Notícia
Ongoing quer que bancos perdoem 97% da dívida
Novo Banco, BCP e Montepio só receberiam pouco mais de 17 milhões de uma dívida superior a 792 milhões.
A Ongoing Strategy Investments (OSI) está em processo de reestruturação, e apresentou em tribunal um plano que pressupõe um enorme perdão de dívida dos seus principais credores, os bancos.
De acordo com o plano de Revitalização, a que o Negócios teve acesso, a OSI deve um total de 1,1 mil milhões de euros, sendo que, destes, 309 milhões são créditos subordinados, que serão desconsiderados, ou seja, não serão pagos. Restam 792 milhões de euros, com juros, mas como a proposta pressupõe o perdão dos juros esse valor fica nos 725,4 milhões de euros. É este o valor abrangido pelo plano, sendo que 95% dos créditos estão nas mãos de três bancos: Novo Banco, com 438 milhões, BCP, com 282 milhões e Montepio, com 15 milhões, nos valores sem juros.
A OSI necessita do voto favorável dos principais credores para que o plano seja aprovado. A estes, a proposta não é generosa: a OSI propõe-se pagar 2,41% do montante em dívida a cada uma destas instituições financeiras. A percentagem dos créditos de Novo Banco e Montepio seriam pagas em prestações mensais durante 15 anos, até 2031. No caso do BCP, haveria o "pagamento de 2,41% do valor do capital, através da dação em cumprimento das garantias prestadas no âmbito dos contratos celebrados, a realizar após a data de trânsito em julgado do despacho de homologação do Plano de recuperação".
"Em face da composição do seu passivo e da titularidade dos créditos existem no universo dos Credores da OSI três entidades a quem foram propostas condições de amortização dos seus créditos, que passam em síntese por um perdão de divida, por um período de carência de doze meses para a amortização de capital e juros fixados e um plano prestacional alargado de quinze anos", pode ler-se no documento.
Contas feitas, o ‘haircut’ é gigantesco: o Novo Banco receberia, a 15 anos, 10,56 milhões de euros dos 438 milhões devidos; o BCP 6,5 milhões através da execução de garantias já prestadas, de uma dívida total de 282 milhões; e o Montepio receberia, também a 15 anos, 362 mil euros dos 15 milhões que teria direito a receber.
O Negócios contactou os três bancos em causa, mas até ao momento não foi possível obter destes uma posição ao plano da Ongoing. O documento salienta, de forma extensa, as dificuldades que o grupo enfrenta, e avisa que, caso o plano não seja aprovado, há elevadas probabilidades de os credores receberem ainda menos, ou até nada.
Há ainda, dentro dos 725 milhões de euros reconhecidos, 420 mil euros de créditos privilegiados, devidos aos trabalhadores (esmagadora maioria), e ao Estado (Segurança Social e Fisco). Neste caso o pagamento será da totalidade da dívida, embora os trabalhadores tenham de aceitar um perdão dos juros decorridos.
Os credores têm agora de se pronunciar sobre este plano, não sendo claro se os bancos já terão dado um ok informal a estas condições.