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A guerra da sucessão (empresarial)

Viagem em três etapas sobre o futuro dos negócios de família. Quando o império é extenso, os magnatas têm tomado caminhos diferentes para garantir que os filhos ficam protegidos.

Bloomberg
16 de Dezembro de 2017 às 15:00
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Paragem um: Estados Unidos da América

Rupert Murdoch evitou o papel de Rei Lear dos tempos modernos. Ao vender uma grande fatia do seu império à Disney por 44 mil milhões de euros, o magnata dos media não terá de dividir as marcas pelos filhos. Ou, mais importante, escolher um sucessor.


Era uma pergunta que já se fazia há algum tempo: quem ia tomar o trono? James, Lachlan ou Elisabeth? Agora já não há necessidade de responder à pergunta porque deixou de haver um trono para ocupar. Mas os herdeiros não ficam sem responsabilidades.


O universo de estúdios de cinema e canais de televisão passa para as mãos da Disney. James Murdoch vai tratar do processo de integração dos activos no novo dono, onde a família vai ter um peso superior a 4%, sendo um dos maiores accionistas. O clã vai manter ainda alguns negócios de media, em que a estrela é a Fox News. O irmão Lachlan vai ficar à frente dos seus destinos.


Nenhum deles assumirá um papel de "sucessor visionário", diz a imprensa americana, nesta nova conjuntura. Porque o desafio era grande: como concorrer com a realidade do "streaming" que está a ser moldada por tecnológicas como a Amazon, a Google, o Facebook ou a Apple?





Paragem dois: Espanha

Se o poder de Murdoch cresceu por uma lógica de acumulação, o mesmo se pode dizer do espanhol Amancio Ortega, dono da Inditex. O mesmo é dizer, um império do têxtil composto por Zara, Pull & Bear, Massimo Dutti ou Stradivarius, que o transformou no homem mais rico da Europa.


Só que Ortega não quer, mesmo depois de morrer, alienar este património ou equacionar uma separação de marcas. E pôs um plano em acção: o octogenário colocou uma participação de 50,01% na Inditex numa outra empresa, a Pontegadea Investments, onde juntou outros seis mil milhões de euros em imóveis, segundo escreveu a Reuters.


A intenção é clara: garantir que o controlo familiar se mantém inalterável, seja qual for o filho (ou filhos) que lhe suceda(m). O receio era de que as acções da Inditex pudessem ser vendidas. Sem essa diluição, a propriedade permanece na família.


No fundo, trata-se de evitar casos como os da fabricante de chocolate Cadbury ou a casa de moda Laura Ashley, em que as famílias fundadoras perderam o controlo à medida que as suas participações foram diluídas.


O que Amancio Ortega agora faz já tinha sido testado por Hans Wilsdorf em 1944. O fundador da relojoeira de luxo Rolex colocou todas as suas acções na Fundação Hans Wilsdorf, que dirige a empresa desde a sua morte.




Paragem três: China

Esta vontade de manter a empresa na família contrasta com um cenário retratado este mês de Dezembro pelo Financial Times. O jornal diz que a China está a ter um problema com empresas familiares: um número considerável de companhias está pronta para passar o controlo para a próxima geração. Onde está o problema? Não há quem queira receber esse legado.


É referido que seis em cada dez filhos não pretendem dar continuidade ao negócio da família, que se lançou a partir de uma certa liberalização económica que teve lugar na China a partir de 1979. O que a nova geração quer é trabalhar por si própria ou assumir um lugar em indústrias consideradas modernas, como os bancos ou a tecnologia.


Os motivos para este individualismo são diversos: ou viram que os seus pais tiveram de trabalhar tanto para ter sucesso, chegando a negligenciar os filhos, ou partiram eles próprios para outros contextos de formação e querem agora colocá-los em prática.

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