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Vasco Orey: Relatório da EY "contém realidades alternativas das quais são extraídas conclusões"
O antigo diretor da Direção de Risco da CGD deixa críticas ao relatório da EY, apontando falhas no documento. Vasco Orey garante que a entidade que liderava não tomava decisões relativamente à concessão de crédito.
Vasco Orey, ex-diretor responsável pela Direção de Gestão de Risco (DGR) da Caixa Geral de Depósitos, garante que a entidade que liderava apenas apresentava os pareceres de risco relativamente às operações, não participando na tomada de decisão, tal como a EY adianta no seu relatório.
"O relatório da EY contém realidades alternativas das quais são extraídas conclusões", afirmou Vasco Orey aos deputados na comissão parlamentar de inquérito à gestão da CGD, criada depois de uma auditoria da EY ter revelado que o banco público concedeu créditos mesmo perante o parecer desfavorável da Direção de Risco.
De acordo com o ex-diretor, "há aqui três dimensões que estão no relatório", nomeadamente uma "afirmação que é feita de que a DGR participou na decisão das operações de crédito". Vasco Orey diz "não conseguir encontrar suporte factual para ela". E garante que a independência da direção nunca esteve em causa, negando o que foi referido pela auditora na análise a 16 anos de gestão do banco estatal.
"Não sendo a DGR totalmente independente do processo de decisão de crédito, nem tendo políticas de referência contra as quais pudesse validar o cumprimento pelas áreas de crédito, ficou com o seu estatuto de função de gestão de riscos enfraquecido", de acordo com a auditoria da EY.
"Este relatório que estamos a ver acusa a DGR de não ser independente na emissão de pareceres porque pertence a um órgão de decisão quando a DGR não participava até 2010 neste órgão de decisão para novo crédito", reforça o ex-diretor do risco da CGD.
O documento refere ainda que, "entre 2001 e 2008, o CRO [Chief Risk Officer], na função de Diretor Central da DGR, participava diretamente nas decisões de crédito que respeitassem ao 4º escalão de decisão de crédito".
Sobre o cargo que é referido, Vasco Orey diz que "enquanto estive na CGD não tive conhecimento de ser nomeado CRO", garantindo que "tudo o que está aqui em relação ao CRO é realidade virtual".
Estas declarações são feitas depois de outros ex-responsáveis da CGD terem também criticado o relatório da EY. Foi o caso de Eduardo Paz Ferreira, ex-presidente da comissão de auditoria da CGD, que considerou que a auditoria da EY incorre em "contradição grave" sobre a atuação dos órgãos de fiscalização.
"O relatório de auditoria é insuficiente e descuidado", afirmou durante a sua audição na segunda comissão parlamentar de inquérito à gestão da CGD. Para o ex-presidente da comissão de auditoria da Caixa, a auditoria "não favorece a constituição dos factos, incorrendo em contradição grave sobre a atuação dos órgãos de fiscalização".
Manuel de Oliveira Rego, antigo Revisor Oficial de Contas da CGD, também disse "não ter sido contactado pela EY" para a elaboração da auditoria entre 2000 e 2015.
Direção de Risco "defendeu" os pareceres nos conselhos
"Os senhores já falaram, agora nós decidimos." Esta foi uma das frases que marcou Vasco Orey enquanto esteve na CGD e terá sido dita pela administração numa das reuniões dos conselhos de crédito na qual foram discutidos os créditos que seriam concedidos pelo banco. O ex-diretor não se recorda, contudo, é que empréstimo é que estaria em causa nesse momento.
Apesar de a DGR não ter de poder de decisão nos conselhos de crédito da CGD, o responsável garante que os pareceres apresentados eram defendidos nestas reuniões. "A DGR não estava de bico calado. Defendemos o que estava escrito nos pareceres", afirmou Vasco Orey, quando questionado relativamente a determinadas operações, nomeadamente a decisão de financiar o empresário Joe Berardo para a compra de ações do BCP, uma operação que acabou por ser ruinosa para o banco estatal.
"Compete-me, e à equipa com que trabalhava, ser o mais profissional possível na elaboração dos pareceres. Posso alertar. Agora, a partir daí está completamente fora das minhas mãos", disse o ex-diretor de risco, explicando que o parecer era elaborado, entregue à área comercial, que, por sua vez, anexava ao processo que era depois apresentado nos conselhos de crédito. "O objetivo era defender o capital da Caixa", sendo que pode ter havido algumas "decisões foram tomadas por motivos que são desconhecidos do risco". E sublinhou: "Só quem as tomou é que poderá responder".
(Notícia atualizada às 21h59 com mais informação)