Notícia
João Almeida, o miúdo seguro e tranquilo com qualidade de líder
Vestiu de rosa durante 15 dias e este domingo concluiu a sua epopeia no Giro na quarta posição, a melhor de sempre de um português.
25 de Outubro de 2020 às 15:57
João Almeida, o miúdo tímido e aguerrido de A-dos-Francos que encantou Portugal no seu sonho cor-de-rosa, é um ciclista detalhista e rigoroso, nascido para ser líder, dada a segurança e tranquilidade que emana em momentos de grande pressão.
Já muito se escreveu sobre o corredor de 22 anos, com quem o conhece a enaltecer-lhe a humildade, a qualidade humana, o bom feitio - "É uma pessoa excelente, não complica nada, não se chateia com ninguém", garante o selecionador nacional de estrada, José Poeira -, mas para perceber quem é a pessoa (e o profissional) que se 'esconde' no novo herói português basta recuar oito meses, a um pequeno episódio ocorrido antes da sua estreia na Volta ao Algarve.
A agência Lusa tentava há dias, como é usual no ciclismo nacional, agendar diretamente com ele uma entrevista para assinalar o arranque da prova, contudo, ciente das diretrizes da Deceuninck-QuickStep - esse tipo de solicitações passa, obrigatoriamente, pelos assessores dos belgas -, o jovem só acedeu quando, finalmente, recebeu o OK da equipa, num processo em que Ricardo Scheidecker exerceu de mediador.
"O João vive muito para o ciclismo e para a sua profissão. Faz tudo o que nós lhe dizemos, [segue] os conselhos e as indicações que a equipa lhe dá a nível de treino e de modo de vida. Acho que ele respeita isso no detalhe. Tem uma característica fundamental para um atleta de alta competição: o empenho, e de, como se diz na gíria, fazer a vida de atleta ", corrobora à Lusa o diretor técnico daquela que é a melhor formação mundial, elogiando o miúdo "tranquilo, honesto, sério, mesmo boa pessoa, com caráter, personalidade, e muito inteligente" com quem tem o privilégio de trabalhar.
Desse primeiro encontro com a Lusa, fica a imagem de um jovem introvertido e ponderado, intrinsecamente tranquilo, ainda desconfortável perante uma atenção mediática 'estranha' para alguém que estava a começar a viver o sonho de representar "uma equipa fora da caixa", mas sem pudor de reconhecer que, na estreia entre os grandes do pelotão, no Tour Down Under, estava "bastante nervoso".
À timidez nos bastidores, contrapôs performances sólidas e um trabalho fantástico para levar Remco Evenepoel à vitória final na 'Algarvia', prova em que, ainda assim, foi nono, num binómio ganhador prolongado na Volta a Burgos e interrompido devido à queda do fenómeno belga, um azar a somar à extensa lista de infortúnios da Deceuninck-QuickStep nesta curta temporada, que, ironicamente, lhe abriu as portas do Giro.
Oito meses depois, a Pantera - assim o batizou a mãe, Ana, no momento em que o viu de fato completo de contrarrelógio quando liderava o Giro Ciclístico d'Italia (a versão sub-23 da 'corsa rosa'), no qual haveria de ser segundo, em 2018 - transfigurou-se.
Ao desafio das câmaras, responde com solvência, a mesma que demonstra na estrada, não se intimidando nas respostas e revelando uma maturidade notável para quem cumpriu 22 anos em 5 de agosto, nomeadamente ao desvalorizar perguntas sobre as 'caretas' que faz enquanto pedala e que são já uma das suas imagens de marca. Aos dos adversários, com determinação, 'garra', sem nunca se intimidar ou virar a cara à luta, tendo mesmo conquistado um fã em Vincenzo Nibali.
"É uma pessoa muito segura, mesmo quando não corre assim tão bem, em relação às perspetivas dele, a moral é sempre alta. Nunca vai para a corrida derrotado. E, depois, é uma pessoa calma, não se enerva, não pensa que vai correr mal. E ele cresce quando é líder, enquanto há outros que ficam nervosos e para quem a camisola é um problema. Isso são sinais de um líder, de um corredor talhado para ser líder, que assume e dá confiança aos outros à volta dele. Essa é a qualidade de um campeão, a de assumir", descreve à Lusa o selecionador nacional.
José Poeira conhece o corredor de A-dos-Francos, que antes de se render ao BTT e, posteriormente, ao ciclismo de estrada, ainda andou no futebol e até no rancho folclórico local, há "uns sete anos", desde que o convocou para um estágio de cadetes e ficou impressionado com a prestação do miúdo, quer nos testes progressivos, em que detetaram que este tinha "capacidades muita acima da média em relação aos outros cadetes", quer no treino conjunto com os juniores, em que atacou numa subida para ser apanhado lá no alto por apenas três ciclistas do escalão superior.
