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BPI antecipa “algum aumento do malparado” no segundo semestre de 2021
O CEO do BPI, João Oliveira e Costa, admite que após o término das moratórias de crédito, em março do próximo ano, poderá haver "algum aumento" do crédito malparado.
"Nós antecipamos, claramente, durante o segundo semestre de 2021, que possamos vir a assistir a algum aumento do crédito malparado. A antecipação que nós estamos a fazer de uma parte desse cenário incorpora esta iniciativa relativamente às imparidades. No entanto, não prevemos que esse facto impacte de forma expressiva quer os resultados do banco quer a carteira de crédito", destacou Oliveira e Costa, naquela que foi a sua primeira apresentação de resultados, após ter substiuído Pablo Forero em maio.
Na apresentação das contas do semestre, o BPI revelou ter aprovado 73,1 mil pedidos de moratórias de créditos, no valor de 5,7 mil milhões de euros. Ao crédito à habitação correspondem 31,5 mil pedidos, no valor de 2,6 mil milhões de euros. Ao crédito pessoal e de financiamento automóvel dizem respeito 23,8 mil pedidos aprovados, no montante de 373 milhões. O crédito a empresas cifrou-se em 2,7 mil milhões de euros, relativos a 17,9 mil pedidos aprovados.
Nas últimas semanas, estes pedidos "abrandaram muitíssimo", destacou o CEO do BPI. "Quem queria pedir, pediu no momento mais crítico da pandemia", concluiu.
Os clientes que queiram beneficiar das moratórias de crédito bancário podem fazê-lo até 30 de setembro. As moratórias, que suspendem o pagamento de capital e dos juros associados ao crédito bancário, estão em vigor até 31 de março.A mesma preocupação em relação ao aumento do malparado foi manifestada esta semana pelas agências de rating Moody's e Fitch. Também o CEO do Santander Totta admitiu esta sexta-feira, em entrevista ao Jornal Económico, que o banco está a preparar-se para o "potencial aumento" do malparado após o fim das moratórias.
"Estamos bem, muito obrigado"
João Oliveira e Costa substituiu Pablo Forero na liderança do BPI em maio, mas a sua nomeação ainda não foi aprovada pelos reguladores da banca. O processo de avaliação de adequação e idoneidade (fit and proper) ainda está nas mãos do Banco de Portugal, revelou. "Aguardamos a conclusão do processo, estamos em permanente ligação com o regulador", adiantou Oliveira e Costa.
O CEO classificou os primeiros meses que passou à frente do banco como "bons", destacando o enfoque dado à "prudência", e desvalorizando os últimos avisos das agências de rating em relação à banca portuguesa.
"Quando refiro que os resultados são bons, é preciso pôr em contexto que, quando esta crise começou, o nível de incerteza era muito grande. Num cenário de taxas de juro negativas, uma enorme pressão ao nível das comissões e um abrandamento da atividade, era expectável que os resultados fossem piores", admitiu.
Relativamente às agências de rating, o responsável destacou que, no que toca ao BPI, "está patente a solidez, a liquidez e os níveis de risco", sendo "difícil" no atual cenário exigir mais rentabilidade. "Estamos bem, muito obrigado".
Numa análise alargada ao setor financeiro, Oliveira e Costa afastou a atual crise da crise financeira de 2008. "Verificamos hoje que, nos diversos indicadores, o setor financeiro português está muito bem. A banca está preparada para apoiar a economia e para enfrentar o que vem pela frente. É preciso dar esse voto positivo à banca", realçou.
No primeiro semestre, o banco assistiu à saída de 23 funcionários e ao fecho de 29 balcões. Oliveira e Costa não prevê mais saídas ou encerramentos, mas também não os afasta. Tudo vai depender "das circunstâncias".
"Numa organização, as pessoas saem naturalmente, porque se reformam. A saída de 23 pessoas num meio de 4800 não tem expressão. O banco vai adaptando a sua estrutura às circunstâncias exteriores, conforme seja necessário". O CEO explicou que o encerramento de 29 balcões "foi feito por integração das equipas noutros balcões", e que "nenhum banco tem vontade de fechar balcões, as circunstâncias é que o provocam". No futuro, "vamos sempre analisar o que for melhor para os colaboradores, para a solidez e para a competitividade do banco".
"Não financiamos as pessoas que nos querem comprar carteira"
O Novo Banco também não ficou de fora do primeiro encontro de Oliveira e Costa com os jornalistas. Mas aqui, o CEO não se alongou em comentários. "Temos a obrigação de seguir os acontecimentos que afetem o Fundo de Resolução, uma vez que somos financiadores. De momento, não temos nenhum dado em concreto além do que já foi falado em público".
João Oliveira e Costa negou, porém, que o BPI tenha por hábito fazer negócios com fundos de private equity e financiar os compradores de carteiras de ativos, como fez o Novo Banco. "Infelizmente estamos muito pouco habituados a vender carteira, é muito raro. Temos muita preocupação com todas as contrapartes com que lidamos, quem está do lado de lá é importante. Ainda por cima temos uma carteira pequena e quando fazemos estes negócios é de forma pequena, temos muito cuidado na escolha das contrapartes e, por norma, não financiamos as pessoas que nos querem comprar, porque isso era ficar com o ativo em risco para nós, a não ser em casos pontuais".
Questionado também sobre a exposição do banco à Efacec, Oliveira e Costa foi parco em palavras. "No que toca a casos concretos, não vou comentar, porque não confirmo nem desminto a ligação que temos com essas entidades. As noticías que têm vindo a público são bastante clarificadoras. Mas essa situação não tem impacto neste momento para o BPI", garantiu.