados são, hoje, mais animadores. E Portugal está a crescer nos veículos eléctricos. Além disso, tem outro fenómeno a seu favor. "Do mercado que entra em circulação anualmente, o nosso tem dos níveis médios mais baixos de emissões", "abaixo, até, dos objectivos definidos para 2020", avança Hélder Pedro, secretário-geral da ACAP, apesar de acrescentar que Portugal tem, no conjunto, de baixar as emissões. E um dos instrumentos para o conseguir é não penalizar a venda dos carros, nomeadamente ao nível de impostos. Isso permitirá reduzir níveis de emissão, ao renovar-se o parque automóvel que está, hoje, novamente envelhecido. Está numa média de 12,4 anos, quando já esteve nos 7,5 anos. Acima dos 10 anos é considerado um parque envelhecido. Há carros que chegam ao centro de abate com 20 anos. Em 2011, a média com que chegavam ao centro para abater era de 15,6 anos.

A indústria andou perto das 300 mil unidades, estando agora em menos de metade. Apesar da confiança na inversão de queda, Hélder Pedro lembra alguns condicionalismos: rigidez laboral, não ajustada aos picos de produção, mas também a concorrência crescente já não apenas da Europa de Leste, mas também do Norte de África ao nível da instalação de fábricas.

E os incentivos ao abate terminaram em Portugal. Permitiu-se incentivar a compra de eléctricos ou "plug in", mas não chega. Os eléctricos ainda têm vendas baixas, apesar dos expressivos números de crescimento. "Ainda têm pouco peso." Há 1.900 carros eléctricos a circular e 750 "plug in". Sabe-se que hoje há um incentivo - não apenas monetário - à aquisição deste tipo de automóveis. Há, lembram os responsáveis, uma discriminação positiva para este tipo de carros, eléctricos ou híbridos e as políticas públicas vão continuar a fazer esse caminho, acredita-se. Dá-se como exemplo o caso de Xangai, onde existem leilões para se conseguir matrículas de carros a combustão. As licenças podem atingir os 10 mil euros (há quem lembre que em Singapura pode chegar aos 50 mil), mas para os automóveis eléctricos a matrícula é dada na hora.

Revoluções mais ou menos silenciosas têm contribuído para mudar todo este sector.

São desafios para os quais o sector vai chamando a atenção, lembrando que está sujeito a outros constrangimentos que deviam ser olhados pelos poderes públicos e regulamentações, nomeadamente ao nível da legislação laboral, da carga fiscal ou em algo que parece simples: a classificação das portagens. Está, dizem os responsáveis, desactualizada e é mais uma forma de penalizar quem tem carro.

E penalizar "tanto" a propriedade de automóveis pode significar, também, penalizar a indústria, com as consequências que daí podem advir.

Produção vai recuperar?

Os dados da indústria mostraram até final de Outubro do ano passado uma quebra na produção automóvel em Portugal. O sector, explica Hélder Pedro, é sazonal, mas a descida de Outubro de 21% - e que resultou numa queda consecutiva de dez meses - tem que ver com os ciclos de produção de linhas. O secretário-geral da ACAP acredita, no entanto, que em 2017 o balanço da produção será melhor já que surgirão novos ciclos de produção, o que implicará, por outro lado, o aumento da procura nos mercados a que esses produtos se destinam.


Comércio está a crescer, mas longe do ano estrela

Portugal já vendeu 400 mil veículos num só ano. Decorria o ano 2000. Agora está em metade. Dificilmente voltará a atingir os valores de 2000, admitem os agentes do sector. Miguel Félix António, do Entreposto, acredita que "voltar a 2000 será difícil e não é apenas pelo poder de compra. É pelas mudanças com que o mundo e a sociedade estão confrontados."

A nova geração, nascida no milénio ("millennials"), tem a sua quota-parte de responsabilidade, já que é um grupo etário que quer mobilidade, pelo que prefere a economia da partilha e conceitos mais baratos. Hoje até o avião é um concorrente ao carro.

