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Nacionalizações juntaram as fatias que fizeram a Galp

Manuel Boullosa é o empresário que no pré-25 de Abril começou a criar o grupo. Ficará como o homem do petróleo em Portugal. E voltou à empresa depois da privatização.

Correio da Manhã
23 de Abril de 2014 às 00:01
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A génese da Galp, tal como a própria empresa assume no seu site, remonta ao século XIX, quando, em 1846, Lisboa começa a ser iluminada por candeeiros a gás. A evolução de fontes de energia resultou também na criação de várias empresas que só depois do 25 de Abril deram origem a uma grande entidade, a Petrogal.

 

A cobiça veio, no entanto, a aprofundar-se no século XX e, como em todos os negócios a partir dos anos 30, tinha famílias poderosas por trás. Este sector dos petróleos criou a coligação entre o empresário de origem galega Manuel Boullosa e Manuel Queiroz Pereira que, segundo conta Filipe S. Fernandes no livro "Fortunas & Negócios", "tinham raciocínios muito semelhantes e nos negócios eram complementares. Enquanto Manuel Boullosa era intuitivo, criativo e audaz na promoção dos negócios, Manuel Queiroz Pereira trazia a cautela e a serenidade". Ambos tinham um acordo: participarem nos negócios conjuntos com as mesmas posições.

 

Depois de iniciarem as importações de petróleo de Hamburgo resolveram, em 1933, criar a Sonap (Sociedade Nacional de Petróleo), onde cada um tinha 20% e a Stua Française ficava com 60%. Mas o Estado de Salazar optou por criar concorrência. A Sacor nasceu da ideia de construir em Portugal uma refinaria de petróleo. Em 1938 foi concedido alvará para esse empreendimento, em Cabo Ruivo, à empresa com capitais romenos Redeventza, da família Martin Sain, que se associou ao Instituto Português de Combustíveis. A refinaria teria exclusividade de 10 anos e, segundo contam os autores do livro “Os Donos de Portugal” (Jorge Costa, Luís Fazenda, Cecília Honório, Francisco Louçã e Fernando Rosas), metade do mercado de combustíveis, associando-se ao Banco Espírito Santo.

 

Entretanto a Sonap via os seus dois accionistas separarem-se e, em 1963, Manuel Boullosa alia-se à rival Sacor, cruzando participações. Esta aliança garantiu a licença para uma segunda refinaria, desta feita a Norte. E foi nesta altura que a família Mello, detentora da CUF, mostrou interesse em, também ela, entrar no negócio do petróleo. Falhou a refinaria, mas acabou por entrar no início dos anos 70 na Sonap e associar-se a Manuel Boullosa para a construção da refinaria a sul, a Petrosul. Em 1971 foi concedida a este consórcio a exploração do complexo petroquímico de Sines. Projecto adiado pelos acontecimentos dos anos seguintes, que ficaram para a história pela crise do petróleo mundial e, em 1974, em Portugal, pelo 25 de Abril. A refinaria de Sines só começaria a produzir em 1978.

 
38,34%
A Amorim Energia detém 38,34% da Galp. Este accionista é participado por Amorim, Isabel dos Santos e Sonangol.

Alianças que se desfizeram com as nacionalizações de 1975, que puseram nas mãos do Estado a Sacor, a Sonap, a Petrosul e a Cidla (empresa de gás da Sacor). A fusão destas companhias, no ano seguinte, deu origem à Petrogal que em 1977 resolve entrar no negócio de pesquisa e exploração petrolífera. Totalmente detida pelo Estado, avançou no petróleo e no gás. Até que chegou o momento de se privatizar.

 

O processo iniciou-se em 1999 com a abertura do capital da Petrogal e Transgás à Petrocontrol, EDP, Caixa Geral de Depósitos, Portgás e Setgás. A Petrocontrol permitiria que a empresa voltasse a accionistas que tinham sido os seus donos antes da nacionalização. O núcleo, que reunia Manuel Boullosa, Grupo Espírito Santo, Banco Totta, Grupo Mello, Américo Amorim, Parfil, Fundação Oriente e Patrick Monteiro de Barros, acabaria por vender a sua posição à Eni que ainda hoje se mantém no capital da sociedade.

 

Os últimos anos trouxeram reformulações accionistas à empresa, à qual regressou Américo Amorim, um empresário que é hoje considerado o homem mais rico de Portugal e que soube aproveitar as nacionalizações. 

 

 
Quem manda hoje na Galp

A Galp é, hoje, a maior empresa do país, sendo igualmente a principal exportadora. Uma empresa que continua a ser cobiçada, como sempre foi ao longo da sua história. A Galp tem como principais accionistas Américo Amorim, que se associou a interesses angolanos: Isabel dos Santos e Sonangol. Os italianos Eni estão de saída e o Estado continua com uma posição de 7% pela existência de obrigações convertíveis. O capital público sairá quando estes títulos chegarem à sua maturidade.

 

A Galp, tal como é hoje, foi constituída em 1999, para explorar o negócio de petróleos e gás natural, agrupando a Petrogal e a Gás de Portugal, de quem, posteriormente, venderia os activos relativos à infra-estrutura de distribuição em alta pressão de gás natural que, em 2006, passou para a REN.

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