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"Deveriam ser proibidas as empresas que só pensam em Portugal"

Se tivesse esse poder, António Murta não hesitaria em "proibir empresas que só pensam em Portugal". O fundador da Enabler, que foi adquirida em 2006 pela indiana Wipro, puxa pela memória e confessa: "Chamavam-me louco".

19 de Novembro de 2009 às 19:24
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Se tivesse esse poder, António Murta não hesitaria em “proibir empresas que só pensam em Portugal”. O fundador da Enabler, que foi adquirida em 2006 pela indiana Wipro, puxa pela memória e confessa: “Chamavam-me louco”.

Era precisamente em Portugal, mas na selecção, porém, que a maioria dos pensamentos da assistência se encontrava. A conversa de Murta convergiu para lá: “A sorte de Portugal no jogo com a Bósnia não serve para nada: o que é preciso é marcar golos”.

A discussão sobre “A Ciência e a Tecnologia na internacionalização da Região Norte”, se prometia aflorar regionalismos e a importância científica na internacionalização do Norte do país, foi monopolizada pelo passado e presente económico da região, na sua vertente empresarial. A Reitoria da Universidade do Minho foi a anfitriã do encontro, realizado ontem à noite.

Apesar de ter sido o responsável pelo “grande avanço do país nos anos 70, por ter produtos exportáveis e transaccionáveis”, o Norte não evoluiu como, por exemplo, a vizinha região da Galiza, cujo contributo para o PIB tem aumentado. Para Braga da Cruz, ministro da Economia no governo de Guterres e actual presidente do Conselho Geral da Universidade do Minho, a “selectividade galega” devia servir de exemplo à região Norte.

“Temos de perder complexos de inferioridade, deixar de ser os coitadinhos”, avisou António Murta. A competitividade, mais um termo a fazer a ponte para a partida da Bósnia, marcou, do início ao fim, a intervenção do empresário. “Uma vez ia perdendo um contrato em Inglaterra por fazer um preço muito baixo”, aludiu, salientando que com o preço que fez, 200 mil euros, rivalizava o “milhão e meio de libras da proposta da IBM”.

A qualificação para o Mundial África do Sul 2010 estava iminente, mas Murta não desarmou: “Os próximos anos vão ser particularmente dolorosos”. A justificação assenta na actual situação da economia: os juros e o endividamento ainda vão subir e os estímulos à economia vão acabar... pelo que não, “não estamos a sair da crise”.

“O futuro reside na excelência do ensino”, previu o ministro Mariano Gago, também presente no debate. A internacionalização da ciência, tecnologia e investigação científica é um importante passo, já atingido: “A nível europeu, só a Finlândia iguala a internacionalização da comunidade científica portuguesa”. O desafio é, agora, “a abertura”.

“Por vezes nem eu acreditava, e chamavam-me louco”. António Murta confessa que quando iniciou a Enabler, e tinha a pretensão de servir os melhores retalhistas do mundo, havia poucos indicadores de que era possível ter sucesso. Ter ido para “onde está o dinheiro – Estados Unidos e Inglaterra” foi o factor decisivo. A Enabler foi comprada em 2006 pelo gigante indiano do sector das Tecnologias de Informação Wipro, designando-se agora Enabler Wipro.

“É preciso criar riqueza – se não há, não se pode distribuir, logo cria-se”, salienta Murta. As atitudes de consumo têm de ser substituídas pelas de investimento, para ser possível crescer e exportar: livrem-se as empresas que só “pensam em Portugal”. Pela sala, as palavras ecoavam e só o tema Angola fez ricochete na audiência, já que o país não é um mercado muito atraente para Murta: não é lá que está o dinheiro.

No jogo ainda estava tudo a zeros. Este perguntava àquele, ia-se prestando atenção ao telemóvel. Sabia-se que no jogo estava tudo a zeros. “É necessário subir na cadeia de valores. Competir não é opção, é obrigação”. Pimba. Golo de Murta, no jogo da internacionalização. No outro, nada de novo. Mal Mariano Gago acabou a sua intervenção, dando início ao debate, metade da sala debandou. Não fosse agora haver golo na Bósnia.

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