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CMVM junta-se à Ordem, PJ e MP e promove "diligências adequadas" no caso Yupido

Os revisores oficiais de contas da Yupido são personagens centrais na história da Yupido, a empresa portuguesa avaliada em 29 mil milhões de euros. São várias as entidades a averiguar a situação, como a CMVM.

Miguel Baltazar/Negócios
11 de Setembro de 2017 às 13:53
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A Comissão do Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) assume que está a promover "diligências" no caso da Yupido, a empresa portuguesa que tem um capital social de quase 29 mil milhões de euros. A autoridade é a supervisora dos revisores oficiais de contas e foi um destes responsáveis de auditoria que validou o aumento de capital que permitiu chegar àquela avaliação.

 

"Tratando-se de revisor oficial de contas registado na CMVM, este é acompanhado pela CMVM no âmbito das suas atribuições e competências", indica ao Negócios o regulador presidido por Gabriela Figueiredo Dias.

 

Tendo em conta esse papel, a autoridade que tem a supervisão dos revisores oficiais de contas diz que "estão já e vão ser desenvolvidas as acções e diligências adequadas". Não são especificadas quais as acções em causa. E conclusões ainda não há: "A CMVM apenas poderá emitir uma opinião devidamente fundamentada após a conclusão das diligências e acções supra referidas".

 

A Yupido é uma empresa desconhecida que passou para a comunicação social através do Twitter. Segundo tem sido explicado por jornais que têm acompanhado o tema, desde o Eco ao Observador passando pelo Dinheiro Vivo, tudo começou num trabalho académico da Universidade do Minho: a trabalhar numa base de dados, deparou-se com uma companhia, sediada nas Torres de Lisboa, com um capital social de 28,8 mil milhões de euros. O valor é superior ao de grandes empresas nacionais, seja Galp, seja EDP, seja Jerónimo Martins.

 

A história

 

Constituída em Julho de 2015, o capital social da Yupido era de 243 milhões de euros no arranque da actividade. Valores que estarão depositados numa conta à ordem. Não por muito tempo. Em Fevereiro de 2016, veio um aumento de capital: de 28,5 mil milhões de euros, em espécie. Ficou com um capital de 28,77 mil milhões de euros. Este aumento de capital foi feito em "espécie". Em causa estava a avaliação de um activo intangível, ou seja, não um bem físico, mas uma avaliação validada por um revisor oficial de contas. Um dinheiro validado por um auditor que, com base nas suas avaliações, podia vir a ser concretizado com a actividade da companhia.

 

Os accionistas que, de acordo com o Eco, assumiram o aumento de capital, através desta avaliação do activo intangível, foram Cláudia Alves, com 19,9 mil milhões, Torcato Jorge, com 8,3 mil milhões, e ainda Filipe Besugo, com 258 milhões.

O que é o capital social

Quando é criada uma empresa, um dos aspectos a definir é a determinação do capital social, ou seja, o valor com que os sócios ou accionistas vão entrar e dos bens que a vai integrar. O dinheiro é frequentemente colocado em depósitos, para salvaguardar a sua existência. Podem depois haver aumentos de capital, ou por incorporação de mais dinheiro, ou por entrada de bens, que podem ser tangíveis, como um automóvel, ou intangíveis, como uma patente.

Na semana passada, o Eco consultou os dados da Conservatória e descobriu que esse activo intangível tratava-se de uma "plataforma digital inovadora, de armazenamento, protecção, distribuição e divulgação de todo o tipo de conteúdo media". O valor da avaliação foi assumido pelo revisor oficial de contas António José Alves da Silva. O Observador chegou à fala com o próprio que justificou as contas: "O que me motivou para fazer esta avaliação foi olhar para aquilo e sabe de quem me lembrei? Lembrei-me de Steve Jobs. Foi quase a mesma coisa". Este é uma das questões que poderá ser analisada pela CMVM.

 

Enquanto Alves da Silva é o revisor oficial de contas que validou o aumento de capital, a empresa tem um revisor oficial de contas: José Luís Freire Rito. Segundo o Eco, e embora os documentos da conservatória digam que há uma certificação legal de contas relativa ao relatório e contas de 2016, este revisor terá levantado dúvidas à avaliação da empresa.

