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Brinquedos não são só uma coisa de crianças e Pai Natal

Bem-vindo ao mundo encantado dos brinquedos onde não há reis, princesas, dragões. O artesão do revivalismo "PE-PE" esconde-se num armazém de Alfena.

Paulo Duarte/Negócios
27 de Novembro de 2013 às 22:00
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Adultos "revivalistas" e empenhados coleccionadores são os principais consumidores dos históricos brinquedos com a marca PE-PE, fabricados artesanalmente num pequeno armazém de Alfena, no concelho de Valongo. As restritas normas europeias de segurança e a "febre telecomandada" do século XXI ajudam a comprovar a tese de que estes produtos não são um exclusivo nas mãos das crianças nem debaixo de um pinheiro enfeitado.

A menos de um mês do Natal, as mãos de Júlio Penela não precisam de acelerar os movimentos. Protegidas por luvas salpicadas com cores garridas, vão dando resposta, a baixo ritmo, às pequenas encomendas chegadas nas últimas semanas – tudo é feito por encomenda. "Isto não tem consumo nos grandes centros comerciais, por isso a época alta para mim até é mais no pico do Verão por causa das feiras e das festas", apontou o gerente, 48 anos. É, porém, na altura das santos populares que precisa de contratar algumas pessoas em "part-time" que ajudem no fabrico dos clássicos martelinhos do S. João. Resignado, explicou que "o brinquedo já não justifica meter pessoal, como há 20 ou 30 anos".

A par das miniaturas de máquinas de costura, de tábuas de passar a ferro e de automóveis Carocha, o "best-seller" é a Volkswagen Kombi, a popular "pão de forma" da marca alemã. Em ponto real deixará de ser fabricada no final deste ano, após 63 de produção; as réplicas em ponto pequeno desta "carrinha hippie" chegarão dentro de poucos dias a bazares no Porto, Lisboa, Coimbra ou Braga e também às prateleiras d’A Vida Portuguesa. As populares lojas de Catarina Portas – a empresária prepara-se para abrir mais uma no largo lisboeta do Intendente – já são o melhor cliente destes brinquedos que fazem parte do imaginário de qualquer português com mais de um quarto de século de vida.

Fora do País, vende apenas tambores, vira-ventos e "uns carritos antigos" em Espanha e esporádicos modelos "VW" para a Alemanha. A Internet gerou um novo mercado em segunda mão para os brinquedos valorizados pelas marcas JATO e PE-PE. Em sites de leilões, Penela já encontrou alguns feitos em chapa pelo avô José Augusto, que não se fabricam há 50 anos porque "as ferramentas já nem sequer existem". Compra "como investimento futuro – ainda há dias ofereceram quatro mil euros por um bólide de corrida da Mercedes – e para ter uma recordação do que a empresa produzia antigamente".

A maior parte dos brinquedos são catalogados como artesanato por conter materiais considerados perigosos para as crianças de hoje em dia. De qualquer das formas, o empresário até duvida do sucesso comercial nessa faixa etária: "elas hoje só querem saber de computadores. Acham piada, mas não brincam com isto. Não tem telecomando, só tem corda...", gracejou.

E também não dão "corda" a este negócio familiar, já que esta área vale apenas 10% na facturação da BruPlast, que garante a rentabilidade na injecção de plástico para clientes industriais. "É para não deixar acabar a tradição da família, somente isso. Por exemplo, a ‘pão de forma’ sai daqui a cinco euros, quase o preço de custo. Com estes brinquedos não se ganha dinheiro".

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