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Os discursos dos Presidentes nos seus primeiros 25 de Abril
Marcelo faz amanhã o seu primeiro discurso no 25 de Abril enquanto Presidente. Quando fizeram essa mesma intervenção, os seus quatro antecessores traçaram o retrato do país nas suas épocas. Se Ramalho Eanes temia que as conquistas de Abril pudessem ser ameaçadas, Mário Soares garantia que o país já estava estabilizado. Sampaio insistiu na qualificação dos portugueses e Cavaco Silva denunciou uma sociedade injusta.
RAMALHO EANES
25 de Abril de 1977
Abril não pode ser traído
Ramalho Eanes discursou, no seu primeiro 25 de Abril, em 1977. Era um Presidente preocupado com a instabilidade política do pós-revolução, que ameaçava as conquistas de Abril. Ramalho observava o "desencanto" que se apoderava de muita gente e perguntava: "que é feito da fraternidade que encheu as ruas e os campos deste país?". "Portugal viveu inundado de palavras e embriagado de promessas", e naquele momento, a "crise" era usada para justificar o adiamento da melhoria das condições de vida. "É forçoso encontrar uma resposta concreta para aspirações que se vão tornando desespero", pedia o Presidente, convocando as empresas a contribuir para modernizar o país, para que os ideais de Abril não viessem a ser "um sonho traído".
MÁRIO SOARES
25 de Abril de 1986
As portas do futuro abrem-se
O segundo Presidente da democracia fez, em 1986, um primeiro balanço dos 12 anos do 25 de Abril. Para Mário Soares, os portugueses tinham razões para estarem confiantes com o que havia sido conseguido e, sobretudo, com o que estava a caminho, devido à entrada na então Comunidade Económica Europeia. Apesar de ainda persistir no país a "pobreza" ou a "ignorância", o país havia dado "passos de gigante". "Mudámos as coisas, a terra e, sobretudo, as mentalidades", observava o Presidente. Naquele momento, faltava apostar na modernização da economia e qualificação das pessoas, para não perder o "legado inestimável do 25 de Abril", que consistiu em "abrir-nos de par em par as portas do futuro". "Temos hoje tudo nas nossas mãos".
JORGE SAMPAIO
25 de Abril de 1996
O apelo à qualificação e regiões
Jorge Sampaio discursou pela primeira vez perante a Assembleia da República para comemorar o 25 de Abril em 1996. Depois de lembrar que a Revolução havia permitido recuperar a liberdade de "optar, debater e decidir sobre o nosso futuro colectivo", sublinhou que isso não é suficiente, porque "precisamos de iluminar bem o contexto da nossa decisão". Era necessário, por isso, um esforço de qualificação dos portugueses. Jorge Sampaio também apelou a um consenso sobre a regionalização, que defendia, pedindo que o debate político deixasse de se restringir a "questões de método e calendário" para se centrar antes nas "vantagens e inconvenientes". Dois anos depois realizou-se o referendo sobre a regionalização, em que o "não" venceu.
CAVACO SILVA
25 de Abril de 2006
Um compromisso para a inclusão
O primeiro 25 de Abril com Cavaco Silva como Presidente da República, em 2006, ficou marcado por um diagnóstico alarmante. No discurso que fez perante a Assembleia da República, Cavaco Silva afirmava que um dos sonhos de Abril, de construir uma "sociedade mais justa e equilibrada, em que os benefícios do desenvolvimento contemplassem todos", ainda estava por cumprir. "Ficámos muito aquém na concretização dessa ambição", reconhecia, exemplificando com o forte "dualismo" entre litoral e interior, a "desigualdade de distribuição de rendimentos" ou persistência da pobreza, que afectava especialmente os idosos. O recém-empossado Presidente apelou a um "compromisso para a inclusão social", o principal tema do seu discurso.