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Peritos aconselham Governo a avaliar risco regional no desconfinamento
Óscar Felgueiras sugere uma média ponderada entre o indicador concelhio e o da vizinhança, que traduza o risco de proximidade e de mobilidade, falando numa “ferramenta para implementar medidas de saúde pública preventivas”.
Os peritos ouvidos na reunião do Infarmed aconselham o Governo a olhar para os dados agregados dos municípios vizinhos, em vez de se concentrar apenas nos dados a nível concelhio, quando tiver de tomar decisões sobre o avanço ou o recuo no plano de desconfinamento.
Lembrando que em pequenos concelhos pode haver uma incidência alta embora o número de casos seja reduzido, o matemático Óscar Felgueiras deu o exemplo de Vimioso, que tem uma incidência concelhia de 249 casos, mas apenas 4.000 habitantes. Mas olhando aos quatro concelhos vizinhos, a incidência conjugada baixa para 53.
Isto é, a incidência vizinha, como lhe chamou, tem vantagens como "sinalizar o risco associado à proximidade de zonas mais críticas, evitar a sobrevalorização de surtos em pequenos concelhos e favorece uma maior continuidade geográfica neste indicador".
No entanto, para evitar que haja um "ajuste excessivo de suavização do risco" naquele concelho, o professor da Faculdade de Ciências da Universidade do Porto, propõe outro tipo de incidência, a que chamou de incidência ajustada: uma média ponderada entre o indicador concelhio e o da vizinhança. "Não tem como objetivo fazer uma previsão pura, mas sinalizar zonas de risco", apontou o especialista.
Na reunião realizada esta manhã no Infarmed, Óscar Felgueiras mostrou uma matriz com a incidência concelhia no eixo do "X" e a ajustada nos "Y", sendo que o tamanho das bolas varia de acordo com a dimensão da população. Pegando no exemplo de Portimão, que tem registado valores elevados nas últimas semanas, os concelhos vizinhos ficam com um risco mais agravado e o de Portimão um pouco suavizado.
"Esta pretende ser uma métrica acessível, que traduz o risco de proximidade e de mobilidade. Corrige o risco de sobrevalorizar os casos em concelhos pequenos e é uma ferramenta para implementar medidas de saúde pública preventivas. É complementar ao indicador da incidência concelhia, que determina zonas de reação – testar, rastrear, isolar -, mas em concelhos vizinhos que tenham uma incidência ajustada elevada também se justifica alguma prevenção", resumiu.
Vantagens na análise de "clusters"
Também Carla Nunes, da Escola Nacional de Saúde Pública da Universidade Nova de Lisboa, apresentou um estudo em que é analisado o risco relativo, que faz um rácio entre o número de novos casos por semana verificados em determinado concelho e os esperados dada a situação nesse semana, considerando o país e a sua vizinhança. E que faz depois a ordenação por cada um dos concelhos e mostra as tendências também por região.
Ora, colocando o foco nas últimas cinco semanas, a especialista aconselha também os decisores políticos a olhar para os diferentes "clusters espaciais", notando que há alguns que saltam à vista pelo risco muito elevado e pela "consistência temporal". Mas deve analisar-se ao mesmo tempo os riscos diferentes dentro do mesmo cluster, em que concelhos vizinhos apresentam "gravidades distintas".
"Na análise das áreas críticas identificadas interessa considerar a sua grandeza e também a continuidade temporal (se é algo ao longo do tempo ou pontual). No caso de uma doença infecciosa como a covid-19, como há uma transmissão rápida, é urgente perceber o problema para poder definir estratégias específicas de atuação. O ganho que se obtém dos clusters vem a traduzir-se em maior precisão e segurança das decisões e na intervenção, por isso conduzem a uma maior efetividade em saúde pública", frisou.
Na sua intervenção, Carla Nunes salvaguardou, porém, que estas análises apenas apontam as áreas críticas, mas não explicam o porquê. E aí, acrescentou a especialista, "tem de ser usada informação a nível local para perceber a origem desses clusters: eventuais surtos, informação quantitativa e também qualitativa, envolvendo diversos parceiros".