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FMI alerta que dívida das famílias e empresas pode tornar-se "ingerível"
A entidade liderada por Kristalina Georgieva alerta, no relatório de estabilidade financeira global, que os níveis elevados de dívida podem tornar-se ingeríveis e que as perdas resultantes das insolvências podem testar a resiliência do setor bancário em alguns países.
"A pandemia pode cristalizar vulnerabilidades financeiras que surgiram ao longo da última década", começa por dizer a entidade liderada por Kristalina Georgieva, no documento agora revelado.
"Isto significa que há agora muitas economias com níveis elevados de dívida que se prevê que enfrentem um abrandamento económico acentuado", acrescenta o fundo. De acordo com dados do Banco de Portugal, o endividamento da economia portuguesa - empresas, famílias e Estado - aumentou 11,3 mil milhões de euros entre março e abril deste ano, num período marcado pela chegada da pandemia ao país. O montante da divida atingiu um novo recorde histórico, situando-se nos 736,3 mil milhões de euros em abril.
O FMI alertou ontem que além de provocar uma recessão sem precedentes na economia mundial, a pandemia vai deixar o mundo com o nível de endividamento público mais elevado de sempre e pela primeira vez acima do PIB gerado num ano. O cenário base da instituição sediada em Washington aponta para que a dívida pública atinja um máximo histórico de 101,5% do PIB este ano e um novo recorde de 103,5% do PIB em 2021.
Insolvências vão testar o setor
Em segundo lugar, continua o FMI, "as insolvências vão testar a resiliência do setor bancário". "Os bancos entraram nesta crise com níveis de liquidez e capital mais elevados", graças às reformas implementadas desde a última crise. "E podem agora usar essas almofadas para emprestar [à economia] e absover perdas", refere a entidade.
Neste cenário, as "autoridades têm de continuar a apoiar a recuperação, ao mesmo tempo que garantem a solidez das instituições financeiras e a preservação da estabilidade financeira", refere, por outro lado, o fundo. "As autoridades têm de ter consciência das implicações" deste apoio. "O uso sem precedentes de ferramentas não convencionais mitigou, sem dúvida, o impacto da pandemia na economia global e reduziu o perigo imediato enfrentado pelo sistema financeiro global". No entanto, "é preciso ter cuidado para se evitar um aumento das vulnerabilidades num cenário de alívio das condições financeiras".
Já os bancos, diz o FMI, devem usar as "almofadas" macroprudenciais, de liquidez e capital para absorver as perdas e apoiar a economia. "Os bancos devem suspender o pagamento de dividendos e as recompras enquanto a crise durar", de maneira a garantirem almofadas de capital, nota o fundo, salientando que, "nos casos em que os bancos enfrentam choques consideráveis e duradouros", os "supervisores devem adotar medidas direcionadas, incluindo pedir aos bancos para apresentarem planos credíveis de recuperação do capital".
Medidas dos bancos centrais ajudam mercados
Têm sido várias as medidas adotadas pelos bancos centrais, nomeadamente pelo Banco Central Europeu, para apoiar a a economia e o setor bancário. É este apoio que tem suportado o sentimento positivo dos investidores.
"O sentimento no mercado tem melhorado com a reabertura de algumas economias e com o alívo das medidas de confinamento" associadas à covid-19, refere o FMI no mesmo relatório. "Além disso, os investidores esperam aparentemente que a política monetária sem precedentes continue a suportar a economia global durante algum tempo".
"As taxas de juro foram cortadas num conjunto de países e os investidores esperam que os juros continuem em níveis muito baixos durante vários anos", remata a entidade liderada por Kristalina Georgieva.