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Lucro da Jerónimo Martins recua 18% até setembro para 219 milhões de euros

A Jerónimo Martins apresentou esta quarta-feira os resultados dos primeiros nove meses de 2020. O Conselho de Administração vai propor a distribuição do montante remanescente dos dividendos, que tinham sido cortados em maio.

Pedro Soares dos Santos, CEO da Jerónimo Martins, viu os lucros do grupo caírem 36% no semestre.
Bruno Colaço
28 de Outubro de 2020 às 17:45
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A Jerónimo Martins (JM) fechou os primeiros nove meses do ano com lucros de 219 milhões de euros, uma quebra de 17,8% face ao mesmo período do ano passado.

Os resultados da dona dos supermercados Pingo Doce foram publicados esta quarta-feira na Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM).

As vendas consolidadas cresceram 3,9% para 14,2 mil milhões de euros até setembro. No terceiro trimestre, o aumento das vendas foi de 2,7% para 4,9 mil milhões de euros. O EBITDA caiu 1,9% para 1.029 milhões de euros entre janeiro e setembro. Já no terceiro trimestre, o EBITDA subiu 3,3% para 395 milhões. 


Depois de meses de incerteza, que levaram o grupo a cortar, em maio, a proposta de dividendo anunciada no início do ano, a retalhista decidiu agora propor o pagamento aos acionistas do montante remanescente. 

"Atendendo à força do desempenho em tempos de adversidade, à luz da posição de caixa que temos no final de Setembro e do nível de flexibilidade financeira que consideramos necessária no futuro, o Conselho de Administração decidiu propor em Assembleia Geral Extraordinária, a distribuição do montante remanescente para o payout de 50%, em linha com a política de dividendos do Grupo", refere o CEO do grupo, Pedro Soares dos Santos, numa mensagem que acompanha as contas do trimestre.

Na altura, o grupo cortou a proposta de dividendo anunciada no início do ano, de 34,5 cêntimos por ação, para 20,7 cêntimos, reduzindo o montante total distribuído aos acionistas de 216,8 milhões de euros para 130,1 milhões. Soares dos Santos já admitia então que, se a evolução da crise o permitisse, o grupo poderia distribuir os 86 milhões que estava a guardar antes do final do ano. 

É o que irá acontecer agora, com o Conselho de Administração a propor, em Assembleia Geral Extraordinária que se irá realizar a 26 de Novembro, "a distribuição de reservas livres no montante de 86,7 milhões de euros, equivalente a um valor bruto por acção de 0,138 euros, excluindo as acções próprias em carteira".


"Apesar da dureza dos tempos que vivemos, acredito que estamos hoje mais bem preparados do que há seis meses para lidar com as exigências da realidade de cada mercado e para continuar a crescer de forma sustentável", acrescenta Soares dos Santos.

O CEO afirma-se, ainda assim, "consciente de que a incerteza permanece muito elevada e que o Natal, época tradicionalmente mais forte para o negócio alimentar, poderá estar este ano condicionado pelas restrições à mobilidade e pela falta de confiança e capacidade de compra de um consumidor cada vez mais sensível ao preço, derivado do momento único que se vive a nível mundial". 

Vendas do Pingo Doce em queda 

O aumento das vendas do grupo nos primeiros nove meses do ano deveu-se, sobretudo, ao bom desempenho da polaca Biedronka. Em Portugal, a retalhista nota que "o ambiente de consumo manteve-se pressionado pelos efeitos da pandemia, com sinais claros de trading down no retalho alimentar". 

As vendas do Pingo Doce recuaram 2,3% até setembro, para 2,8 mil milhões de euros. No trimestre, a queda foi menos acentuada, de 1,3%, para mil milhões, devido à "polótica promocional forte" da cadeia de supermercados, "numa altura reconhecidamente difícil para o consumidor português". O grupo refere que nos primeiros nove meses o Pingo Doce "esteve particularmente exposto à redução da circulação de pessoas, quer pelo seu histórico de elevada densidade de vendas e elevado número de visitas, quer pelo impacto que a ausência de tráfego tem nos restaurantes, cafés e na categoria de take-away da insígnia", que abriu nove localizações novas e fez 17 remodelações. 

As vendas do Recheio registaram quebras mais acentuadas. Até setembro, o tombo foi de 15,7%, para 639 milhões de euros. No terceiro trimestre a queda foi de 17,7%. O desempenho negativo ainda reflete "a queda dramática registada no canal HoReCa, que representava mais de 35% das vendas do Recheio". A reabertura dos restaurantes, a 18 de maio, "levou a um processo lento e irregular de reactivação da actividade, com muitos pequenos negócios a permanecerem encerrados", e o consumo alimentar fora de casa, "que em Portugal, é em grande parte suportado pelo turismo - sofre também em resultado da retracção da procura dos consumidores locais". 

Ainda assim, o grupo nota que "o início do ano escolar parece estar a trazer uma crescente circulação de pessoas, o que pode vir a mitigar a pressão que se tem registado sobre o consumo nos dois últimos trimestres". 

A Polónia continua a ser a estrela da companhia, nomeadamente a Biedronka. As vendas da insígnia da joaninha subiram 7,3% para 9,9 mil milhões de euros. No terceiro trimestre o aumento foi de 6,4%, atingindo os 3,4 mil milhões de euros.

"Após ter temporariamente suspendido, no início da pandemia, o plano de investimento, a Biedronka está agora concentrada na execução do seu plano de aberturas e de remodelações, tendo inaugurado 52 novas localizações (45 adições líquidas) e remodelado 167 lojas", refere o grupo. 

Por sua vez, as vendas da Hebe encolheram 9,4% até setembro, para 180 milhões de euros, mas subiram 1,7% no terceiro trimestre. O desempenho da marca foi "muito impactado" no segundo trimestre "pelo encerramento dos centros comerciais cuja reabertura no início de Maio, em conjunto com a recuperação de alguma vida social no país, permitiu à Companhia recuperar dinâmica de vendas". 


Na Colômbia, onde as medidas de confinamento se estenderam de abril e agosto, as vendas da Ara cresceram 9,8% até setembro para 615 milhões de euros, tendo recuado 1,7% no trimestre. 

Covid custa 32 milhões

Na atualização trimestral que faz ao impacto da pandemia nas contas do grupo, a JM refere que, no conjunto de todas as empresas do grupo, registou-se um aumento de 32 milhões de euros ao nível dos custos operacionais relativos a prémios extraordinários pagos às equipas operacionais, despesas com equipamentos e materiais de protecção individuais e colectivos e "financiamento de múltiplas iniciativas de apoio social nos três países". A estes custos, acrescenta a JM, "acresceram, a nível das Outras Perdas e Ganhos, 3 milhões de euros que concernem ao reforço de provisões para valores a receber cujo risco de não realização aumentou substancialmente devido à pandemia". 

Nas perspetivas para o que resta do ano, a JM antecipa recuperar o ritmo de expansão, sobretudo na Polónia. "Se as condições no sector da construção não se alterarem, esperamos que, no ano, a Biedronka acrescente à sua rede de lojas mais 100 localizações". Já o Pingo Doce deverá abrir 13 lojas e a Ara 50. O valor estimado de investimento total em 2020 deverá situar-se em 450 milhões de euros.

(Notícia atualizada pela última vez às 18h40)

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