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Manuel Frasquilho: "Nunca ninguém me encostou à parede" para subscrever “swaps”
O presidente do Metro de Lisboa de 2000 a 2003 garante que foram as necessidades de financiamento que o levaram a contratar instrumentos de gestão do risco financeiro.
O antigo presidente do Metro de Lisboa, Manuel Frasquilho, disse esta quarta-feira que nunca se sentiu "encostado à parede" por qualquer banco e justificou os oito “swap” contratados durante o seu mandato com as necessidades de financiamento da empresa.
"Nunca senti uma pressão que pudesse classificar como uma chantagem. Nunca ninguém me encostou à parede e nunca permitiria que alguém me viesse chantagear", sublinhou no Parlamento, Manuel Frasquilho, que foi presidente do Metro de Lisboa entre 2000 e 2003.
Na sua intervenção inicial na comissão parlamentar de inquérito à celebração de contratos de gestão de risco financeiro (“swap”) por empresas do sector público, onde está a ser ouvido, Manuel Frasquilho admitiu que "no contexto em que estas empresas [públicas de transportes] eram forçadas a ter de tratar da sua situação financeira, existia naturalmente uma relação referencial com aquelas entidades" [bancos].
Os gestores que têm ido à comissão de inquérito têm-se queixado de que tinham de fazer investimentos mas que, muitas vezes, não havia financiamento adequado ao mesmo. O que os conduziu a uma situação financeira difícil, que deixava o poder nas mãos dos bancos, nomeadamente para imporem a subscrição de instrumentos de gestão do risco financeiro (“swaps” da taxa de juro) quando cediam financiamento.
Manuel Frasquilho confirmou ainda perante os deputados que o Metro de Lisboa contratou durante o seu mandato seis operações de 'swap' sustentadas no financiamento feito pelo Banco Europeu de Investimento (BEI) e duas operações associadas ao material circulante.
"Apenas duas se mantêm em vigor, todas as outras já foram liquidadas por via natural", avançou.
O antigo responsável do Metro de Lisboa manifestou ainda reservas quanto aos cálculos apresentados pelo IGCP - Agência de Gestão da Tesouraria e da Dívida Pública Agência no seu relatório e logo quanto às perdas potenciais estimadas.
"Das oito operações, seis já desapareceram e não sei se fizeram parte desses cálculos e prejuízos. Tenho dúvidas em aceitar de imediato as contas feitas dessa maneira. Não sei se estamos a considerar valores a partir de uma determinada altura", adiantou o ex-responsável, destacando que ainda há que analisar que "há zonas em que se ganha e outras em que perdem".
Manuel Frasquilho explicou ainda aos deputados que todas as operações foram "sempre feitas com base na Euribor" e na perspectiva da sua evolução que, naquela altura, era a de subida.
Não havia referências negativas aos "swaps"
O gestor lembrou que as empresas públicas estão sujeitas a fiscalização normal, da Inspeção-Geral de Finanças e do Tribunal de Contas, sublinhando não se recordar "de ter havido qualquer referência negativa à realização destes 'swap'".
"O Metro de Lisboa produzia os seus relatórios que eram enviados à tutela, nomeadamente aos secretários de Estado dos Transportes e Finanças e eram aprovados", disse, frisando contudo que nunca a tutela, quer técnica quer financeira, teve qualquer intervenção na contratação daqueles produtos. A ideia de que a tutela aprovava os relatórios sem fazer menção aos derivados financeiros é um dos argumentos utilizados pelos restantes gestores que já foram chamados a depor no Parlamento sobre o dossiê "swaps".
De acordo com o relatório do IGCP, as operações de cobertura de risco da taxa de juro do Metro de Lisboa têm perdas potenciais de 1,4 mil milhões de euros, quase metade do valor das perdas de todas as empresas públicas.
O Metro de Lisboa contabilizava, no final de Setembro do ano passado, 66 contratos desta natureza, correspondentes a perdas potenciais de 1,4 mil milhões de euros de um total de 3,3 mil milhões de euros para o universo de empresas do Estado.