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Os cenários que enfrenta o Novo Banco

O Banco de Portugal está numa corrida contra o tempo. Ainda a negociar com a Fosun e restando-lhe apenas a Apollo, o banco central poderá ter de avançar para cenários alternativos. Veja aqui as possíveis alternativas

Miguel Baltazar
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As negociações para a compra do Novo Banco prosseguem com a Fosun. Esta é a posição oficial do Banco de Portugal que nem identifica a empresa. Opta por dizer "potenciais compradores" em vez de "Fosun". Mas, de acordo com que o Negócios soube, é bastante elevada a probabilidade de o negócio voltar a falhar. Tal como aconteceu com a Anbang, não se consegue chegar a acordo quanto ao preço e às contingências que ainda enfrenta o Novo Banco.

O que vai fazer o Banco de Portugal se, como se começa a antecipar, não conseguir vender o Novo Banco à Fosun? Neste momento, os cenários possíveis são três: o primeiro é prosseguir no caminho que desenhou chamando a Apollo para negociar, o segundo é suspender este processo e abrir um novo igual depois de conhecerem os resultados dos testes de stress do BCE e o terceiro é mudar completamente de modelo optando pela reestruturação e recapitalização do banco para o alienar mais tarde, aquele que se pode designar como o "modelo Vítor Bento".

Os compradores, primeiro a Anbang e agora a Fosun, têm-se afastado daquilo que o Banco de Portugal pretende por duas razões: uma relacionada com a avaliação dos activos, e outra por causa da incerteza associada ao aumento de capital que o Novo Banco poderá de ter de fazer por exigência dos testes de stress.

Os potenciais compradores têm atribuído aos activos do Novo Banco valores que são considerados demasiado baixos. Além disso, têm querido proteger-se do aumento de capital que poderão ter de fazer depois de conhecidos, em Novembro, os testes de stress e de avaliação qualitativa. Quem paga o aumento de capital que for necessário? Essa é uma das questões centrais. Mas também há contingências judiciais - a PwC, auditora do Novo Banco, já alertou para o "significativo" risco de litigância em torno da instituição financeira - que causam obstáculos à negociação. 

E se a compra pela Fosun falhar?

Num quadro de fracasso das negociações com a Fosun, o Banco de Portugal pode convocar a Apollo para negociar. No melhor cenário, consegue chegar a acordo e a venda é realizada neste processo. A probabilidade que é dada a este cenário, pelas fontes contactadas pelo Negócios, é baixa. Ou seja, antecipa-se que a negociação com a Apollo também não chegue a bom porto.

O que pode o Banco de Portugal fazer a seguir? O cenário do novo concurso igual ao anterior

Um dos cenários é abrir um novo concurso com o mesmo modelo, depois de Novembro, já sem as incertezas associadas às exigências do BCE em matéria de capital. Nessa altura, já serão conhecidos os testes de stress e o comprador saberá exactamente qual o aumento de capital que terá de fazer.

A questão que se coloca é se há tempo para lançar o concurso, negociar e vender sem que, entretanto, se tenha de fazer o aumento de capital do banco. O arrastamento do processo pode exigir que seja o Fundo de Resolução a fazer o aumento de capital exigido pelo BCE, mesmo que o Banco de Portugal opte por manter o mesmo modelo de concurso público e queira ainda vender o banco até Agosto de 2016.

Este concurso de venda do Novo Banco foi lançado em Dezembro do ano passado. É Setembro e a venda não foi concretizada. Um concurso lançado em Novembro não evitaria que o aumento de capital do Novo Banco fosse ainda suportado pelo Fundo de Resolução.

Onde vai o Fundo de Resolução buscar o dinheiro?

O terceiro cenário que corresponde a recuperar o "modelo Vítor Bento" coloca exactamente o mesmo problema: é preciso dinheiro para fazer o aumento de capital do Novo Banco.

Nesta opção, o Fundo de Resolução escolhia suspender este modelo de venda, fazia a reestruturação e recapitalização do Novo Banco para o vender mais tarde, no prazo de cinco anos, eventualmente em bolsa. É, em linhas gerais, o modelo que Vítor Bento defendeu enquanto primeiro presidente do Novo Banco (e último do BES).

Mas tal como no cenário anterior é preciso dinheiro para recapitalizar o Novo Banco. Onde ir buscá-lo? Pedir aos bancos do sistema financeiro português um novo esforço está fora de questão, de acordo com as perspectivas das fontes contactadas pelo Negócios. A actual situação já está penalizar os bancos e esta semana tivemos o exemplo da análise do Société Generale ao BCP. As outras alternativas de financiamento da capitalização do Novo Banco são igualmente problemáticas, nomeadamente o Fundo de Resolução contrair um empréstimo – o que corresponde a uma dívida dos bancos do sistema - ou o Estado avançar com um apoio directo ainda com o dinheiro da troika que foi consignado para a capitalização dos bancos.

As alternativas que se abrem caso se assista ao fracasso do actual processo de concurso público para a venda do Novo Banco exigem mais dinheiro e, no caso de se optar pelo "modelo Vítor Bento", será necessário abrir um processo burocrático, com pedidos de autorização ao nível europeu. Há ainda os efeitos políticos, dependendo do momento escolhido pelo Banco de Portugal para anunciar as suas decisões, e os efeitos no valor do próprio banco com uma gestão cujo líder tem como data marcada para sair Março de 2016. Para já, o Banco de Portugal diz que continua a negociar com os potenciais compradores. 

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