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Os seis temas que marcam as contas do Banif

Os resultados do Banif, a divulgar esta quarta-feira, devem confirmar os lucros verificados desde Março. Há seis temas a ter atenção para perceber o momento do banco. Saiba quais.

Miguel Baltazar/Negócios
11 de Novembro de 2015 às 16:33
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O Banif divulga ao final da tarde desta quarta-feira os resultados dos primeiros nove meses do ano, devendo confirmar a tendência de recuperação da rentabilidade iniciada o primeiro trimestre. A nível operacional deverão manter-se as boas notícias do lado da margem financeira e dos custos. Mas ainda há factores extraordinários a explicar o regresso aos lucros, que também deverão ter continuado a beneficiar do menor volume de imparidades.

 

O nível de solidez é que merece atenção, até dada a necessidade de o banco reembolsar a ajuda do Estado. A carteira de imóveis é um dos factores que coloca pressão sobre o capital. Perceba o que está em causa em cada um destes seis temas.

 

Margem financeira

A principal fonte de proveitos do Banif deverá manter a tendência de recuperação evidenciada no primeiro semestre. Até Junho, os resultados da intermediação financeira subiram 25,1%, para 55,9 milhões de euros, reflectindo a redução das taxas pagas pelos depósitos e a queda dos custos com os instrumentos de capital contingente ("CoCos") subscritos pelo Estado.

 

Ainda assim, os "CoCos" ainda penalizam a margem financeira da instituição liderada por Jorge Tomé, uma vez que ainda falta reembolsar 125 milhões de euros destes instrumentos, que deviam ter sido pagos no final de 2014. A sua manutenção custa cerca de 12,5 milhões de euros ao Banif.

 

Além disso, como o banco não cumpriu o calendário de devolução da última fatia de "CoCos" – devido aos custos de 120 milhões com a queda do BES e do GES –, a Direcção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia abriu uma investigação aprofundada à ajuda do Estado ao Banif. No total, a instituição recebeu 1.100 milhões do Estado, 400 milhões através de "CoCos" (dos quais já reembolsou 275 milhões) e 700 milhões através de um aumento de capital subscrito pelo Tesouro, que controla 60,53% do banco.

 

Custos operacionais

A redução dos custos operacionais do Banif – visível nos gastos com pessoal, encargos gerais e amortizações – foi um dos factores que mais contribuiu para os resultados positivos do Banif no primeiro semestre. O corte de 46 milhões em termos absolutos (redução de 56,4%) foi quase da mesma dimensão que o contributo da mais-valia com a venda do Banif Mais (49,1 milhões).

 

A tendência de diminuição dos gastos terá prosseguido até Setembro e, juntamente com o aumento da margem financeira e das comissões líquidas, é dos principais argumentos da gestão do Banif junto das autoridades europeias para demonstrar a viabilidade económica do banco.

 

O corte de custos resulta das medidas de reestruturação adoptadas no âmbito do plano de reestruturação da instituição, que a Direcção-Geral da Concorrência da Comissão Europeia nunca chegou a aprovar por duvidar da capacidade de o banco ser viável. Nos primeiros seis meses do ano, o Banif continuou a reduzir o número de agências – foram encerrados 41 balcões – e o quadro de pessoal. No final de Junho, o banco tinha 2.267 colaboradores, contra 2.980 um ano antes.

 

Produto bancário

Apesar do aumento da margem financeira e das comissões líquidas (mais 22% no primeiro semestre), o produto bancário como um todo deverá manter nos primeiros nove meses do ano o movimento de queda iniciado até ao final de Junho. No primeiro semestre, o conjunto dos proveitos caiu 38,2% para 116,8 milhões.

 

Até final de Junho, a queda do produto bancário deveu-se, e assim deverá ter continuado no terceiro trimestre, à redução das mais-valias com a venda de dívida pública e às perdas geradas pela venda de imóveis. Estas duas razões ditaram, e deverão voltar a provocar, respectivamente, a queda de 45,% dos resultados em operações financeiras e um prejuízo de 18,9 milhões nos outros resultados de exploração.

Capital

O nível da solidez do Banif manter-se-á acima dos mínimos exigidos pelo supervisor ainda que com uma pequena folga. Era esta a situação no final do primeiro semestre, altura em que o rácio de capital "common equity tier one" se fixou em 8,4%, face ao requisito de 8%.

 

A pressão sobre o capital do banco resulta, por um lado, das perdas resultantes da exposição ao BES e ao GES (120 milhões contabilizados em 2014) e também do peso da carteira de imóveis. O plano de solidez da instituição, definido no início de 2013, quando a instituição recebeu ajuda do Estado, previa imparidades de 150 milhões para o património imobiliário. No entanto, houve necessidade de registar 360 milhões de provisões para reconhecer a desvalorização destes activos.

 

Para reforçar a folga de solidez, o Banif tem em curso várias iniciativas, como os processos de venda do banco em malta, da seguradora Açoreana e da carteira de imóveis, além de medidas de redução dos activos ponderados pelo risco. Mas a prazo, as novas exigências de capital que lhe deverão ser colocadas prometem colocar a necessidade de uma injecção de dinheiro que, no mínimo, terá de ascender a 150 milhões de euros.

 

É precisamente para fazer face a esta necessidade que a gestão de Jorge Tomé tem mantido contactos com diversos potenciais investidores, que possam, não só fazer face às necessidades de capitalização do banco, assegurar o reembolso dos 125 milhões da última tranche de "CoCos" e também substituir o Estado como principal accionista. Impossível de concretizar parece o objectivo de o Tesouro recuperar os 700 milhões que aplicou em acções do Banif.

Imóveis

O Banif ainda tem 700 milhões de activos imobiliários, apesar do esforço de venda realizado nos últimos anos. Apesar de ter um nível de provisões significativo, esta carteira penaliza os rácios de solidez do banco. E a venda de imóveis tem condicionado a rentabilidade da instituição.

 

No primeiro semestre deste ano, as menos-valias realizadas com a alienação de imóveis foram a principal razão para o facto de o banco ter tido prejuízos de 18,9 milhões na rubrica de outros resultados de exploração. Além disso, a necessidade de reforçar as imparidades para os activos imobiliários teve um impacto negativo de 13 milhões nas contas do semestre.

 

O peso que os imóveis têm nas contas do Banif já levaram a gestão a propor à direcção da Associação Portuguesa de Bancos a criação de um veículo que, com o recurso a fundos comunitários, permitisse retirar os activos imobiliários do balanço dos bancos. No entanto, a proposta não terá tido qualquer desenvolvimento.

 

Imparidades

Apesar da necessidade de reforçar as imparidades para imóveis, o Banif está a conseguir reduzir as provisões para crédito com incumprimento, como ficou evidente nas contas do primeiro semestre. Aliás, nos primeiros seis meses do ano, a redução das imparidades para malparado mais do que compensou a necessidade de novos reconhecimentos resultantes da desvalorização da carteira de imobiliário.

 

Até ao final de Junho, o conjunto das imparidades e provisões líquidas ascendeu a 54 milhões de euros, uma redução de 62,6% face ao primeiro semestre de 2014. Este desempenho reflectiu a diminuição de 75,8% verificada nas imparidades para crédito.

 

A tendência de diminuição das imparidades para crédito deverá ter prosseguido no terceiro trimestre. 
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