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A 1 de Fevereiro, já não vão sair refrigerantes da fábrica de Santarém da Unicer

A Unicer vai cancelar a operação de fabrico de refrigerantes no final do mês, três meses antes do inicialmente previsto. A empresa garante que vai pagar salários até lá aos 70 funcionários com que irá rescindir. Trabalhadores dizem que foram apanhados de surpresa.

Paulo Duarte
07 de Janeiro de 2016 às 17:47
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A Unicer vai deixar de produzir refrigerantes mais cedo do que o esperado. Em vez de Abril, a descontinuação da unidade de Santarém vai ocorrer já a 31 de Janeiro. No dia seguinte, já não será a empresa a responsável por fabricar marcas como a Frisumo e a Frutea. A espanhola Font Salem, que em Santarém produz a cerveja Cintra, vai ser a nova fabricante.


Apesar desta alteração, a Unicer, liderada por Rui Lopes Ferreira (na foto), assegura que "mantêm-se de forma integral as condições para os trabalhadores afectos ao processo, nomeadamente o valor da retribuição salarial até 30 de Abril", assinala o comunicado enviado às redacções. Ou seja, os funcionários vão receber pelos três meses que não vão trabalhar devido ao fecho antecipado da fábrica.

 

A Unicer (que fabrica também as insígnias de cervejas como a SuperBock e Carlsberg) anunciou, no início de Outubro, que iria avançar com o corte de 140 postos de trabalho, 70 deles da fábrica de Santarém, que seria fechada, e outros 70 da restante estrutura. Em Dezembro, a empresa já tinha concluído a primeira fase, rescindindo com 65 funcionários da empresa dos 70 previstos. Em causa estavam, segundo disse a empresa à Lusa na altura, "casos de mobilidades para outras áreas e não renovações contratuais". 

[Esta decisão] apanha os trabalhadores desprevenidos e é um completo murro no estômago.
Eduardo Andrade
Coordenador da Comissão de Trabalhadores da Unicer

Agora, a 7 de Janeiro, entra em vigor a segunda fase da reestruturação/despedimento. Serão afectados 70 trabalhadores, os que trabalhavam na unidade fabril que fecha em Janeiro, que já foram informadas da decisão de adiantamento do fecho da Rical, algo possível "considerando a redução do período de transição da produção e enchimento de refrigerantes para o parceiro de negócio, sem comprometer a operação e o abastecimento ao mercado". A Unicer, que continuará a tratar da comercialização dos refrigerantes, terá a Font Salem como parceiro.  

 

Detida em 55% pela Viacer (do grupo Violas, Arsospi e BPI) e em 45% pela Carlsberg, a Unicer, que conta com uma força de trabalho de mais de 1.100 trabalhadores, reitera que tem um plano de mobilidade interna que vai permitir que "até 10" colaboradores possam integrar outras áreas da estrutura. Já a Font Salem está disponível para receber 25 pessoas (que o queiram). Nestes últimos casos, não há garantia de que o emprego seja próximo do actual posto de trabalho.

 

"A empresa dará seguimento ao plano de acompanhamento dos colaboradores de Santarém iniciado ainda em 2015, privilegiando soluções individualmente acordadas com os trabalhadores", diz ainda a companhia.

 

Angola é o principal motivo para a decisão tomada pela cervejeira, que segundo o município de Santarém, recebeu fundos comunitários superiores a 7 mil milhões de euros e, apesar disso, é agora encerrada. A Unicer antecipava que "a redução no volume de negócios da empresa, subjacente a uma quebra no mercado cervejeiro angolano que se estima em 30% [em 2015]" teria impacto em 2016. 

Trabalhadores da fábrica da Unicer apanhados de surpresa com fecho antecipado

 

O coordenador da comissão de trabalhadores da Unicer afirmou à agência Lusa que a antecipação do encerramento da fábrica foi "um murro no estômago" que surpreendeu os funcionários. Contactado pela Lusa, o coordenador da comissão de trabalhadores da Unicer, Eduardo Andrade, disse que "os trabalhadores foram todos apanhados de surpresa", sublinhando que "a Unicer continua a precisar de produzir para o mercado".

 

"Não sabemos se foi uma decisão tomada agora ou se já estava pensada previamente, mas a verdade é que apanha os trabalhadores desprevenidos e é um completo murro no estômago", afirmou o responsável, que adiantou que a comissão de trabalhadores vai "falar diretamente com os trabalhadores no terreno" na sexta-feira para "perceber qual é a intenção que têm".

 

Depois de ouvidos os trabalhadores e de contactados os sindicatos, a comissão de trabalhadores da Unicer irá avaliar se vai ou não avançar para alguma forma de luta para protestar contra esta decisão.

 

"Decidiremos sempre em função da opinião dos trabalhadores e só amanhã [sexta-feira] é que teremos mais informação", disse Eduardo Andrade, acrescentando que "há dúvidas legais" sobre esta decisão.

 

Eduardo Andrade disse estar "preocupado com o futuro dos trabalhadores" e defendeu que "a Unicer não tem legitimidade nenhuma para fechar a fábrica de Santarém, que até este ano operou sempre com rentabilidade". 

 

O coordenador da comissão de trabalhadores da Unicer afirmou ainda que foi enviado um pedido de audiência ao ministro da Economia, que ainda aguarda uma resposta. 

Anos de crise na fabricante da Super Bock

Angola 

As alfândegas e os portos em Angola fizeram tremer as importações da Unicer para o país em 2013. No ano seguinte, houve aumento de taxas aduaneiras. Uma fábrica local iria limitar o impacto destas incertezas nos resultados do grupo. Entretanto, o país africano foi fortemente afectado pela crise do petróleo.

Gestão
João Abecasis, ex-CEO, disse em Janeiro que a prioridade da Unicer era "a defesa de postos de trabalho em Portugal". Seria o último passo caso Angola trouxesse problemas. Em Julho, saiu do cargo por diferente "visão estratégica" face ao accionista. Entrou Rui Lopes Ferreira, que era até então administrador financeiro. 

Reestruturação
Em 2013, houve lugar a uma reestruturação na empresa, devido à quebra de receitas e aos problemas em Angola. A produção da cerveja (a Unicer detém marcas como a SuperBock e Carlsberg) passou a ser feita em Leça do Balio e deixou Santarém, onde continuaram os refrigerantes – até Maio de 2016.


Parceiro

A Font Salem é a empresa parceria da Unicer neste negócio, ainda que não sejam conhecidos os valores. A Unicer, da SuperBock, deixa de produzir as marcas de refrigerantes mas continua a comercializá-los. Já a espanhola Font Salem, que produz a cerveja Cintra, entra nos refrigerantes ao produzir as marcas que a Unicer vai deixar de operar, exemplos da Frisumo e Frutea.

(Notícia actualização às 19:02 com a reacção do coordenador da comissão de trabalhadores da Unicer)
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