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Sonae Capital tem prejuízos de 12 milhões mas paga 15 milhões em dividendos

Apesar de ter duplicado os prejuízos para 12,3 milhões de euros em 2019, a Sonae Capital vai voltar a remunerar fortemente os acionistas. No total, vai distribuir 15 milhões de euros, o que corresponde a um dividendo líquido de seis cêntimos por ação.

Miguel Gil Mata, CEO da Sonae Capital. Paulo Duarte/Negócios
23 de Fevereiro de 2020 às 21:57
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O facto de ter voltado a fechar um exercício no vermelho, com prejuízos de 12,3 milhões de euros em 2019, duplicando os seis milhões negativos registados no ano anterior, não fez a Sonae Capital retrair-se na decisão de repetir a receita dos últimos anos em matéria de remuneração dos seus acionistas.

 

"O conselho de administração irá propor, em assembleia geral anual de acionistas, a distribuição de dividendos no valor de 15 milhões de euros, equivalentes a um dividendo ilíquido de 0,060 euros por ação", revela a Sonae Capital, este domingo, 23 de fevereiro, em comunicado enviado à Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

 

Este valor corresponde a um "dividend yield" de 8% relativamente à cotação de fecho do dia 31 de Dezembro de 2019 (que se fixou em 0,753 euros) e representa um ligeiro decréscimo face aos 7,4 cêntimos distribuídos no ano passado.

 

"O resultado líquido deste ano [2019] evoluiu de forma negativa, impactado pelo reconhecimento de uma menos-valia relacionada com a alienação da RACE e pela ausência de vendas significativas de ativos Imobiliários sobre os quais, no entanto, mantemos boas perspetivas de curto prazo", explica o CEO da Sonae Capital, Miguel Gil Mata, na mensagem que integra o comunicado da empresa.

 

A venda da RACE por 15,8 milhões de euros, em novembro passado, resultou numa perda contabilística para a Sonae Capital, que comunicou, na altura, que "esta transação representará um impacto de menos 9,4 milhões de euros nos capitais próprios".

 

Excluindo o efeito contabilístico "non cash" associado à venda da RACE, a empresa controlada maioritariamente pela Efanor - "holding" da família Azevedo - garante, obviamente, que "a evolução do resultado líquido em 2019 teria sido positiva face ao ano anterior".

 

Já em termos operacionais, a Sonae Capital teve um desempenho bastaste positivo no último exercício, com o EBITDA (resultado antes de impostos, juros, depreciações e amortizações) das unidades de negócio a crescerem 8,9% para 35,3 milhões de euros, destacando-se a unidade de ativos imobiliários, que aumentou 17,3%, para 10,1 milhões de euros.

 

Esta forte melhoria da rentabilidade operacional traduziu-se num EBITDA consolidado de 38,1 milhões de euros, mais 9,9% face ao registado no ano anterior.

 

Fruto de uma estratégia de crescimento ao longo do ano de 2019, de forma orgânica e através de aquisições, a faturação consolidada da Sonae Capital atingiu 299,5 milhões de euros, o que representou de 27,3% em relação a 2018, com o volume de negócios das unidades de negócio do grupo a situar-se em 269 milhões de euros, mais 46,5% do que no ano anterior.

 

O investimento da Sonae Capital em 2019 teve um crescimento homólogo de 58,6% para 51,7 milhões de euros, com destaque para o segmento de energia, nomeadamente no projeto de desenvolvimento da central de cogeração alimentada a biomassa - no valor de 27,4 milhões de euros - e na aquisição da Futura Energía Inversiones (6,2 milhões de euros), assim como do investimento realizado no segmento de fitness, que inclui a aquisição da cadeia Urban Fit.

 

"Não obstante o investimento de 51,7 milhões de euros e a distribuição de dividendos no valor de 18,5 milhões de euros", realça Miguel Gil Mata, "a dívida financeira Líquida atingiu 141,2 milhões de euros no final de dezembro de 2019", contra 120 milhões de euros um ano antes.

 

Forte nos ginásios, energia e hotelaria, em baixo na engenharia industrial

 

Com a exceção do segmento de engenharia industrial, todos as restantes unidades de negócio da Sonae Capital registaram uma forte performance no ano passado.

 

No segmento de fitness, adquiriu a rede Urban Fit, posteriormente reposicionada como Pump, tendo agora um total de 37 ginásios, que geraram em 2019 um volume de negócio de 41,3 milhões de euros, mais 14,2% do que em 2018, tendo o EBITDA consolidado atingido os 12,7 milhões de euros, o que representa um crescimento homólogo de 16,1%.

 

Na área da energia, destacando-se aqui a compra da espanhola Futura Energía Inversiones, o volume de negócios em 2019 fixou-se em 144,5 milhões de euros, mais do que duplicando os 55,1 milhões do ano anterior.

 

O investimento neste segmento ascendeu a 35,4 milhões de euros, "em virtude, principalmente, do desenvolvimento da nova central termoelétrica de cogeração alimentada a biomassa florestal, no total de 27,4 milhões de euros", enfatiza a Sonae Capital.

