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Novo Banco, nascido para vender activos

Seguros, banca de investimento, participações em empresas portuárias e de auto-estradas: foram estas as posições do antigo BES que já foram vendidas. Cabo Verde falhou com as investigações a José Veiga. Houve mais falhanços.

Miguel Baltazar
Diogo Cavaleiro diogocavaleiro@negocios.pt 05 de Agosto de 2016 às 13:41

O Novo Banco continua a desfazer-se de activos não estratégicos. Foi um trajecto iniciado antes de nascer. Dois anos depois, segue o seu caminho. Já houve obstáculos. E ainda há caminho pela frente.

 

O banco segue uma estratégia seguida pelos congéneres: depois de se terem expandido para geografias e sectores não centrais para o negócio bancário, a crise em Portugal obrigou-os a emagrecer e voltar a centrar-se na actividade tradicional de concessão de crédito e captação de depósitos. A Caixa Geral de Depósitos vai fazê-lo (Mário Centeno já disse que o objectivo é reduzir o peso em Espanha, por exemplo), o Montepio também (ainda ontem foi anunciada a transferência de activos africanos para uma "holding" em que terá uma reduzida participação). O Novo Banco, mais recente, até foi constituído já com essa necessidade na lista de tarefas. 

 

O antigo plano BES para o futuro

 

Aliás, três dias antes da resolução – e da constituição do Novo Banco –, já o então presidente Vítor Bento falava do plano BES para o futuro. "Este plano prevê uma avaliação exaustiva dos activos que seja possível alienar, nomeadamente, mas não só, dos associados a algumas presenças internacionais que não sejam estratégicas". A venda de posições não estratégicas não só do BES mas do seu antigo accionista, o Grupo Espírito Santo, já tinha sido iniciada por Ricardo Salgado para tentar evitar a derrocada do banco.

 

A 3 de Agosto de 22014, acabou o BES enquanto instituição financeira, ficando um banco "mau", e a sua operação foi transferida para o Novo Banco. A primeira venda não esperou muito. Em Setembro, o chamado banco de transição chegou a acordo com a Apollo para vender a Tranquilidade (que havia herdado de um penhor financeiro que executou sobre o Espírito Santo Financial Group). O valor da operação, que a ESFG ainda tentou travar judicialmente, nunca foi efectivamente anunciado mas, envolvendo um esforço de capitalização, terá ficado próximo dos 200 milhões de euros.

 

Se os seguros foram para um fundo americano, o banco de investimento seguiu para a China. José Maria Ricciardi conseguiu que o BESI saísse da esfera do Novo Banco e, aliado a Eduardo Stock da Cunha (o sucessor de Vítor Bento), conseguiu vendê-lo à sociedade sediada em Hong Kong chamada de Haitong. O BESI passou a Haitong Bank depois de uma operação de compra de 379 milhões de euros.

 

As posições com a Mota-Engil

 

Houve, depois, os negócios em que o banco tinha uma participação minoritária ao lado da Mota-Engil. O Novo Banco herdara do BES uma participação de 36,875% da Tertir, empresa de gestão portuária. A venda ao grupo turco Yildrim rendeu 60 milhões de euros à instituição financeira em Setembro de 2015.

 

Menos de um ano depois, a 3 de Agosto de 2016, a há muito falada alienação das posições na Ascendi, onde o Novo Banco tinha 40%, concretizou-se. A gestora de auto-estradas foi vendida à Ardian por 600 milhões de euros a que podem ainda acrescer mais 53 milhões. Enquanto o Novo Banco melhora os rácios, a construtora reduz a sua dívida.

 

Com a venda destes activos, o banco consegue, então, reduzir os seus activos ponderados pelo risco, melhorando os referidos rácios de capital, algo que conseguiu também com a alienação do Novo Banco Ásia, anunciado um dia depois – a operação ainda aguarda autorizações regulatórias e ainda não há preço revelado.

 

"Esta transacção representa mais um importante passo no processo de desinvestimento de activos não estratégicos do Novo Banco, prosseguindo este a sua estratégia de foco no negócio bancário doméstico", assinala a instituição financeira neste último caso.

 

As vendas que não aconteceram

José Veiga ganhou o banco de Cabo Verde do Novo Banco. Mas foi detido.
José Veiga ganhou o banco de Cabo Verde do Novo Banco. Mas foi detido.

 

 

A seguradora GNB Vida e o BES Vénétie, em França, foram activos assinalados em Dezembro do ano passado como passíveis de serem vendidos. O objectivo era capitalizar o banco depois de o Banco Central Europeu ter detectado 1,4 mil milhões de euros de necessidades de capital. Não houve vendas mas sim a retransmissão das obrigações seniores do Novo Banco para o BES a 29 de Dezembro, que libertou 1.985 milhões de euros de capital do banco. Por sua vez, a GNB Vida e o banco francês continuam no grupo.

 

Pouco depois, em Janeiro, era o Banco Internacional de Cabo Verde a ter um acordo para venda. O empresário José Veiga, em representação de vários investidores, ofereceu 14 milhões de euros. E conseguiu ser o escolhido com a sua sociedade Groupe Norwich. Só que José Veiga foi detido e o negócio acabaria por ser anulado. A unidade continuou no leque de activos para desinvestir e aí permanece.

 

A venda de activos não estratégicos e a de operações internacionais leva a que o Novo Banco se foque unicamente no mercado bancário tradicional português. É uma forma de libertar capital, conseguindo aumentar os rácios de solidez e respeitar as exigências de regulação. Outra das formas que o banco seguiu nesse trajecto foi a de redução de pessoal – o banco seguiu, até, para um despedimento colectivo. 

O caminho prossegue. Ao mesmo tempo que o próprio Novo Banco está em processo de venda.

Até um "side bank" há

A alienação prossegue seguindo uma estratégia definida porque o Novo Banco, já de si um banco resultante de outro, está dividido em dois.

O plano começou a ser delineado depois de o primeiro concurso para a venda do Novo Banco ter falhado em Setembro de 2015. Foi constituído um "side bank", que ficou com os activos a vender, que teve aprovação da Direcção-Geral da Concorrência no final do ano passado. Havia 10,8 mil milhões de euros em activos no final do ano. Por exemplo, havia imóveis no valor de 700 milhões de euros para alienar até 2016.

"Redução ordenada da exposição a activos não-core" é o objectivo. A ideia é que esta parte da instituição diminua esta carteira até aos 4,6 mil milhões "no longo prazo".

(Notícia actualizada com os últimos três parágrafos às 15:45)

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