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Relvas revisita Grândola: “Trauteei a canção porque senti a mesma liberdade dos que interromperam um debate democrático”

Uma década após ter balbuciado a música de Zeca Afonso, que foi entoada por um grupo de manifestantes que interrompera o seu discurso, o antigo ministro de Passos Coelho assina um depoimento em que defende que “a liberdade não pode ser nacionalizada por alguns sectores políticos”.

Bruno Colaço
30 de Janeiro de 2023 às 13:46
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"25 de Abril sempre! Fascistas nunca mais", "gatunos" e "demissão", gritaram os manifestantes, interrompendo Miguel Relvas quando discursava no Clube dos Pensadores (CdP), em Gaia, na noite de 18 de fevereiro de 2013, pelas 21h40.

 

O então ministro-adjunto e dos Assuntos Parlamentares tinha começado a falar há apenas cinco minutos, quando foi interrompido por cerca de duas dezenas de manifestantes, que cantaram "Grândola, Vila Morena" e exigiram a sua demissão.

 

Relvas ainda tentou dirigir-se aos manifestantes, mas a sua voz foi abafada pelos protestos. "Sim, vamos todos cantar", disse Miguel Relvas, que só conseguiu retomar o seu discurso depois de o grupo ter saído por sua iniciativa da sala.

 

Menos de dois meses depois, demitiu-se de ministro.

 

"Tinha sido o grande estratega da ascensão de Pedro Passos Coelho a líder do PSD e, mais tarde, primeiro-ministro. Nesse tempo, havia um problema com a sua licenciatura e de alguns dossiers controversos como a TAP (adiada a privatização), RTP (optou pela reestruturação) e conseguiu impor a reforma Administrativa Local", relembra Joaquim Jorge, fundador do Clube dos Pensadores.

 

Para assinalar os 10 anos do momento que colocou Relvas a balbuciar algumas palavras da música de Zeca Afonso, que se comemora no dia 18 do próximo mês, Joaquim Jorge pediu ao antigo governante um depoimento para assinalar a data, que o Negócios publica integralmente de seguida:

 

"Foi com gosto que participei no debate de Fevereiro de 2013 apesar da fortíssima pressão mediática que então se fazia sentir sobre o XIX Governo Constitucional. Estávamos a governar condicionados pelas imposições da troika, convém recordar, decorrentes da iminente falência do Estado herdada do anterior governo socialista. O ambiente social era necessariamente tenso e foi também por isso que aceitei o desafio.

 

Fi-lo com humildade democrática: porque era preciso explicar e voltar a explicar quantas vezes fossem necessárias as medidas que estavam a ser tomadas neste contexto de constrangimentos. Acredito que a democracia deve ser vivida em proximidade e debate aberto com os cidadãos. Fi-lo também em nome da liberdade e foi exactamente assim que encarei o momento em que algumas pessoas começaram a cantar a "Grândola, Vila Morena".

 

Naquele momento, também eu trauteei espontaneamente a canção porque senti a mesma liberdade dos que interromperam um debate democrático.

 

A proximidade das comemorações dos 50 anos do 25 de Abril (1974/2024) representa, também por isso, uma oportunidade para reafirmar a responsabilidade que se impõe a todos os governos para aprofundar todas as formas de viver a democracia e o dever de humildade que deve orientar o exercício das funções governativas.

 

A liberdade não pode ser nacionalizada por alguns sectores políticos, minoritários, diga-se, porque a liberdade não tem donos. Foi assim que encarei todos os debates ao longo da minha carreira ao serviço da política e assim irei continuar: um radical defensor de todas as liberdades."

 

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