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Botafogo, a peça brasileira no xadrez de John Textor

O empresário americano, que não conseguiu adquirir 25% do Benfica, construiu um império nos últimos dois anos com Crystal Palace, Lyon, Molenbeek e Botafogo. O Negócios entrevistou Thairo Arruda, CEO do clube carioca.
Vítor Rodrigues Oliveira 24 de Setembro de 2023 às 15:00

Primeiro, avançou para as águias. 

Em julho de 2021, John Textor fez um acordo com José António dos Santos para comprar 25% de capital que o presidente do grupo Valouro detinha na SAD do Benfica. Só que, no mês seguinte, Luís Filipe Vieira seria detido (por suspeitas de burla, fraude fiscal, branqueamento, entre outros), sobrando para Rui Costa a decisão de acolher ou não esse novo capital. Em janeiro de 2022, o Benfica acabaria por fechar as portas a Textor.

Mas o plano do empresário norte-americano de entrar em força no mundo do futebol seguiria por outros caminhos. Desde logo, porque a "caça" de águias não se fazia apenas em Lisboa — no mesmo verão de 2021, John Textor fechava o acordo para entrar no capital do londrino Crystal Palace.

Seria apenas o início da estratégia de multipropriedade ("multi–club ownership", em inglês) da "holding" Eagle Football, que, dois anos e meio depois, detém um pequeno império: num ápice, comprou 46% do clube inglês, 77,5% do francês Lyon, 80% do belga Molenbeek e 90% do Botafogo, que aqui conheceremos melhor.

Os ativos que a Eagle Football tem sob gestão seriam suficientes, segundo o Financial Times, para ficar em 20º lugar na lista de clubes mais valiosos, atrás dos grandes de Milão e do West Ham.

Antes uma águia na mão do que duas a voar

A ideia inicial de Textor, reconheceu no final de julho em entrevista à Athletic, era juntar duas águias — Benfica e Crystal Palace — na "holding" Eagle Football, que o empresário detém em parceria com o canadiano Jamie Holder.

O Benfica não só deitou por terra esse plano como acabou por condicionar uma decisão de Textor que hoje lhe traz sabor amargo. Na esfera da "holding", o clube do bairro de Croydon, no sul de Londres, que está em nono lugar na Premier League, é o único em que não tem participação maioritária. A razão? Apesar de ter sido convidado para adquirir a maioria do capital, Textor decidiu então ficar-se pelos 40% (por 101 milhões de euros), porque estava a "tentar conservar capital pessoal para comprar o Benfica", disse ao jornal desportivo detido pelo New York Times, assumindo que "foi um grande erro".

O Crystal Palace aproveitou essa entrada de capital para acabar de construir a sua academia e ajudar a resolver parte dos problemas financeiros que o afetavam, pelo que, de repente, já não precisavam de Textor como acionista maioritário. O empresário percebeu cedo que "ninguém queria vender mais ações".

No primeiro trimestre deste ano, a Eagle Football ainda conseguiu comprar mais 6% do capital por 34,8 milhões de euros, mas não é o suficiente para controlar nem sequer condicionar a gestão do clube como Textor gostaria, o que passava por envolver o Crystal Palace na engrenagem do Eagle Footbal, com Lyon, Molenbeek e Botafogo. "Temos uma divisão espiritual [com o chairman do Crystal Palace] sobre os méritos da colaboração ‘multi-clubes’ vs governança de clube único", reconheceu. "Não estão verdadeiramente a ouvir-me sobre os jogadores".

E, como tal, deixou a ameaça: "Ou somos convidados a assumir maior liderança ao longo do tempo ou quereremos transferir o nosso capital para outro lugar". Isto porque Textor vê a Premier League como um elemento essencial na estratégia de multipropriedade.

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