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Carros autónomos podem revolucionar seguros automóveis
Sem humanos para causarem acidentes, 90% do risco desaparece. Os seguradores estão a preparar-se para esta nova realidade.
Dan Peate, um capitalista de risco e empreendedor do sul da Califórnia, estava a pensar em comprar um Tesla Model X há alguns anos - até ligar para a seguradora e descobrir quanto é que seria prémio.
"Avaliaram [o seguro] em 10.000 dólares por ano", lembra Peate.
Devido ao receio de acidentes provocados por carros sem motorista, incluindo os problemas da Tesla com o seu limitado modo de piloto automático, o "Autopilot", é fácil esquecer uma das supostas virtudes dos veículos autónomos: vão deixar as ruas mais seguras. O sofisticado leque de tecnologia ótica remota [o LIDAR], o radar e as câmaras deverão ser mais eficientes para detetar problemas do que os nossos olhos e ouvidos. E os computadores nunca ficam embriagados e não navegam no Tinder nem adormecem ao volante.
Peate, de 40 anos, já tinha criado uma empresa chamada Hixme, uma provedora de planos de saúde em grupo. Agora, quer abrir uma nova empresa especializada em seguros para carros com modos de direção automatizada (e, futuramente, para carros totalmente autónomos). A experiência de Peate com a seguradora do seu antiquado carro apenas confirmou esta necessidade.
Quando os subscritores e os atuários fixam o preço do seguro com base num novo tipo de risco, realça Peate, cobram mais por não terem informações suficientes. Com tão poucos Model X nas ruas, o seu histórico de segurança era, na melhor das hipóteses, obscuro. Mas a Tesla e outras fabricantes de veículos recolhem grandes quantidades de dados sobre a operação dos seus veículos para melhorar a automação. Peate disse que percebeu que "é possível obter grandes quantidades de dados de frotas inteiras e subscrever sem ter que esperar anos de informações" de acidentes.
Isto também permite que uma seguradora reduza os prémios dos motoristas à medida que usam mais a direção autónoma.
A 30 de janeiro, Peate anunciou a criação da Avinew, com cinco milhões de dólares num financiamento liderado pela Crosscut Ventures, de Los Angeles. O seu produto de seguro monitorizará o uso de recursos autónomos pelos motoristas em carros fabricados por empresas como a Tesla, a Nissan, a Ford e a Cadillac, determinando descontos com base no uso desses recursos. A Avinew fez acordos com a maioria das fabricantes e está a trabalhar para fechar acordos com as restantes, revelou Peate, para que a empresa tenha acesso aos dados de direção quando o cliente der permissão.
A Deloitte previu isto no seu relatório de perspetivas para os seguros de 2019. "O aumento da conectividade... gerou uma enorme quantidade de dados em tempo real e mudou a relação da seguradora com os segurados, que era estática e transacional e passou a ser dinâmica e interativa." A Avinew afirmou que espera redigir políticas ainda este ano em alguns estados dos EUA.
A transição aponta para uma crise existencial maior no multibilionário setor de seguros automóvel. Se não há ninguém a conduzir, porque é que precisamos de um seguro automóvel? Os prémios - e as receitas da empresa – baseiam-se na probabilidade de um motorista sofrer acidentes e nos índices reais de colisão. Como mais de 90% dos acidentes são provocados por erro humano, retirar o motorista desta equação implica grandes mudanças para as seguradoras.
"Isto aparece em todas as conversas estratégicas", disse Michelle Krause, diretora do serviço ao cliente dos seguros da Accenture. As principais operadoras "estão muito concentradas em entender a tecnologia por detrás [da automação] e as oportunidades disponíveis para elas".
(Texto original: Self-Driving Cars Might Kill Auto Insurance as We Know It)