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Análise: Impresa aposta em «fábrica de conteúdos»

Após uma desvalorização superior a 172 milhões de euros (34,5 milhões de contos) do seu valor de mercado em apenas seis meses, a Impresa inicia um novo ciclo apostada na criação de valor através do...

10 de Dezembro de 2000 às 12:43
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Após uma desvalorização superior a 172 milhões de euros (34,5 milhões de contos) do seu valor de mercado em apenas seis meses, a Impresa inicia um novo ciclo apostada na criação de valor através do desenvolvimento dos conteúdos.

A Impresa gere participações no sector dos media, nas quais se destacam a SIC, estação televisiva líder em Portugal, o semanário «Expresso», e a «Abril/Controljornal», sociedade editora de diversas publicações. Pinto Balsemão controla a maioria do capital da Impresa, que conta ainda com a Investec como accionista de referência.

Com a actual cotação da Impresa a «descontar quebras de receitas publicitárias» para o próximo ano, bem como a acusar o impacto da feroz concorrência televisiva, a empresa concentra agora os seus esforços na área dos conteúdos.

«A grande aposta do grupo vai ter início no próximo ano, com o lançamento do SIC Notícias no dia 8 de Janeiro, e poucas semanas depois, do SIC Online. Esperamos que o impacto conjunto destes dois projectos, venha a transformar a Impresa na maior fábrica de notícias do país» garantiu ao Canal de Negócios José Freire, assessor de imprensa daquele grupo de media.

Cotação sofre influência do exterior

A Impresa procedeu à colocação de 30% do seu capital em Bolsa a 6 de Junho deste ano, com cada acção a ser vendida a 10,25 euros (2.055 escudos), o que avaliava a empresa em 738 milhões de euros (147,95 milhões de contos).

Desde a sua colocação no mercado, tem vindo a perder até a um mínimo histórico atingido na passada segunda-feira, ao cotar nos 7,86 euros (1.576 escudos). No início de Setembro, a Impresa valia 11,84 euros (2.374 escudos) o que, face ao valor mais baixo do ano alcançado a 4 de Dezembro, representa uma desvalorização de quase 35%.

A queda da Impresa acompanhou a desvalorização das suas comparadas internacionais. O Nasdaq, o principal medidor mundial das empresas tecnológicas, de media e telecomunicações, caiu cerca de 23% desde que a empresa de Pinto Balsemão entrou no mercado de capitais.

Mas a «performance» da Impresa, que se encontra cerca de 20% abaixo do PSI20 e mais de 10% abaixo do Nasdaq em termos de retorno, não se resume apenas à recessão nos mercados financeiros.

Abrandamento do crescimento económico afecta receitas

Com as previsões de abrandamento do crescimento da economia mundial para o próximo ano, efectuadas por órgãos como o Banco Mundial, o Fundo Monetário Internacional e a Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), as receitas de publicidade também se ressentem.

O mercado publicitário encontra-se intimamente relacionado com a conjuntura económica, pelo que se prevê que o crescimento das receitas publicitárias registem uma desaceleração em 2001.

José Freire salienta que o «crescimento das despesas publicitárias vai abrandar, mas não vai diminuir», embora a recente reforma fiscal, prestes a ser implementada, vá também retirar uma importante fonte de receitas publicitárias.

Com a introdução do pagamento integral do imposto automóvel (IA) para os veículos Todo-Terreno, o estímulo para anunciar este tipo de bem prevê-se que regrida, com o sector dos media a estimar uma perda entre 6% e 7% do investimento publicitário em 2001.

«Big Brother» ameaça quota de mercado

A concorrência televisiva à SIC, que representa cerca de 50% do negócio da Impresa, foi outro factor que afectou negativamente o comportamento das acções em Bolsa.

A maior agressividade da Televisão Independente (TVI), com uma grelha renovada e sobretudo com o lançamento do programa «Big Brother», veio retirar quota de mercado à SIC.

No entanto, segundo os analistas, o crescimento da TVI não foi sustentado, registando elevadas audiências somente no «Big Brother» e na telenovela portuguesa «Jardins Proibidos». O impacto do programa «Big Brother» teve efeito ao nível dos investidores nacionais, que venderam as suas posições, apesar dos internacionais não terem tido em conta esse fenómeno, explicou um analista.

Perspectivas de valorização

Um analista consultado pelo Canal de Negócios refere que a Impresa foi excessivamente penalizada nos últimos meses, e que «o abrandamento das receitas publicitárias para o próximo ano já foi descontado na actual cotação da Impresa».

Segundo Tiago Veiga Anjos, analista do Banco Português de Investimento, num estudo sobre a Impresa, «o elevado consumo de televisão aliado à reduzida penetração de computadores pessoais coloca a Impresa numa posição invejável para beneficiar da “Nova Economia” em Portugal». Este analista tem um preço alvo de 13,20 euros (2.646 escudos) a 12 meses para os títulos da Impresa, o que traduz um potencial de valorização de 65%. O analista recomenda «acumular» aqueles títulos.

Num esforço para promover a criação de valor para os seus accionistas, a Impresa pretende aumentar o número de canais temáticos, reduzindo a dependência da empresa das receitas da publicidade. «A Impresa está a fugir ao que é mais variável em termos de receitas, aspecto apreciado pelos investidores» explicou José Freire.

