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"Na Europa, arriscamo-nos a viver uma década de moratórias", diz presidente do Santander

Pedro Castro Almeida considera que apoios à economia estão a funcionar no curto prazo, mas, a partir do próximo ano, defende que é preciso mudar o "mind set de proteção para um de produtividade".

27 de Outubro de 2020 às 11:34
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A incerteza quanto à evolução da pandemia faz com que seja difícil decidir quando devem ser retirados os apoios criados para apoiar a economia. Esse cenário, defende o presidente do Santander, Pedro Castro Almeida, leva a que a Europa vá "empurrando com a barriga" o momento decisão, arriscando-se a viver "uma década de moratórias".

O banqueiro falava na conferência "Banca do Futuro", organizada esta terça-feira, 27 de outubro, pelo Negócios, num painel que juntou os presidentes dos cinco maiores bancos com atividade em Portugal.

Assista aqui à transmissão do Grande Encontro Banca do Futuro


"Estou relativamente otimista no curto prazo. Se tivesse 80 anos, estaria contente, se tivesse 30, estaria muito preocupado, especialmente na Europa", começou por ilustrar. Isto porque, considera, "as receitas aplicadas em 2020 estão a funcionar, mas, no longo prazo, e em particular a partir de 2021, 'o mind set' vai ter de mudar de um 'mind set' de proteção para um de produtividade".

Se isso não acontecer, acredita, a consequência será grave. "Na Europa, arriscamo-nos a viver uma década de moratórias, a ir empurrando para a frente, ao contrário do outro erro que os anglo-saxónicos cometeram nos anos 30 do século XX, de querer sair rapidamente da crise", afirmou.

Em Portugal, o cenário é agravado pelo facto de o modelo de apoios escolhido pelo Governo ser o oposto daquele que foi seguido pela larga maioria dos países europeus. "Temos uma situação completamente à parte em Portugal, que tem a ver com o nosso ponto de partida. Aqui, decidimos dar moratórias e pouco apoio em termos de linhas garantidas, sendo que, no mundo inteiro, foi exatamente o contrário. Nos locais onde o Santander tem expressão internacional, seja na América Latina, nos Estados Unidos ou na Europa, 70% das moratórias já expiraram. O país que tem mais moratórias é Portugal", detalhou.

A mesma ideia é defendida por António Ramalho, presidente do Novo Banco, que destacou a "assimetria de Portugal" em relação ao resto da Europa. "A banca portuguesa tem 22% do crédito em moratórias. O mais próximo, na Europa, é a Irlanda, com 13%. Todos os outros estão abaixo dos 10%. Para além disso, somos o país com as moratórias mais longas", disse o banqueiro.

Esta assimetria, considera António Ramalho, "não nos coloca numa boa posição de antecipação dos movimentos regulatórios". E acrescenta: "o adiamento de decisões pode ser razoavelmente complexo para Portugal".

Seja como for, e tal como foi defendido pelo governador do Banco de Portugal, o presidente do Novo Banco acredita que a banca portuguesa está numa posição de solidez que lhe permite responder à crise atual. "Portugal tinha 17% de NPL [crédito malparado] há seis anos. No primeiro semestre deste ano, tinha 6,5%. Hoje, há uma capacidade de resistência muito superior. E também tem o dobro do capital, o que significa que há capacidade de sustentar este modelo", argumentou.
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