Agora, depois de assistir a uma exibição "firme", sem oscilações, de Almeida, o selecionador nacional acredita que o miúdo que "encantou o mundo do ciclismo e do desporto", ao dar espetáculo e ao prender as pessoas à televisão, poderá ter convencido os diretores da sua equipa a apostarem nele para outras aventuras como aquela que protagonizou neste Giro, onde vestiu de rosa durante 15 dias e, hoje, concluiu a sua epopeia na quarta posição, a melhor de sempre de um português na "corsa rosa".
Já muito se escreveu sobre o corredor de 22 anos, com quem o conhece a enaltecer-lhe a humildade, a qualidade humana, o bom feitio - "É uma pessoa excelente, não complica nada, não se chateia com ninguém", garante o selecionador nacional de estrada, José Poeira -, mas para perceber quem é a pessoa (e o profissional) que se 'esconde' no novo herói português basta recuar oito meses, a um pequeno episódio ocorrido antes da sua estreia na Volta ao Algarve.
"O João vive muito para o ciclismo e para a sua profissão. Faz tudo o que nós lhe dizemos, [segue] os conselhos e as indicações que a equipa lhe dá a nível de treino e de modo de vida. Acho que ele respeita isso no detalhe. Tem uma característica fundamental para um atleta de alta competição: o empenho, e de, como se diz na gíria, fazer a vida de atleta ", corrobora à Lusa o diretor técnico daquela que é a melhor formação mundial, elogiando o miúdo "tranquilo, honesto, sério, mesmo boa pessoa, com caráter, personalidade, e muito inteligente" com quem tem o privilégio de trabalhar.
Desse primeiro encontro com a Lusa, fica a imagem de um jovem introvertido e ponderado, intrinsecamente tranquilo, ainda desconfortável perante uma atenção mediática 'estranha' para alguém que estava a começar a viver o sonho de representar "uma equipa fora da caixa", mas sem pudor de reconhecer que, na estreia entre os grandes do pelotão, no Tour Down Under, estava "bastante nervoso".
À timidez nos bastidores, contrapôs performances sólidas e um trabalho fantástico para levar Remco Evenepoel à vitória final na 'Algarvia', prova em que, ainda assim, foi nono, num binómio ganhador prolongado na Volta a Burgos e interrompido devido à queda do fenómeno belga, um azar a somar à extensa lista de infortúnios da Deceuninck-QuickStep nesta curta temporada, que, ironicamente, lhe abriu as portas do Giro.
Oito meses depois, a Pantera - assim o batizou a mãe, Ana, no momento em que o viu de fato completo de contrarrelógio quando liderava o Giro Ciclístico d'Italia (a versão sub-23 da 'corsa rosa'), no qual haveria de ser segundo, em 2018 - transfigurou-se.
Ao desafio das câmaras, responde com solvência, a mesma que demonstra na estrada, não se intimidando nas respostas e revelando uma maturidade notável para quem cumpriu 22 anos em 5 de agosto, nomeadamente ao desvalorizar perguntas sobre as 'caretas' que faz enquanto pedala e que são já uma das suas imagens de marca. Aos dos adversários, com determinação, 'garra', sem nunca se intimidar ou virar a cara à luta, tendo mesmo conquistado um fã em Vincenzo Nibali.
"É uma pessoa muito segura, mesmo quando não corre assim tão bem, em relação às perspetivas dele, a moral é sempre alta. Nunca vai para a corrida derrotado. E, depois, é uma pessoa calma, não se enerva, não pensa que vai correr mal. E ele cresce quando é líder, enquanto há outros que ficam nervosos e para quem a camisola é um problema. Isso são sinais de um líder, de um corredor talhado para ser líder, que assume e dá confiança aos outros à volta dele. Essa é a qualidade de um campeão, a de assumir", descreve à Lusa o selecionador nacional.
José Poeira conhece o corredor de A-dos-Francos, que antes de se render ao BTT e, posteriormente, ao ciclismo de estrada, ainda andou no futebol e até no rancho folclórico local, há "uns sete anos", desde que o convocou para um estágio de cadetes e ficou impressionado com a prestação do miúdo, quer nos testes progressivos, em que detetaram que este tinha "capacidades muita acima da média em relação aos outros cadetes", quer no treino conjunto com os juniores, em que atacou numa subida para ser apanhado lá no alto por apenas três ciclistas do escalão superior.
Agora, depois de assistir a uma exibição "firme", sem oscilações, de Almeida, o selecionador nacional acredita que o miúdo que "encantou o mundo do ciclismo e do desporto", ao dar espetáculo e ao prender as pessoas à televisão, poderá ter convencido os diretores da sua equipa a apostarem nele para outras aventuras como aquela que protagonizou neste Giro, onde vestiu de rosa durante 15 dias e, hoje, concluiu a sua epopeia na quarta posição, a melhor de sempre de um português na "corsa rosa".