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Seca: Muitos produtores podem desaparecer até ao final do ano sem apoios

O secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) defendeu ser "simplesmente inexistente" a resposta do Governo para mitigar o impacto da seca no setor da produção e da alimentação animal.

Hugo Rainho
06 de Agosto de 2022 às 10:50
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Os industriais de alimentos para animais alertaram para o facto de muitos produtores pecuários e industriais poderem desaparecer, até ao final do ano, caso não sejam adotadas ajudas que mitiguem o impacto da seca e da subida dos custos.

 

"Penso que há medidas que têm que ser negociadas entre o Governo português e a Comissão Europeia. Há um conjunto de medidas que tem que ser rapidamente discutido, sob pena de, até ao final do ano, vermos desaparecer muitos produtores pecuários e indústrias agroalimentares porque há um fenómeno de arrastamento e a questão da soberania alimentar é muito relevante", afirmou o secretário-geral da Associação Portuguesa dos Industriais de Alimentos Compostos para Animais (IACA), Jaime Piçarra, em declarações à Lusa.

 

Segundo a associação, em muitas explorações pecuárias, a disponibilidade de água está a ser assegurada, quase diariamente, pelos bombeiros, nomeadamente em Mértola, no Alentejo. 

Por outro lado, as pastagens e forragens são mais escassas, dificultando a alimentação animal.

Somam-se ainda os incêndios rurais, que têm destruído campos agrícolas e levado à morte de vários animais.

 

"Ainda esta semana voltámos a ter uma subida nos preços dos cereais, nomeadamente do trigo", acrescentou.

 

Perante este cenário, há produtores que estão a reduzir o número de animais, através da venda ou do abate.

 

Apesar de garantir "não desvalorizar" as ajudas que têm vindo a ser adotadas, Jaime Piçarra notou que o processo burocrático "é muito grande".

 

No que se refere às reservas de crise, cujas candidaturas decorrem em agosto, os apoios só vão estar disponíveis em setembro.

 

"Continuamos a ter preços de adubos e fertilizantes em alta. Temos uma grande instabilidade e imprevisibilidade", assinalou o secretário-geral da IACA.

 

Jaime Piçarra lamentou ainda que a Comissão Europeia tenha concedido uma derrogação para a próxima Política Agrícola Comum (PAC), que permite, por exemplo, que as áreas colocadas em pousio possam ser cultivadas.

 

No entanto, esta derrogação deixa de fora o milho e a soja para a alimentação animal.

"As ajudas são bem-vindas, mas parecem-nos ser claramente insuficientes face à conjuntura e os problemas que todos vivemos. Vivemos uma situação extraordinária e deveríamos ter medidas extraordinárias. Temos que considerar a suspensão do IVA em produtos básicos, como está a ser feito noutros países", assinalou.

 

Questionado sobre a possibilidade de o preço das rações continuar a subir, Jaime Piçarra não colocou de fora este cenário, face à volatilidade da conjuntura internacional, agravada por uma nova tensão entre os EUA e a China.

 

Neste sentido, as empresas não estão a assumir coberturas muito longas em termos de compras.

 

"Era desejável que os preços das matérias-primas descessem, mas também outros custos, como a energia e os transportes", concluiu.

 

Questionada, na quarta-feira, sobre as medidas adotadas para o setor da alimentação animal, a ministra da Agricultura e da Alimentação, Maria do Céu Antunes, destacou, em declarações à Lusa, o apoio à eletricidade verde e a isenção do IVA nas rações.

Acresce ainda "uma medida que utiliza oito milhões de euros da reserva da crise da União Europeia e 16 milhões de euros do Orçamento do Estado" para financiar os setores da carne de suínos, aves e ovos e leite de vaca.

 

Resposta do Governo para setor animal é "simplesmente inexistente"

 

O secretário-geral da Confederação dos Agricultores de Portugal (CAP) defendeu hoje ser "simplesmente inexistente" a resposta do Governo para mitigar o impacto da seca no setor da produção e da alimentação animal.

 

"No que concerne às medidas destinadas aos animais, a resposta do Governo é simplesmente inexistente. Verificou-se um adiantamento de dois meses relativamente ao pagamento dos valores comunitários anuais para os produtores de uma forma geral, a qual não tem a ver com as necessidades específicas do setor pecuário", afirmou Luís Mira, em resposta à Lusa.

 

Para a confederação, o executivo deveria adotar medidas como um incentivo à construção de pequenas charcas e barragens, eliminando bloqueios e "dificuldades burocráticas" no licenciamento destas infraestruturas.

 

A CAP sublinhou ainda que o Governo tem condições políticas e financeiras, com recurso às verbas do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR), para implementar estas medidas, "pelo que esta situação representa uma profunda insensibilidade dos nossos governantes relativamente a esta matéria".

 

Luís Mira destacou que os subsetores da pecuária extensiva estão a ser "particularmente afetados" pela seca, obrigando os produtores a recorrerem ao transporte de água.

 

"Cada bovino precisa de cerca de 50 litros de água por dia, isto é, 1.500 litros por mês, pelo menos até outubro, uma vez que não se espera chuva antes dessa altura. Nesta altura, a alimentação desse mesmo bovino custa cerca de 2,50 euros por dia, ou seja, 75 euros por mês.

 

Caso o produtor tenha que alimentar uma centena de animais, o custo ascende a 7.500 euros mensais", apontou.

 

Perante a inexistência de pastagens, os produtores têm assim que recorrer a rações e palha, que "estão a preços incomportáveis", face à escassez e ao agravamento do custo dos transportes.

 

Assim, o secretário-geral da CAP referiu não estar fora de questão o encerramento de explorações, apesar de ressalvar que esta é uma medida extrema.

 

"Os agricultores são resilientes, como é conhecido, mas a verdade é que não sabemos quando termina a seca, nem quando teremos medidas eficazes de mitigação dos seus efeitos", concluiu. 

 

 

 

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