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Como uma empresa de vinhos acabou com a amizade de três magnatas dos casinos
A saga da Mahana, que significa "lugar quente" em maori, a língua indígena local, mostra que investimentos em negócios podem arruinar amizades, mesmo entre os indivíduos mais ricos e bem-sucedidos.
A empresa de vinhos Mahana Estates é o mais perto do paraíso que se pode chegar na Terra.
Com mais de 20 hectares de vinhas no litoral da Nova Zelândia, a propriedade tem um restaurante, instalações de arte e uma paisagem tão encantadora que o príncipe Charles teve que passar por lá em 2015, quando visitou o país.
Este é também o cenário de uma amarga disputa que envolve três magnatas do ramo dos casinos, que investiram dinheiro na empresa vinícola quando eram amigos.
Jim Murren, CEO da MGM Resorts International, e Dan Lee, CEO da Full House Resorts, ambos investidores na Mahana, processaram o seu amigo Glenn Schaeffer, ex-presidente do Mandalay Resort Group e sócio-gestor da vinícola. A dupla afirma que Schaeffer os induziu a pensar que realmente detinham uma participação no negócio e esbanjou todo o seu dinheiro. Schaeffer responde que Lee o ameaçou de morte, bem como os seus cães. Lee explicou que estava a brincar.
No mês passado, um tribunal da Nova Zelândia adotou uma decisão favorável a Murren e Lee, concedendo-lhes uma indemnização de 2,3 milhões de dólares, mais juros.
A saga da Mahana, que significa "lugar quente" em maori, a língua indígena local, mostra que investimentos em negócios podem arruinar amizades, mesmo entre os indivíduos mais ricos e bem-sucedidos. Hoje a vinícola está fechada e em processo de venda para um novo proprietário por um valor não muito superior ao da sua dívida. Os ex-amigos já não se falam - embora Schaeffer tenha dito que ainda falaria com Murren.
"Esta é a história de uma amizade muito boa que acabou mal", disse Murren.
A relação entre os três começou há décadas. Quando deixou o emprego de analista de casinos na First Boston para assumir um cargo no ramo de finanças na Mirage Resorts, em 1992, Lee era vizinho de Schaeffer, que ajudava a gerir um império que incluía os resorts Luxor, Circus Circus e Mandalay Bay. Murren, outro ex-analista de Wall Street e na época diretor financeiro da MGM Grand, uniu-se ao grupo. Os três e as suas famílias passavam as férias juntos, colecionavam obras de arte e bebiam vinhos finos.
Schaeffer e Murren até celebraram a venda da Mandalay à Mirage em 2005, por 7,9 mil milhões de dólares, com uma garrafa de vinho Woollaston New Zealand. Depois dos termos finais do negócio terem sido fechados, Schaeffer e Murren abraçaram-se, refere o "Winner Takes All", livro de 2008 sobre o setor dos casinos.
Naquela altura, Schaeffer já tinha convencido Murren e Lee a apoiá-lo na empresa vinícola. Vendeu o negócio como uma oportunidade para comprar terras para vinhas mais baratas do que nos EUA e como proteção cambial contra a fragilidade do dólar neozelandês, segundo Lee. Executivos do Bank of America também investiram. Murren colocou 1,6 milhões de dólares e Lee 700 mil dólares, ao longo de vários anos.
Lee reconhece que não dedicou muita atenção a este investimento, por confiar no seu amigo e acreditar simplesmente que era preciso tempo para produzir vinho.
Foi um encontro casual entre Lee e a futura ex-esposa de Schaeffer, num restaurante em Las Vegas, que levou os sócios a pensarem que algo não estava a correr bem com o investimento. Renee Schaeffer disse a Lee que estava preocupada com a capacidade da vinícola de refinanciar 5 milhões de dólares em empréstimos. Lee disse que achava que a vinícola não tinha dívidas.
Murren e Lee investigaram e descobriram que nunca tinham tido nenhuma participação na sociedade que era dona da empresa vinícola, como afirmam ter sido levados a acreditar. E que o seu dinheiro tinha sido usado para pagar as contribuições de Schaeffer. E por isso decidiram processar o ex-amigo por fraude.
Em entrevista, Glenn Schaeffer referiu que as vendas de vinho abrandaram depois da crise financeira e que o negócio avolumou dívidas. Renee Schaeffer confirmou o encontro com Lee num restaurante, mas diz que está ao lado do ex-marido nesta disputa.
"Conheço o Glenn", afirmou Renee Schaeffer. "Não enganou ninguém". Glenn Schaeffer, que teve um curto papel na série "Las Vegas", da NBC, alegou que durante uma mediação para acabar com esta disputa, Lee ameaçou "enterrar-me no deserto como nos velhos tempos".
Lee explicou que os seus comentários referiam-se à forma como estas disputas eram resolvidas no passado. "Estava a brincar", disse Lee numa entrevista. "Disse que ele era o tipo mais sortudo do mundo por conseguir roubar milhões de dólares a dois CEO de Las vegas. Há 30 anos, acabava morto no deserto".
O juiz juntou Murren e Lee. "Houve uma fusão pouco ortodoxa dos interesses pessoais de Schaeffer com os ativos da empresa e uma falha evidente no registo dos investimentos efetuados por Murren, Lee e outros sócios", concluiu o juiz.
Lee, cuja mulher Susie foi há pouco eleita para o Congresso dos EUA pelos democratas de Las Vegas, diz que a lição é clara: mesmo que estejas a investir com um amigo, não podes baixar a guarda.
"Quando faço um negócio para a empresa que dirijo, há advogados e outros profissionais a verificar tudo. Podes fazer um negócio com um amigo, mas não deixes de ser vigilante", concluiu Lee.
Texto original: Three Casino Moguls Bought a Winery. It Ended Their Friendship