 

Onda de averiguações

 

Hugo Martins, Filipe Besugo, Torcato Jorge e Cláudia Alves são os nomes de co-fundadores e actuais administradores da empresa, que não tem quaisquer funcionários. Depois das notícias que se centravam na Yupido, foram vários os anúncios das averiguações à sua volta, tendo em conta o montante inusitado do aumento de capital.

 

Aliás, a própria Ordem dos Revisores Oficiais de Contas o assume: está a fazer uma avaliação da "realização de uma avaliação de entrada em espécie por valor elevado que configura uma operação muito atípica". Antes disso, já a Polícia Judiciária estava a "analisar" a situação, segundo noticiou o Expresso.


O Ministério Público também se encontra a acompanhar o tema, "com vista a decidir qual o procedimento mais adequado no âmbito das suas competências", segundo disse ao Negócios. Até ao momento, nenhuma das autoridades chegou a conclusões públicas.

 

Já porta-voz da empresa, que tem um vasto objecto social, falou ao Dinheiro Vivo para justificar a "origem legal" da empresa, admitindo-se preocupado com as notícias em torno da Yupido. "As dúvidas persistentes colocam em causa a capacidade de o país ter empresas deste tipo. O que podem dizer investidores internacionais que querem entrar em Portugal se houver constantemente reacções destas?", declarou à publicação. Ao Eco lamentou toda a história, mas escudou-se em termos de confidencialidade para não explicar o trabalho específico que a empresa faz e que garante a avaliação.

 

O objecto da Yupido

«Prestação de serviços de consultoria para os negócios e gestão, bem como, todas as actividades que garantam a concretização dos fins estabelecidos. Consultoria tecnológica e desenvolvimento de serviços de informação, bem como gestão e tratamento de informação. Fornecimento de infra-estruturas para domiciliação, serviços de processamento de dados e actividades relacionadas. Actividades de processamento de dados, domiciliação de informação e actividades que asseguram o bom desenvolvimento das anteriores.

Inclui também as actividades especializadas de domiciliação, tais como: domiciliação de páginas Web (Web hosting), serviços de "streaming" ou domiciliação de aplicações, serviços de fornecimento de aplicações, disponibilização de tempo de "mainframe". As actividades de processamento de dados incluem o processamento de dados fornecidos pelo cliente ou provenientes de processamento automático e serviços de introdução de dados.

Disponibilização de sistemas de informação de suporte à gestão através de computação em nuvem, sistemas baseados em web, sistemas aplicacionais distribuídos multiplataforma ou qualquer outro sistema que exerça o mesmo fim. Programação informática e todas as actividades de suporte, bem como, edição de programas informáticos, adaptação de software, venda de software e actividades conexas.

Prestação de serviços de contabilidade e auditoria e todas as actividades associadas, bem como, consultoria fiscal. Consultoria de design, que envolve várias áreas de intervenção, quer no domínio da criação de projectos específicos, quer de consultoria, levando em conta as características e necessidades do utilizador, do mercado, da produção e da segurança, entre outras. Compreende o design gráfico ou de comunicação, o design industrial, design de interiores e o design de moda e têxtil.

Consultoria de marketing. Consultoria e apoio a empresas e organismos em matéria de relações públicas e comunicação, publicidade, gestão e organização de todo o tipo de eventos. Compreende também a venda ou revenda de tempo ou espaço publicitário em diversos meios de comunicação. Gestão de fornecedores e parceiros. Actividades combinadas de serviços administrativos, sediação de empresas, domiciliação de morada e prestação de todos os serviços necessários à boa execução dos anteriores, bem como, prestação de serviços de centros de chamadas e actividades conexas.

Actividades especializadas de apoio administrativo. Prestação de serviços de recrutamento e selecção de pessoal, formação profissional. Inclui o desenvolvimento de todas as actividades que garantam a boa execução dos serviços. Actividades de comercialização online de produtos e serviços e actividades que garantam a comercialização eficiente dos mesmos. Actividades de recolha, gestão e divulgação de informação, edição, disponibilização de informação em plataformas de comunicação bem como, a edição de livros, jornais, revistas e outras publicações periódicas e não periódicas.

Disponibilização de serviços de informações noticiosas e/ou bases de dados de informação de suporte à decisão. Desenvolvimento de todas as actividades que sejam necessárias à concretização dos objectivos estabelecidos para os serviços de informação».  
Objecto social da Yupido, segundo o Portal da Justiça
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