 

No segmento de hotelaria, a faturação aumentou 16,4% para 27,7 milhões de euros, enquanto  o EBITDA cresceu 56,1% para 6,7 milhões de euros, traduzindo a melhoria da rentabilidade em todas as operações, com o EBIT a ascender "ao valor recorde" de 1,7 milhões de euros, mais do que duplicando face ao valor de 600 mil euros gerado em 2018.

 

No Troia Resort, o volume de negócios foi de 12,3 milhões de euros em 2019, 7,4% acima de 2018, e o EBITDA situou-se em 1,7 milhões de euros, registando uma melhoria homóloga de 92,6.

 

Na unidade de ativos imobiliários da Sonae Capital, que no final de 2019 estavam avaliados em 324,6 milhões de euros, destaque para o Troia Resort, segmento que inclui unidades turísticas residenciais já desenvolvidas e lotes para construção na Península de Tróia.

 

Do total de 546 unidades turísticas residenciais desenvolvidas, o número de unidades disponíveis para venda à data deste reporte era de 61, descontando as reservas e contratos de promessa de compra e venda em carteira.

 

Neste segmento, por conta do Troia Resort, faturou 20,9 milhões de euros no ano passado, mais 12,6% do que no ano anterior, em resultado sobretudo da realização de 33 escrituras de unidades turísticas residenciais, correspondentes a 16,8 milhões de euros.

 

Já a unidade de "outros ativos imobiliários" faturou 19,6 milhões de euros.

 

O ponto negativo na performance da Sonae Capital em 2019 tem a assinatura do segmento de engenharia industrial, leia-se a empresa Adira, que faturou menos 17,9% em 2019 face a 2018, fixando-se em 9,8 milhões de euros.

 

"Um valor que traduz principalmente um desempenho desfavorável ao nível do número de encomendas, que será superado no curto prazo e virá a refletir-se positivamente no volume de negócios", promete a empresa liderada por Miguel Gil Mata, destacando que a Adira assinou um contrato com a Mitsubishi para o fornecimento, em exclusividade, de máquinas quinadoras e guilhotinas nos mercados dos Estados Unidos da América, Canadá e México.

 

"Em velocidade de cruzeiro, este contrato garantirá um incremento significativo no número de máquinas produzidas", garante a Sonae Capital. "Ao mesmo tempo, é de realçar que este contrato surge como alavanca de entrada nestes mercados, onde a penetração da Adira até hoje era pouco expressiva", nota.

 

Aquisições à vista na hotelaria, nos ginásios, na energia e até na engenharia industrial

 

Por último, no capítulo de "perspetivas futuras", os gestores da Sonae Capital prometem continuar "a cumprir o plano de monetização de ativos imobiliários", manifestando-se "particularmente empenhados na venda do Fundo WTC em condições que façam jus ao seu valor intrínseco e na conclusão da efetivação da Venda da Unop 3 [uma das unidades operacionais de Troia]".

 

No segmento de energia, a Sonae Capital equaciona ir novamente às compras, "abraçando novas oportunidades no mercado espanhol", enquanto no México, "onde o conjunto de projetos em análise é já significativo, o principal vetor de crescimento residirá na cogeração".

 

E relembrou que "será já no início do segundo trimestre de 2020 o arranque da central termoelétrica alimentada a biomassa florestal residual, em Mangualde, que acrescentará ao segmento um fluxo estável de ‘cash flow’ ao longo dos próximos 25 anos".

 

No negócio do fitness, "manter-nos-emos focados em crescer, dando continuidade a uma estratégia de expansão multi segmento e dando prioridade às áreas metropolitas do Porto e Lisboa", adianta a Sonae Capital, que pretende "liderar de forma inequívoca o mercado de prestação de serviços de atividade física e bem-estar". Isto "ampliando a nossa escala e assegurando a sustentabilidade do segmento", remata.

 

Em hotelaria, promete que os seus gestores continuarão focados em melhorar os indicadores operacionais "que conduzam à melhoria da rentabilidade", assim como "ativos na procura de oportunidades" que permitam ampliar a escala do portfólio da empresa neste negócio, "numa lógica de ‘capital light’ e, por outro, atentos a potenciais movimentos de consolidação".

 

Já no segmento de engenharia Industrial, "não obstante as dificuldades encontradas na Adira", a Sonae Capital mantém "o propósito de investir na criação de um cluster de empresas de base tecnológica, com forte vocação exportadora e alavancadas nas competências da engenharia portuguesa".

 

"Numa perspetiva de curto prazo, poderemos efetuar aquisições que, não sendo materialmente relevantes em dimensão, visam melhorar o segmento numa lógica de ‘build-up’", admite a Sonae Capital.

 

Por fim, o grupo liderado por Miguel Gil Mata promete que continuará focado "em manter os níveis de endividamento adequados à tipologia de negócios e ativos detidos pela Sonae Capital".

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