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Tarifas de Trump são "atitude insustentável", avisa Centeno
O governador do Banco de Portugal elencou riscos geopolíticos para o crescimento da economia europeia, que inclui a eleição de Donald Trump e as respetivas tarifas anunciadas na madrugada desta terça-feira.
O governador do Banco de Portugal, Mário Centeno, alertou esta terça-feira para os riscos das tarifas anunciadas durante a madrugada desta terça-feira pelo recém-eleito presidente dos Estados Unidos, Donald Trump.
"A entrada em vigor de tarifas no comércio internacional não são uma boa notícia para a área económica mais aberta do mundo, que é precisamente a área do euro", disse Centeno, na conferência "Banca do Futuro", organizada pelo Negócios.
"E uma pequena economia aberta como a portuguesa sofre quanto este tipo de atitudes insustentáveis são colocadas", completou.
O governador e membro do conselho do Banco Central Europeu deixou vários alertas sobre a estagnação do investimento na economia europeia, "que não cresce, apesar de criar muito emprego", e elencou os "riscos que se acumulam em baixa", que incluem os geopolíticos, com uma guerra na Europa e os derivados das eleições norte-americanas.
Ainda assim, Centeno defendeu que se deve "olhar para a Europa com um misto de otimismo, foi uma região que passou por crises pandémicas e inflacionistas, mas a Europa é uma economia estagnada e não cresce", apesar de o número de empregos estar atualmente em valores recorde.
No entender do governador do Banco de Portugal "a estagnação da economia europeia é o preço que os europeus estão a pagar para combater a inflação". Esse cenário deverá, no entanto, mudar "com o ciclo de taxas de juro a aproximar-se dos 2%, um objetivo compatível com a taxa de inflação que está próxima dos 2%". Desta forma, "os tempos de taxas de juro mais baixas estão ultrapassadas".
Apesar de os Estados Unidos terem, desde a pandemia, registado um crescimento da economia superior do que a Zona Euro: "maravilhoso, mas não é sustentável", disse Centeno.
O membro do conselho do Banco Central Europeu acredita que a Europa tem do seu lado "o benefício de ter tomado decisões sustentáveis, em termos de regulação". A garantia dada é de que é preciso fazer mais, nomeadamente a nível da união do mercado de capitais e da união bancária - criando uma estrutura uniformizada - para que, numa altura em que as poupanças estão em máximos históricos, os europeus "prefiram investir as poupanças na Europa do que noutras jurisdições".
"O maior impedimento na Europa é a falta de confiança, a Europa tem uma aversão ao risco, por isso somos dos mais conservadores do planeta" e um cenário regulatório mais favorável poderia mudar isso, acredita Centeno.
O governador alertou ainda para os riscos da fraqueza da economia alemã e francesa, ambos com quedas da atividade económica, que perfazem "25% das nossas exportações". Daí que seja necessário "criar as almofadas e as condições para que a economia portuguesa possa responder a desafios".