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Jardim Gonçalves: "É tempo de colocar egos de lado"

Em artigo de opinião, o antigo banqueiro faz o elogio ao sector bancário entre a década de 1980 e 2007, altura em que "soube ganhar eficiência sem entrar na desumanidade ", e diz que é possível devolver a independência ao sector financeiro nacional. Mas é preciso começar por pôr os egos de lado.  

Miguel Baltazar/Negócios
Negócios 05 de Agosto de 2015 às 09:57
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A banca portuguesa tem caminhos muito estreitos pela frente, mas é possível devolver-lhe a independência caso haja "talento", "verticalidade" e se coloquem os egos de lado. A avaliação é feita por Jorge Jardim Gonçalves, num artigo divulgado na edição desta quarta-feira no Público, e onde o antigo banqueiro diz ser preciso "recuperar o que tínhamos há 30 anos".

E há 30 anos revertia-se o ciclo das nacionalizações, o sector bancário abriu-se à iniciativa privada e foi criado o BCP e o BPI – "dois projectos que vieram contribuir muito para o desenvolvimento do País". Apesar de todas as dificuldades estruturais e regulatórias enfrentadas, "a banca foi útil ao País, como, aliás, era seu dever, apoiando empresas e famílias", discorre Jardim Gonçalves.

Mesmo antes desse período, em que a finança estava nas mãos do Estado, "fazia-se política a pensar num povo, num ideal, com uma visão e uma estratégia para o futuro de Portugal". "Havia mais cidadania e sentido de Estado do que hoje em dia. Havia verdadeira ideologia. Era uma época em que se pensava e se debatia. Podia discordar-se ideologicamente, mas as razões subjacentes a uma nacionalização ou, mais à frente, a uma privatização eram perceptíveis e transparentes, tinham um sentido público" .

"Dispensam-se falsos Rockefeller"

Décadas volvidas, o BCP foi politicamente instrumentalizado e o País assistiu ao que Jardim Gonçalves chama uma segunda vaga de nacionalizações, e o caminho que está pela frente não será fácil. 

A talento português que se apresente com verticalidade acorrerá sempre capital, seja ele nacional ou estrangeiro.
Jorgr Jardim Gonçalves 

O sector financeiro precisa de recuperar os níveis de rentabilidade de dois dígitos anteriores à crise, o que obriga a que se "aumentem desesperadamente as margens de eficiência, ou seja, à transformação profunda do modelo operativo e de negócio dos bancos" mas enfrenta as restrições da regulação.

O antigo banqueiro recorda que satisfazer as exigências de capital e da nova legislação penalizará a eficiência operacional do sector financeiro nacional, já que impede a recuperação desejada da conta de exploração e que ainda é necessário investir do lado do negócio, nomeadamente na área digital, uma "revolução" que está a acontecer do lado do consumidor e da qual os bancos parecem estar esquecidos.

Com todos estes desafios, "é tempo de repensar a combinação das actividades bancárias". Como? Desde logo, "foquem-se as atenções. Organizem-se as casas. Finda a segunda nacionalização da banca em Portugal será tempo de reunir novamente vontades e eliminar clivagens", diz Jardim Gonçalves, que prossegue afirmando que "sim, é possível colocar os egos de lado, de reunir accionistas e equipas independentes".

Neste processo "dispensam-se falsos Rockefeller". Sendo certo que em Portugal o capital é escasso, mas o antigo banqueiro está convencido de que "a talento português que se apresente com verticalidade acorrerá sempre capital, seja ele nacional ou estrangeiro", dando o exemplo da génese do BCP à volta da qual se reuniram 200 accionistas unidos por uma vontade firme e determinada desde o primeiro minuto, que souberam distinguir a propriedade da gestão".

Em síntese, as últimas três décadas guardam lições importantes e são a prova de que "é possível recuperar a independência do sistema financeiro". 

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