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Produção nacional de trigo só cobriu 6,3% das necessidades em 2021. E cenário tende a agravar-se

Guerra na Ucrânia não afeta abastecimento de trigo a Portugal, apesar da forte dependência externa em face de um grau de aprovisionamento inferior a 10%, mas tem impacto nos preços internacionais.

Trigo: Mais alqueires no mercado, maior pressão no preço
26 de Maio de 2022 às 11:57
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A produção nacional só satisfez 6,3% do trigo utilizado em Portugal para as mais diferentes finalidades, como para consumo humano, alimentação ou uso industrial, o que compara com 59,9% em 1990, revelam dados publicados, esta quinta-feira, pelo Instituto Nacional de Estatística (INE).

Os números são ilustrativos da "forte dependência externa em relação ao abastecimento do trigo" por parte de Portugal que, aliás, tem há mais de uma década um grau de autoaprovisionamento inferior a 10%. Por conseguinte, assinala o INE, a balança comercial de trigo em Portugal tem sido deficitária, alcançando 286 milhões de euros em 2021.

Mas o cenário tende a piorar em 2022, desde logo ao nível da produção nacional, já que "as previsões agrícolas apontam para uma diminuição da produtividade de 10% face a 2021", indica o INE, fazendo referência também  ao facto de a campanha ter ficado marcada "pelo aumento significativo do preço dos meios de produção que, em conjunto com as condições meteorológicas adversas, contribuíram para a diminuição da área instalada", estimada na ordem dos 8%.

E atendendo a que Portugal tem de ir comprar trigo lá fora - a França é o principal mercado - as perspetivas também não são animadores em particular em matéria de preços, pressionados nomeadamente pela guerra na Ucrânia.

Embora tanto a Ucrânia como a Rússia tenham "pesos residuais"  na estrutura nacional das importações de trigo (correspondiam a 0,5% e a 0,3%, respetivamente, em média, no período 2012-2021), pelo que "dificilmente poderão afetar o abastecimento" de Portugal, o INE alerta que "a instabilidade resultante da intervenção militar refletiu-se na cotação internacional do trigo o que, face à dependência externa de Portugal desta 'commodity', irá muito provavelmente aumentar o desequilíbrio da balança comercial".

Assim, neste cenário, e contando que o consumo interno continue nos níveis de 2021 e admitindo, como hipótese técnica, que o preço de exportação do trigo no porto de Rouen (um dos principais portos europeus em transações de cereais) se mantenha, até ao final de 2022, em 443 euros/tonelada - como registado a 18 de maio -, "o impacto na balança comercial portuguesa de trigo em 2022 já seria de um agravamento do défice próximo de 60% face a 2021, correspondente a cerca de 165 milhões de euros"

O que, reforça o INE, "representaria perto de 1% de agravamento do défice global, tomando como referência o valor de 2021".

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