A introdução da SIC Notícias e da SIC Online tem como objectivo «alterar o hábito de ligar o rádio de manhã para ouvir as notícias, e passar a ligar a televisão, o que já acontece em muitos outros países», afirmou a mesma fonte.

Impresa aposta no UMTS

A Impresa integra o consórcio OniWay, vencedor preliminar de uma licença para a terceira geração de telemóveis (UMTS), com uma participação de 4%. Aquele grupo de media será assim um dos parceiros de referência da «holding» da Electricidade de Portugal (EDP) para as telecomunicações móveis na área dos conteúdos.

Fonte daquele grupo referiu que «o envolvimento da Impresa com o consórcio liderado pela ONI vem no seguimento da estratégia de estar presente com os seus conteúdos em vários canais de distribuição, como será o caso do UMTS».

A licença UMTS vai ser uma importante fonte de receitas para Impresa, caso o Governo confirme o parecer do Instituto de Comunicações de Portugal (ICP), afirmou um analista.

Impresa assume Internet como prioridade

Outra das apostas centra-se na Internet, em que a Impresa, paralelamente ao projecto da SIC Online, assinou uma parceria com a Sonae.com, formalizada através da recém criada Portais Verticais.com, um portal de crédito imobiliário (www.crediglobal.pt) que servirá como «broker», ou mediador, de crédito imobiliário, permitindo aos clientes compararem as diversas ofertas de crédito.

A Sonae.com e Impresa esperam uma facturação acumulada de 2,49 milhões de euros (500 mil contos) até «meados de 2002» com este novo portal. O portal de crédito imobiliário foi o primeiro de um conjunto de três a ser lançado pela Portais Verticais.com, numa primeira fase e num investimento total de 16,96 milhões de euros (3,4 milhões de contos).

Em Novembro foi também inaugurado o portal de imobiliário www.casaglobal.pt.

A Portais Verticais.com, em conjunto com a Sonae Turismo, vai igualmente lançar o viagensglobal.pt, vocacionado para a área de turismo, na segunda semana de Janeiro de 2001.

SIC entra na TV digital em Espanha

O consórcio NET TV, onde a SIC detém uma participação de 7%, venceu o concurso para a atribuição de uma das duas licenças de televisão digital em Espanha. Para além da Impresa, através da estação televisiva SIC, participam neste consórcio o grupo Prensa Espanhola, a Globomedia e a televisão francesa TF1. O Grupo liderado por Pinto Balsemão irá investir cerca de 12,5 milhões de euros (2,5 milhões de contos) neste projecto durante os próximos três anos.

Este projecto da Impresa é «uma incógnita, porque se trata de uma empresa nova que terá de lutar por uma quota de mercado», explicou um analista.

«O maior impacto desta licença é que a SIC poderá colocar-se numa posição privilegiada para a venda de conteúdos, por exemplo, os telefilmes, a uma estação como a TF1. E isso é muito positivo», explicou um analista que pediu para não ser identificado.

Outros analistas explicam que a experiência que a SIC poderá adquirir neste sector, transposta para o mercado nacional, é uma das melhores vantagens deste negócio.

«Esta licença é bastante positiva porque poderá trazer-lhes experiência para o lançamento duma plataforma digital em Portugal», explicou Tiago Veiga Anjos.

Os analistas crêem que a licença UMTS será mais importante que a participação no consórcio NET TV, visto que as receitas provenientes das telecomunicações são mais seguras.

SIC passa a ser consolidada na Impresa

Os resultados líquidos da Impresa diminuíram 92,6% no terceiro trimestre do ano para os 114,7 mil euros (23 mil contos). A SIC, que pela primeira vez fez parte do perímetro de consolidação da empresa, foi consolidada em 51%, não permitindo efectuar uma comparação face ao período homólogo do ano passado.

As receitas consolidadas subiram 18,3%, no terceiro trimestre deste ano, para os 255,3 milhões de euros (51,2 milhões de contos), contra os 215,9 milhões de euros (43,3 milhões de contos) verificados no mesmo período do ano passado.

A SIC representa em termos de volume de negócios 50% da Impresa, com o sector jornalístico a cifrar-se nos 15% e as revistas a alcançarem 25% deste montante. Os restantes 10% estão relacionados com o sector da distribuição.

Para o sector dos jornais espera-se uma melhoria das vendas no próximo ano enquanto as revistas do grupo deverão registar um comportamento inverso, sobretudo as mais expostas ao abrandamento do consumo, como são o caso das revistas automóveis ou femininas. No entanto, refere um analista, se retirarmos a «Visão» desta análise a importância das revistas nas receitas da Impresa não é muito significativo.

O aumento do preço do papel, entre 15% e 20%, deverá ter reflexo num aumento do preço da capa no próximo ano. «O «Expresso», que registou o melhor ano de sempre em termos de receitas, vai sofrer uma remodelação profunda no principio do ano» adiantou José Freire.

A Impresa fechou a sessão de quinta-feira nos 8 euros (1.604 escudos), a recuar 0,25%.

Por Renato Rocha e Ricardo Domingos

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