Outros sites Medialivre
Notícias em Destaque
Notícia

Vasco Orey: Relatório da EY "contém realidades alternativas das quais são extraídas conclusões"

O antigo diretor da Direção de Risco da CGD deixa críticas ao relatório da EY, apontando falhas no documento. Vasco Orey garante que a entidade que liderava não tomava decisões relativamente à concessão de crédito. 

João Relvas/Lusa
11 de Abril de 2019 às 19:21
  • ...

Vasco Orey, ex-diretor responsável pela Direção de Gestão de Risco (DGR) da Caixa Geral de Depósitos, garante que a entidade que liderava apenas apresentava os pareceres de risco relativamente às operações, não participando na tomada de decisão, tal como a EY adianta no seu relatório. 

 

"O relatório da EY contém realidades alternativas das quais são extraídas conclusões", afirmou Vasco Orey aos deputados na comissão parlamentar de inquérito à gestão da CGD, criada depois de uma auditoria da EY ter revelado que o banco público concedeu créditos mesmo perante o parecer desfavorável da Direção de Risco.  

 

De acordo com o ex-diretor, "há aqui três dimensões que estão no relatório", nomeadamente uma "afirmação que é feita de que a DGR participou na decisão das operações de crédito". Vasco Orey diz "não conseguir encontrar suporte factual para ela". E garante que a independência da direção nunca esteve em causa, negando o que foi referido pela auditora na análise a 16 anos de gestão do banco estatal. 

 

"Não sendo a DGR totalmente independente do processo de decisão de crédito, nem tendo políticas de referência contra as quais pudesse validar o cumprimento pelas áreas de crédito, ficou com o seu estatuto de função de gestão de riscos enfraquecido", de acordo com a auditoria da EY. 

 

"Este relatório que estamos a ver acusa a DGR de não ser independente na emissão de pareceres porque pertence a um órgão de decisão quando a DGR não participava até 2010 neste órgão de decisão para novo crédito", reforça o ex-diretor do risco da CGD. 

 

O documento refere ainda que, "entre 2001 e 2008, o CRO [Chief Risk Officer], na função de Diretor Central da DGR, participava diretamente nas decisões de crédito que respeitassem ao 4º escalão de decisão de crédito". 

 

Sobre o cargo que é referido, Vasco Orey diz que "enquanto estive na CGD não tive conhecimento de ser nomeado CRO", garantindo que "tudo o que está aqui em relação ao CRO é realidade virtual". 

Estas declarações são feitas depois de outros ex-responsáveis da CGD terem também criticado o relatório da EY. Foi o caso de Eduardo Paz Ferreira, ex-presidente da comissão de auditoria da CGD, que considerou que a auditoria da EY incorre em "contradição grave" sobre a atuação dos órgãos de fiscalização.

 

"O relatório de auditoria é insuficiente e descuidado", afirmou durante a sua audição na segunda comissão parlamentar de inquérito à gestão da CGD. Para o ex-presidente da comissão de auditoria da Caixa, a auditoria "não favorece a constituição dos factos, incorrendo em contradição grave sobre a atuação dos órgãos de fiscalização".

 

Manuel de Oliveira Rego, antigo Revisor Oficial de Contas da CGD, também disse "não ter sido contactado pela EY" para a elaboração da auditoria entre 2000 e 2015.

 

Direção de Risco "defendeu" os pareceres nos conselhos

 

"Os senhores já falaram, agora nós decidimos." Esta foi uma das frases que marcou Vasco Orey enquanto esteve na CGD e terá sido dita pela administração numa das reuniões dos conselhos de crédito na qual foram discutidos os créditos que seriam concedidos pelo banco. O ex-diretor não se recorda, contudo, é que empréstimo é que estaria em causa nesse momento. 

Apesar de a DGR não ter de poder de decisão nos conselhos de crédito da CGD, o responsável garante que os pareceres apresentados eram defendidos nestas reuniões. "A DGR não estava de bico calado. Defendemos o que estava escrito nos pareceres", afirmou Vasco Orey, quando questionado relativamente a determinadas operações, nomeadamente a decisão de financiar o empresário Joe Berardo para a compra de ações do BCP, uma operação que acabou por ser ruinosa para o banco estatal. 

 

"Compete-me, e à equipa com que trabalhava, ser o mais profissional possível na elaboração dos pareceres. Posso alertar. Agora, a partir daí está completamente fora das minhas mãos", disse o ex-diretor de risco, explicando que o parecer era elaborado, entregue à área comercial, que, por sua vez, anexava ao processo que era depois apresentado nos conselhos de crédito. "O objetivo era defender o capital da Caixa", sendo que pode ter havido algumas "decisões foram tomadas por motivos que são desconhecidos do risco". E sublinhou: "Só quem as tomou é que poderá responder".

(Notícia atualizada às 21h59 com mais informação)

 

Ver comentários
Saber mais Vasco d'Orey Direção de Gestão de Risco Caixa Geral de Depósitos Joe Berardo Eduardo Paz Ferreira Manuel de Oliveira Rego Revisor Oficial de Contas
Outras Notícias
Publicidade
C•Studio