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PCP diz que “povo não precisa de presidentes que usam hipocrisia”
O PCP considerou que Portugal "não precisa de presidentes que usam a hipocrisia como forma de estar na política", admitindo "alívio" pelo fim de mandato de Cavaco Silva mas "preocupação" por "outros Cavacos" estarem "à espreita".
Na reacção à última mensagem de Ano Novo do Presidente da República, Armindo Miranda, que integra a Comissão Política do PCP, considerou que o discurso de Aníbal Cavaco Silva "não traz muita coisa ou se calhar mesmo nada" de novo.
"Uma primeira constatação que podemos fazer é que o povo português não precisa de mais presidentes destes: chamem-se Cavacos, Marcelos Rebelos de Sousa ou outros nomes. Pessoas que usam a hipocrisia como forma de estar na política não estão bem no cargo de Presidente da República e outros cargos", disse.
"Falou disso como se tratasse de uma maldição divina que está a castigar o povo português por se ter portado mal e por isso é que o país está como está, quando todos sabemos e ele sabe melhor do que ninguém que isto resulta de políticas concretas concretizadas por partidos. (…) Cavaco é um dos principais responsáveis por esta situação", disse.
O dirigente do PCP apontou o dedo aos anos em que Cavaco Silva foi primeiro-ministro, principalmente ao momento em que, segundo Armindo Miranda, o actual Presidente da República "não hesitou e assinou de imediato" quando "as leis laborais foram alteradas, para que os patrões pudessem despedir mais rápido e mais barato, reduzindo inclusivamente as indemnizações".
No seu discurso, Cavaco Silva afirmou que se vive um tempo de incerteza e que há um modelo político, económico e social a defender, que é aquele que vigorou nas últimas décadas.
Para o PCP, esta frase mostra "preocupação" com "os agentes e instituições políticas", pelo que os comunistas consideram que o desejado por Cavaco Silva é que se "mantenha exactamente o sistema de exploração e empobrecimento que levou a esta situação" e na qual, referiu, o chefe de Estado "foi peça importante".
O PCP entende, assim, que Cavaco Silva fez um "apelo" a que a "riqueza continue a concentrar-se nos grupos económicos e que as desigualdades sociais continuem a aumentar e o empobrecimento ganhe lastro" no país "sempre em benefício dos banqueiros nacionais e internacionais".
"Basta referir que este ano vão ser entregues cerca de nove mil milhões de euros aos banqueiros. É o modelo que ele defende, sempre defendeu e antes de ir embora apela a que se mantenha tudo igual. Claro que a nossa luta é outra: é fazer com que este modelo desapareça. Só faz falta aos banqueiros. Aos portugueses não faz falta", afirmou.
Armindo Miranda admitiu que os comunistas vêem com "alívio" o fim do mandato de Cavaco Silva, mas disse que "há aí outros Cavacos à espreita".
"O doutor Marcelo Rebelo de Sousa está à espreita. O formato é diferente, o estilo também, mas a matriz de usar a hipocrisia como forma de restar na política é a mesma. São pessoas em quem não se pode confiar (…). Alívio sim, mas preocupação porque tudo devemos fazer para evitar que outros Cavacos venham a ocupar o lugar", concluiu.