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Análise: Fórmula 1 - A luta pelos direitos de transmissão

A vitória de Schumacher no domingo passado não fez esquecer o verdadeiro braço de ferro entre os construtores de automóveis e o magnata alemão Kirch, em vias de comprar 75% da empresa de Ecclestone que controla os direitos de transmissão da Fórmula 1.

07 de Março de 2001 às 20:09
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A vitória de Michael Schumacher no domingo passado no 1º Grande Prémio da temporada de Fórmula 1 de 2001 em Melbourne na Austrália, não fez esquecer o verdadeiro «braço de ferro» que se vive entre os construtores de automóveis presentes neste desporto e o magnata alemão Kirch, em vias de comprar 75% da empresa de Ecclestone que controla os direitos de transmissão da Fórmula 1.

Em causa está o controle iminente de Kirch sobre os direitos de transmissão da Fórmula 1, o que poderá ter como consequência o pagamento pelos telespectadores de uma taxa, «pay-per-view» que reduziria drasticamente o interesse por este desporto.

Preocupados com estas possíveis consequências, cinco construtores de automóveis presentes na Fórmula 1 resolveram associar-se para estudarem a possibilidade de comprarem em conjunto 25% do «trust» de Bernie Ecclestone, que detém os direitos na indústria da Fórmula 1.

Uma participação que conforme o Canal de Negócios já tinha referido poderá valer 1.08 mil milhões de euros (216 milhões de contos).

Presentes neste lado do campo, estão as marcas Ferrari, BMW, Mercedes, Renault e Jaguar, todas elas debaixo do chapéu de grandes grupos automóveis mundiais, com um claro interesse na notoriedade da imagem dos seus bólides alinhados na grelha de partida aos olhos de 350 milhões de telespectadores.

A Ferrari pertence à Fiat, a Mercedes detém 40% da Mc Laren, a Ford, através da Jaguar detém a Stewart, a BMW está associada à Williams e a Renault que no ano passado comprou a Benetton prepara-se para regressar à Fórmula 1 em 2002.

A Honda, que já fornece motores à BAR e à Jordan, poderá juntar-se a esta «tribo», tanto mais que conforme referiu o Canal de Negócios, uma iniciativa deste género «poderá contar com a participação da Toyota e da Honda, permitindo aos construtores envolvidos um retorno de 108 milhões de euros (21,6 milhões de contos) por cada equipa que participe nos Grandes Prémios».

Desta análise sobressaem duas conclusões: Em primeiro lugar que, à excepção da Volkswagen e da General Motors, todos os grupos mundiais de automóveis estão presentes na Fórmula 1, vendo nesta indústria um potencial de imagem com consequências inequívocas nos seus resultados comerciais. Por outro lado, se o custo do Ferrari de Schumacher revém a 528 mil euros (106 mil contos), esta situação fica a dever-se ao retorno provocado pelos patrocínios de todos os sectores da indústria, o que mesmo assim não impede que os custos de uma equipa, que envolve um número de recursos humanos à volta de 550 pessoas por cada temporada rondem os 152 milhões de euros (30,5 milhões de contos).

Das tradicionais empresas petrolíferas e de óleos para automóveis, os patrocínios na Fórmula 1, alargaram-se a outros sectores de actividade, tais como empresas de informática, telecomunicações, seguros e banca, que ao longo de 17 provas em cada duas semanas, não hesitam em gastar centenas de milhões de dólares na expectativa de um retorno comercial no seu negócio a nível mundial.

A gestão dos recursos financeiros da Fórmula 1

A gestão dos recursos financeiros provenientes da Fórmula 1, é uma questão complexa e pouco clarificada. Ainda há bem pouco tempo, a Comissão Europeia não se poupou a críticas sobre a transparência da mesma, o que despertou alguns esclarecimentos.

A gestão dos recursos provenientes da Fórmula 1, pertence ao milionário britânico Bernie Ecclestone, que através da sua empresa SLEC, reparte a distribuição dos lucros financeiros da Fórmula 1 de três modos.

Uma primeira fatia é entregue às próprias equipas, uma segunda à FIA (Federação Internacional do Automóvel), que detém os direitos e é presidida por Max Mosley, amigo e advogado de Ecclestone e uma terceira permanece na posse da SLEC e das suas empresas associadas, nomeadamente a FOA (Formula One Administration), encarregada de gerir os recursos financeiros provenientes dos direitos de transmissão.

O problema, é que Ecclestone vendeu há pouco tempo metade da SLEC, à empresa de media alemã EM TV, que por sua vez associou-se ao magnata alemão Leo Kirch.

Segundo o semanário económico francês «Les Echos», Kirch obteve um empréstimo de 1 milhão de dólares (1,07 milhões de euros ou 200 mil contos) no passado dia 26 de Fevereiro para obter uma participação de 75% no capital da SLEC, a empresa de Ecclestone, o que lhe viria a conferir os direitos de transmissão exclusivos sobre a retransmissão dos grandes prémios no seu canal de televisão por assinatura «Premiere World».

Bernie Ecclestone e os construtores de automóveis parecem estar do mesmo lado nesta questão, vendo com maus olhos esta aliança, entre Kirch e a EM TV. O milionário inglês ameaça boicotar esta aliança, alegando o vazio em que a Fórmula 1 poderá caí e a impossibilidade de um canal de televisão deter a exclusividade dos direitos de transmissão da Fórmula 1.

O desfeche desta situação poderá no entanto ocorrer em breve com a Assembleia Geral da FOA no final de Março. Nessa altura, os responsáveis daquela associação terão de ponderar entre a proposta da tomada de controle de 25% da ACEA (Associação dos Construtores Europeus de Automóveis) e o controle da industria da F1 pelo magnata alemão Kirch.

Stephane Lacombe, analista do sector, afirma que um contrato para a transmissão da Formula 1 numa temporada, para uma estação como a RTP, custa um milhão de dólares (1,075 milhões de euros ou 215 mil contos).

Aquele responsável alerta que nenhuma das partes envolvidas nesta situação poderá sobreviver sem a outra, admitindo que se possa vir a passar uma situação semelhante à que se verificou no mercado norte-americano, onde a competição local deu origem a duas organizações diferentes: uma constituída pelos construtores e outra por outros organismos.

Ou seja, na Formula 1 poderá vir a assistir-se a um desporto próprio criado pelos construtores automóveis.

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