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Santa Casa chega a princípio de acordo para entrar no Montepio

As entidades lideradas por Tomás Correia e Santana Lopes assinaram um memorando de entendimento para que a Santa Casa possa ter uma posição na caixa económica do Montepio. Outras instituições também pode entrar. O acordo pode chegar à área da saúde.

Bruno Simão/Negócios
30 de Junho de 2017 às 19:02
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A Santa Casa da Misericórdia de Lisboa já tem um princípio de acordo com a associação mutualista para entrar no Montepio. A entidade liderada por Pedro Santana Lopes (na foto) pode investir na Caixa Económica, mas também abre espaço à entrada de outras entidades. Estão iniciadas oficialmente as negociações.

 

"Torna-se pública a assinatura de um memorando de entendimento para uma parceria estratégica entre o Montepio Geral – Associação Mutualista e a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa", indica um comunicado do grupo mutualista divulgado esta sexta-feira, 30 de Junho. 

 

O memorando de entendimento, para uma "parceria entre as entidades no âmbito do desenvolvimento nacional da economia social", é assinado pela mutualista, presidida por António Tomás Correia, e pela Santa Casa de Lisboa. A mutualista é a dona da Caixa Económica Montepio Geral que, com a conversão em sociedade anónima, pode vir a ter mais accionistas.

É na caixa económica que a Santa Casa da Misericórdia de Lisboa pode entrar, depois de várias semanas a dar conta desse facto: "O memorando agora assinado contempla a possibilidade de uma participação da SCML na CEMG, abrindo o caminho para a participação de outras instituições da economia social no capital da Caixa Económica Montepio Geral".

Não são avançados os nomes destas entidades, mas chegou a ser noticiada a possibilidade do investimento da misericórdia do Porto. Já o Crédito Agrícola rejeitou, há semanas, que tivesse sido contactada neste âmbito.

 

"Ambas as entidades reafirmam a vontade e o empenho em que este processo seja o mais aberto possível ao universo da economia social, com envolvimento activo de outras instituições sociais no processo negocial que se siga, todas com um objectivo comum: contribuir para que, com salvaguarda dos interesses e deveres de cada participante, a CEMG seja uma instituição financeira da economia social, de referência no sistema bancário nacional", acrescenta ainda o documento.

 

Não é assinalado, no comunicado, qualquer intervalo de preço nem indicações temporais sobre o calendário.

Modelo de governance do Montepio pode mudar

 

Na nota enviada, a Santa Casa e a mutualista do Montepio admitem esperar pelos procedimentos internos e externos em curso sobre o projecto. Como o Negócios noticiou, a Santa Casa irá contratar um banco de investimento para avaliar a caixa económica, estando já a trabalhar com a Morais Leitão na assessoria jurídica.

 

"As partes comprometem-se a encetar negociações de boa-fé, numa base de melhores esforços, com vista a, tão prontamente quanto o respeito dos procedimentos internos e externos de informação e decisão das partes permitirem, acordarem as condições em que, com salvaguarda dos princípios, restrições e autorizações regulatórias aplicáveis a cada um dos intervenientes, se poderá vir a concretizar a participação da SCML e de outras entidades da economia social na CEMG", defendem as instituições.

 

Há ainda espaço para que fique salvaguardada a possibilidade de serem negociados "eventuais acordos e ajustamentos do modelo de governo da CEMG em moldes que permitam, com pleno respeito pela independência do órgão de administração, contemplar mecanismos adequados de salvaguarda do valor e da participação dos seus accionistas".

Não é explicado o que efectivamente poderá estar em causa no que diz respeito às alterações de governance da caixa económica liderada por José Félix Morgado. 

 

Acordo para áreas da saúde

 

Tomás Correia e Santana Lopes também olham, no memorando de entendimento para a parceria no sector financeiro, para investimentos noutros sectores.

 

"Ambas as instituições acordam também em analisar o alargamento do seu entendimento a outras áreas, nomeadamente a da saúde, nas suas diferentes vertentes, e a outras áreas de intervenção e apoio social", conclui o comunicado tornado público esta sexta-feira, 30 de Junho.

A mutualista, que detém as Residências Montepio, tentou já adquirir a Galilei Saúde, dona do British Hospital, que acabou por ser adquirida pela Luz Saúde.

Nesta área, a Santa Casa gere o Hospital Ortopédico de Sant'Ana e o Centro de Medicina de Reabilitação de Alcoitão, além de 11 unidades de saúde no concelho de Lisboa, de acordo com informação no site da instituição.

Em Novembro do ano passado anunciou a construção do Hospital da Estrela, no local onde antes existia o hospital militar. O investimento de 7 milhões de euros deverá permitir recuperar a infra-estrutura, que começará a funcionar em Outubro próximo. Além disso, a Santa Casa detém a Escola Superior de Saúde do Alcoitão.

Os travões de Santana

 

"Para ser só uma entrada da Santa Casa e de algumas outras misericórdias no Montepio acho muito pouco aliciante, muito pouco aliciante, ou nada mesmo. Se fosse um projecto como há anos vem sendo falado de criação de um verdadeiro banco da economia social, que podia ter alguma base no Montepio ou não, muito bem". Pedro Santana Lopes,
Entrevista ao Público e Rádio Renascença, 29 de Junho

Publicamente, Santana Lopes tem colocado travões à ideia de que o processo está perto de estar encerrado. "Ninguém me leva para onde eu não quero ir", foi uma das afirmações deixadas na entrevista à Rádio Renascença e ao Público a 29 de Junho.

 

Nessa mesma entrevista, o provedor da Santa Casa da Misericórdia de Lisboa disse que queria mais parceiros para além das misericórdias. "Para ser só uma entrada da Santa Casa e de algumas outras misericórdias no Montepio acho muito pouco aliciante, muito pouco aliciante, ou nada mesmo. Se fosse um projecto como há anos vem sendo falado de criação de um verdadeiro banco da economia social, que podia ter alguma base no Montepio ou não, muito bem".


Contudo, este processo, admite Santana Lopes, poderia estender-se no tempo: "demoraria um ano, no mínimo, a levar por diante". 


BdP diz que falta estabilizar Montepio, mutualista injecta 250 milhões



Neste momento, o Banco de Portugal admite que o Montepio é ainda a entidade financeira que falta solucionar no sistema financeiro nacional, a par do Novo Banco, cuja venda está por acontecer. 

 

"Falta estabilizar um banco que não é sistémico, mas que é prioritário, que é a Caixa Económica Montepio Geral". As palavras foram de Elisa Ferreira, administradora do regulador, na audição parlamentar obrigatória antes de poder ser nomeada para vice-governadora.

No mesmo dia em que foi anunciado o memorando de entendimento, a mutualista injectou 250 milhões de euros para capitalizar na caixa económica. 

 

(Notícia actualizada às 19:40 com mais informações)
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