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Falar em desproporção salarial é "ceder à demagogia"
"Demagógico e populista". Estes são adjectivos usados por politicólogos, advogados e consultores para qualificar o discurso do Presidente da República, Cavaco Silva, relativamente aos salários "injustificados e desproporcionados" dos gestores.
"Demagógico e populista". Estes são adjectivos usados por politicólogos, advogados e consultores para qualificar o discurso do Presidente da República, Cavaco Silva, relativamente aos salários "injustificados e desproporcionados" dos gestores.
"O senhor Presidente da República cedeu ao populismo e à demagogia. Piscou o olho à esquerda e não enfrentou o problema. Não há uma relação entre o salário dos gestores e o dos trabalhadores. É uma questão de mercado. Se existissem 100 mil gestores de boa qualidade e dispostos a trabalhar, os seus ordenados baixavam", comenta o advogado José Miguel Júdice. "Absurdo é aquilo que se paga aos quadros superiores do Estado. É muito pouco. O presidente da Câmara de Lisboa, por exemplo, devia ganhar 10 vezes mais e, depois, ser responsabilizado pelos seus resultados", acrescenta.
Demagogia foi também a palavra usada pelo politicólogo José Pacheco Pereira no programa "Quadratura do Círculo", emitido na SIC Notícias, na quarta-feira à noite. "As pessoas são sempre muito sensíveis aos salários dos poderosos. Como se existisse uma relação causa efeito. Que, para os gestores ganharem muito, nós [trabalhadores] ganhamos pouco. Como se a raiz das desigualdades sociais estivesse nesta diferenciação salarial. É sempre fácil ganhar votos atacando este sector", criticou. "Esta questão [da remuneração dos gestores] é um defeito de Cavaco Silva, à custa do qual se congelaram, há muitos anos, os salários dos políticos, com enormes efeitos estruturais no funcionamento da coisa pública".
Também para António Lobo Xavier, a referência do Presidente da República "foi infeliz e insólita, à margem do rigor com que normalmente se refere às questões de natureza económica. Se existe um problema de remuneração elevada de alguns gestores, não é aí que reside a solução para a desigualdade da repartição de rendimentos".