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Cristiano van Zeller: "Saldos excedentários do IVDP devem ser dedicados à região"
Instituto dos Vinhos do Douro e do Porto não depende do Orçamento do Estado, financiando-se com as taxas pagas pelos produtores de vinho entre os quais há "consenso" de que os saldos excedentários devem ser utilizado para a região e não desviados para outros fins, diz Cristiano van Zeller.
O produtor de vinhos Cristiano van Zeller defende que os saldos excedentários do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto (IVDP) devem ser usados em prol da região, algo que nem sempre tem acontecido e que, por isso, deve ser um dos aspetos a "repensar" no âmbito da "estratégia para o futuro" de que o território necessita.
"O dinheiro que o instituto recebe vem única e exclusivamente dos produtores do Douro - não vem do Estado. Vem antes dos bolsos de todos os operadores - desde viticultores a comerciantes -, pelo que esse dinheiro tem de ser bem utilizado. Não pode ficar parado à espera que o Estado o vá la buscar quando precisa", lamenta.
Ao Negócios, van Zeller diz que "já não é a primeira nem a segunda vez que tal acontece". "Houve um momento em que havia saldos excedentários de orçamentos, com vários millhões acumulados e o Estado um dia foi lá e tirou o dinheiro todo e sucede que, agora, já há mais saldos acumulados outra vez".
Tal decorre do facto de ser um instituto público e, portanto, à semelhança dos demais, obedece a regras designadamente ao nível de cativações, que fazem, entre outros, com que fique com os saldos excedentários "retidos", explica van Zeller, apontando que se trata de "uma questão importante que tem de ser repensada".
"Há uma coisa em que estamos todos de acordo: o dinheiro deve ser destinado à região e aos seus produtos", sublinha o produtor de vinho, membro dos Douro Boys.
Este é um dos pontos que Cristiano van Zeller considera que pode ser analisados no âmbito da "estratégia para o futuro" de que o Douro necessita, defendida numa petição que acabou de lançar, a par com mais de duas dezenas de figuras, sobretudo produtores. Nessa carta apela-se a uma reforma do quadro regulamentar da Região Demarcada, sem mexidas há quase um século, considerando os "danos graves e desnecessários" que a "inércia" na sua alteração está a provocar, que vai desde o preço das uvas à sustentabilidade dos viticultores.
A missiva com o título "o Douro merece melhor" alerta que "nenhuma região de vinho aguenta tanto tempo no atual "desequilíbrio" e a sofrer "tantos danos na sua imagem e na economia das suas comunidades" por conta de uma "incompreensível inação", mas assinala que "existem soluções que estão ao nosso alcance", sejam elas "medidas de emergência" ou "mais estruturantes".
Tirando o ponto de vista sobre o IVDP, que "é mais consensual", van Zeller prefere não se pronunciar a título individual: "Não vou falar em soluções por respeito por aquilo que nós todos assinamos. Não quero estar a elencar as soluções que eu proponho porque elas tem de ser discutidas de forma muito abrangente e num espaço muito abrangente", desde logo porque "não há soluções definitivas e milagrosas".
"Este documento serve para que se criem as condições para que esse debate seja lançado em fóruns próprios. Não quer dizer que as pessoas não conversem, isto não é algo que tenha surgido do nada, mas sentiu-se a necessidade de pôr o tema em cima da mesa de uma forma mais pública", explica van Zeller, para quem a iniciativa "é um tiro de partida de uma maratona para evitar uma certa imobilidade na estrutura geral da Região Demarcada do Douro".