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África aguenta negócio da Siemens em Portugal
As filiais de Angola e Moçambique, "roubadas" à África do Sul, estão a evitar a perda de competências e empregos. Após travar "muito e muitos anos", Melo Ribeiro acredita na retoma de alguns projectos de infraestruturas.
A Siemens Portugal manteve em 2014 um volume de negócios a rondar os 300 milhões de euros devido ao contributo dos projectos de infraestruturas ganhos pelas filiais da multinacional em Angola e Moçambique, cujo desenvolvimento e crescimento deixou de estar entregue à África do Sul e passou para as mãos da estrutura portuguesa. "Temos ali um campo para compensar este ‘downturn’ do País. (...) Podemos usar lá a engenharia que desenvolvemos aqui. Não perdemos as competências", frisou o CEO, Carlos de Melo Ribeiro.
Longe dos valores de facturação anual que registava até ao início da intervenção da troika, à volta de 500 milhões de euros, o gestor perspectivou para 2015 um crescimento do negócio em Portugal, para 350 milhões de euros. E calculou que, somando os 60 milhões facturados pela filial angolana e o valor idêntico registado pela estrutura moçambicana no ano passado – em termos de encomendas entradas o valor sobe para cem milhões de euros neste último mercado –, em conjunto, o negócio aproxima-se já dos valores que tinha antes da crise.
"O país, com o ‘exagero’ das obras que fez – para a dimensão de Portugal – ganhou uma experiência enorme que é precisa no mundo. Em vez de chorar, refilar e discutir na Assembleia [da República], devia estar preocupado em usar essa experiência que o mundo precisa de uma maneira impressionante. Estamos a falar da América Latina, no Médio Oriente, em África... todo o mundo que está a fazer obras não tem essa engenharia e essa competência, seja engenharia civil, seja o que for. Devíamos estar preocupados em usar e vender essa capacidade que, de uma forma ou de outra, nós conquistámos", apontou Carlos de Melo Ribeiro.
Carlos de Melo Ribeiro, CEO da Siemens Portugal
Num encontro com jornalistas no Porto, onde a multinacional alemã iniciou a sua actividade em Portugal e a cidade que escolheu para assinalar esta sexta-feira, 16 de Janeiro, o início das comemorações dos 110 anos em território nacional, o CEO sublinhou que "o País só desemperra da situação em que está se quebrar as barreiras da burocracia e do pessimismo", acrescentando que "um dos grandes defeitos que tem este País é o estar sempre a falar só do que não consegue fazer e daquilo que não faz".
E grande parte da sua "perspectiva optimista" assenta precisamente na dimensão da travagem económica do País. "Porque como parou muito e muitos anos vai ter de fazer alguma coisa", sustentou. Entre os projectos que "têm de avançar", enumerou, estão alguns na área da "sinalização ferroviária, as ligações ferroviárias e um ou outro projecto de modernização na ferrovia". Outra das suas grandes esperanças é o turismo, onde considera que o país pode crescer mais rapidamente e, nesse caso, vai precisar de infra-estruturas.
"Atentos" a novos centros de competências
Desde 2008 que a Siemens está a fazer um esforço de contenção de custos de ‘backoffice’, em que a solução tem sido centralizar vários serviços. E foi nesse movimento de centralização que a filial portuguesa "ganhou muitos dos centros de competência", estimando o CEO que nos últimos quatro ou cinco anos a estrutura portuguesa ganhou mais quase 500 pessoas para os serviços de finanças, pessoal e compras.
O último centro de competências, instalado em Carnaxide, foi ganho no ano passado. Segundo o plano inicial, para este centro de "Corporate IT" foram contratadas 150 pessoas em 2014 e outras tantas serão recrutadas este ano. "Mas está com uma possibilidade de crescer duas ou três vezes isso", adiantou o responsável.
Nos actuais 14 centros de competências localizados em Portugal trabalham actualmente quase mil pessoas, sendo uma "pequena percentagem" estrangeiros de 23 nacionalidades, que a Siemens Portugal "não tem dificuldade nenhuma em atrair". Questionado sobre se está algum outro centro em negociação com a casa-mãe alemã, Carlos de Melo Ribeiro respondeu apenas que "está atento" a essa possibilidade, enumerando que engenharia, software e serviços são as áreas em que Portugal tem "mais hipóteses". "Quando é só de capital humano [como neste caso], o valor acrescentado é 100%, enquanto uma fábrica tem um máximo de valor acrescentado de 50%. Uma ‘fábrica’ de software vale duas fábricas das outras", concluiu.