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Hospitais Senhor do Bonfim desmente Estado: "Ainda não caiu dinheiro nenhum"

O Estado garante que já pagou uma parte do que deve ao Senhor do Bonfim, que tem dois salários em atraso aos 350 trabalhadores, mas o dono nega tudo e negoceia a venda de 50% do hospital por 150 milhões de euros.

O dono dos Hospitais Senhor do Bonfim admite: “Vou ter que vender capital, o controlo da empresa, se for preciso, para salvar o hospital.” Luis Vieira/CM
21 de Março de 2018 às 22:17
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Na noite desta terça-feira, o Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde garantia, em comunicado, que tinha já pago aos Hospitais Senhor do Bonfim (HSB) cerca de 74,9 mil euros dos mais de 500 mil que deve ao maior hospital privado do país, que diz precisar de liquidez para pagar os dois meses de salários em atraso aos seus 350 trabalhadores.

No mesmo comunicado, a entidade pública devedora afiançava também que, "decorrente do aumento/reforço de capital estatutário recentemente atribuído aos hospitais, esta semana vai ser igualmente liquidada a importância de 144.652,80 euros". Além do pagamento destas duas tranches , o Centro Hospitalar Póvoa de Varzim/Vila do Conde informava, ainda, que "o valor remanescente vai ser liquidado no mais curto espaço de tempo possível".

Contactado pelo Negócios, ao final da tarde desta quarta-feira, o dono dos HSB negou tudo. "Mantém-se a aldrabice. Ainda não caiu dinheiro nenhum",  reagiu Manuel Agonia. "Até este momento, nem dinheiro nem notícias. E ainda ninguém do Estado me comunicou nada. Estou cansado até à medula", lamentou o empresário.

Poucas horas antes, em declarações aos jornalistas,  o ministro da Saúde disse que a dívida do Estado ao complexo hospitalar Senhor do Bonfim, situado em Vila do Conde, deverá ser saldada em breve. "Acredito que nos próximos dias essa questão esteja resolvida", afirmou Adalberto Campos  Fernandes.

Mantém-se a aldrabice [do Estado]. Ainda não caiu dinheiro nenhum. Estou cansado até à medula.   manuel agonia
Presidente e dono dos Hospitais Senhor do Bonfim  

Já quando questionado sobre o facto de Agonia fazer depender a continuidade dos HSB da liquidação da factura estatal, via para a regularização dos salários, o ministro descartou o racional da equação. "Não queria misturar as questões, porque o Governo não responde por investimentos privados nem pela sustentabilidade de iniciativas de carácter privado", argumentou.

Em  declarações ao Negócios, o dono dos HSB acabou por admitir que não é no encaixe deste meio milhão de euros que reside a viabilização do Senhor do Bonfim. "Vou ter de vender capital, o controlo da empresa, se for preciso, para salvar o hospital", reconheceu Agonia, que esta quarta-feira almoçou com um potencial investidor.

"A conversa correu bem. Ofereceram-me 150 milhões de euros por 50% do capital. Estou agora à espera da proposta definitiva", contou o empresário, que, no dia anterior, em anteriores declarações ao Negócios, tinha torcido o nariz a algumas condições impostas por este investidor para fechar o negócio. "Querem que eu fique como figura decorativa, sem poder decisório, e despachar alguns dos meus colaboradores. Ora, isso não me agrada", afirmou na altura.

Entretanto, "as notícias que têm saído sobre a situação do Senhor do Bonfim espoletaram uma série de interessados. Os telefonemas têm sido mais do que muitos", enfatizou Agonia, que continua a reclamar a celebração das convenções com o Serviços Nacional de Saúde, "conforme havia sido prometido pelo anterior Governo".

De resto, o dono dos HSB já se mostrou mais optimista em relação ao futuro do complexo hospitalar. Na edição desta quarta-feira do Negócios, tinha admitido o seu encerramento. "Se não houver acordo, é o fim. Em Abril, fecho o hospital e digo às pessoas para arrastarem o que puderem", tinha então dramatizado.

O único PIN da área da saúde

Inaugurado no final de 2014, depois de um investimento superior a 100 milhões de euros, o complexo Hospitais Senhor do Bonfim (HSB) foi o único projecto da área da saúde que foi declarado PIN – Potencial Interesse Nacional. Situado em Vila do Conde, numa propriedade de 13 hectares, é apresentado como o maior hospital privado do país – tem 549 camas, o dobro do lisboeta Hospital da Luz. Previa vir a facturar 44 milhões de euros anuais, mas, com cerca de 350 trabalhadores, continua praticamente "às moscas". Só gera pouco mais de três milhões de euros e continua a acumular prejuízos.

 
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