Não é por ter mais pontos de venda que se vende mais. (...) Temos a convicção de que há operações a mais para a dimensão do mercado nacional. Miguel Félix António
Grupo Entreposto


Se isto está a acontecer com esta geração, certo é que as marcas consideradas "premium" começam hoje a ter um peso como nunca tinham conseguido. Há ainda quem veja o automóvel como uma jóia, acreditam os responsáveis do sector que lembram, por outro lado, que hoje com a facilidade de aquisição - nomeadamente ao nível do crédito - as pessoas conseguem ter acesso a veículos que antes não tinham. Além disso, hoje, "já não compram o carro que lhes querem vender, mas querem um especificado. É um pouco como deixar de comprar no pronto-a-vestir e ir, antes, ao alfaiate. A exigência é também maior.

"Há de facto muitos desafios", acredita Nuno Martinho que se prepara, a nível de ensino, para eles.

Se os números estão longe dos anos 2000, o ano de 2016 representou, no entanto, uma subida face ao anterior. "Temos ainda espaço para crescimento", admite Miguel Félix António, que, no entanto, acredita que o mercado ajustará em valores mais baixos do que os conseguidos em 2000. É por isso que o sector acredita que o número de espaços a venderem automóveis é acima do necessário. "Não é por ter mais pontos de venda que se vende mais", sustenta, explicando que também nesta área há novos desafios, como o canal digital a retirar pessoas dos "stands" que são cada vez mais pontos de entrega de veículos. "Temos a convicção de que há operações a mais para a dimensão do mercado", considera.

A nível de saúde financeira do sector, há, de acordo com Carlos Álvares, presidente do Banco Popular Portugal, feridas a sarar. No segmento do comércio a autonomia financeira é baixa e a dívida líquida sobre EBITDA está nos 5%, mas já chegou a estar nos 20%, com encargos financeiros que estão nos 30%, mas que já chegaram a ser superior ao EBITDA. "Há empresas fantásticas, mas a média ainda não é muito boa, precisa de dois ou três anos para ganhar músculo." Com a melhoria do sector, a banca estará mais atenta, assegura.



Sector quer aumentar incorporação nacional 

A indústria de componentes orgulha-se do crescimento que tem conseguido nos últimos anos, atingindo já um volume de vendas de nove mil milhões de euros, sendo 85% para exportação. Adolfo Silva, director da associação que representa este sector (AFIA), vai dizendo que, por isso, os investimentos anunciados ao nível dos construtores começam, cada vez menos, a ter um impacto grande nos componentes. Já que a maior parte das empresas deste segmento já trabalha para o exterior. A produção de veículos em Portugal é, pois, "uma pequena fracção do que servimos". Afinal, "provavelmente", em cada dois veículos vendidos a nível mundial um tem pelo menos um componente produzido em Portugal.

E o objectivo da indústria é, mesmo, aumentar a incorporação nacional que, nos componentes, varia entre os 22 e os 45% das vendas das empresas, dependendo da área de actividade que se esteja a considerar.

Adolfo Silva vai lembrando que os construtores em Portugal não têm dimensão para absorver o volume de negócios que a indústria de componentes já tem. "O mercado nacional é pequeno demais para a indústria [de componentes] que está instalada", assegura o responsável da AFIA. O mercado interno absorve 15/16% da produção de componentes, mas o resto é exportado, sendo os primeiros mercados ainda na Europa - Espanha, Alemanha, França e Inglaterra. Já vai havendo exportações para outras localizações, mas ainda são diminutas, até porque as grandes centrais de compras dos fabricantes estão na Europa.

Este é um sector reconhecidamente de exportação, embora nem sempre a balança comercial acabe positiva. Aliás, quer ao nível dos construtores, quer dos componentes, Hélder Pedro garante que "Portugal é considerado um país de indústria automóvel, que é uma das mais importantes da União Europeia, quer ao nível do emprego, do investimento em investigação e de-senvolvimento, etc". A tradição industrial de Portugal vem desde os anos 60, altura em que houve a lei de montagem dos automóvel.

Agora é altura de se falar nas mudanças que aí estão à porta. Há mesmo quem assuma que esta indústria está a entrar num novo paradigma, com o conceito automóvel a mudar radicalmente e "quando se muda de paradigma o relógio volta a zero. As oportunidades vão estar aí."



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