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Rui Riso: “A DGComp funciona quase como uma sociedade secreta”
Rui Riso, presidente do Sindicato dos Bancários do Sul e Ilhas, diz que intervenção da DG Comp na banca portuguesa foi um “caso experimental que falhou rotundamente”.
Rui Riso acredita que as necessidades de capital do Novo Banco não ultrapassarão o que está previsto, 3,89 mil milhões de euros e deixa duras críticas à forma coma a Comissão Europeia interveio na banca portuguesa.
Ficámos a saber através do Conselho de Finanças Públicas que o Novo Banco pode vir ainda a usar fundos públicos adicionais. Acha isto provável?
Não sou capaz de saber o que se passa no Novo Banco com rigor para saber se vai ou não ultrapassar a quantidade de capital contingente que está determinada. Mas há aqui coisas muito claras desde o início deste processo de venda, em que havia uma quantidade de capital contingente que está afeto às necessidades do Novo Banco e, tanto quanto sei, essas necessidades não ultrapassarão o que está previsto.
Acha que todo o capital vai ser utilizado?
Nós sabemos que havia um conjunto de imparidades, que, segundo a opinião hoje generalizada, deviam ter ficado no banco mau e ficaram no banco bom. Ao terem ficado no banco bom, transformaram-no num banco menos bom. O que desejo muito, é que não seja ultrapassada a quantidade capital.
Foi um bom negócio para o comprador e um mau negócio para o Estado?
Não vejo as coisas assim. Temos de saber é: se tivesse sido um ótimo negócio para o Estado e um péssimo negócio para o comprador, o que aconteceria ao sistema financeiro? Aliás, também é bom lembrarmos que este processo de recapitalização do sistema financeiro português foi muito complexo. Foi para já experimental. Nunca tinha ocorrido, nomeadamente em país nenhum da Europa. Quer queiramos quer não, estas questões experimentais têm sempre riscos que nunca foram avaliados nesta altura.
Valia a pena fazer experiências ou não teria sido mais sensato nacionalizar o banco?
Depois de se jogar o jogo todos podemos fazer prognósticos. Depois de se chegar à conclusão que o modelo experimental não resultou todos diremos que não foi o correto. O que interessava era decidir na altura o que se teria de fazer a seguir. Perguntar-me-á se, sobretudo naquele momento específico e relativamente às relações com a DGComp (Direção-geral de Concorrência da Comissão Europeia), se tenho uma opinião concreta sobre isso. E eu devo dizer-lhe que sim. A DGComp falhou rotundamente no caso experimental de Portugal.
Porquê?
Por uma razão muito simples: exigiu que os bancos ajudados pelo Estado diminuíssem a sua dimensão, o número de trabalhadores e os balcões na expectativa que aparecessem outros ‘players’ que ocupassem o espaço deixado vago por essa redução. E aquilo que se verificou em Portugal, mais uma vez nessa experiência, foi que os bancos reduziram a sua dimensão, reduziram o número de balcões, reduziram o número de trabalhadores mas não apareceram novos ‘players’ no mercado. Antes pelo contrário. Os bancos que ficaram procuraram consolidar-se, juntar--se, eliminar áreas de negócio e balcões. Há zonas do nosso país hoje que são quase um apagão em termos de serviços bancários. Portanto, tudo aquilo que a DGComp exigiu de esforço ao sistema financeiro português, nomeadamente em termos de redução, quer de apoio às populações quer do número de trabalhadores foi exatamente o inverso do que aconteceu. Existe aqui, em minha opinião, uma falha grave da DGComp. A DGComp sempre foi uma organização que funcionava quase como uma sociedade secreta. Nunca ninguém deu o rosto pela DG Comp. Em todos os bancos que foram intervencionados ou tiveram apoio do Estado nunca foi claro o papel da DG Comp nestes processos e todas as consequências disso. Portanto, no caso concreto do Novo Banco existe um bocado também esse peso da experimentação que decididamente não resultou.