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Montenegro diz que onde tem terrenos que herdou é "impossível" aplicar lei dos solos
Primeiro-ministro referiu, no Parlamento, que a zona onde estão localizados os terrenos rústicos que herdou da família não podem ser convertidos em urbanos. Disse ainda que não revela os clientes da empresa da família por respeito aos clientes, mas não se opõe a que esses tomem a iniciativa.
O primeiro-ministro, Luís Montenegro, afirmou esta sexta-feira que os terrenos que herdou da família estão numa zona do país onde é "impossível" aplicar as alterações à lei dos solos, cuja votação no Parlamento acabou adiada e que vão permitir converter os terrenos rústicos em urbanos.
"Em Rabal ou em Barrô, onde tenho os terrenos, é impossível aplicar a lei dos solos", disse Luís Montenegro, no debate sobre a moção de censura apresentada pelo Chega, na Assembleia da República. Em causa estão 49 prédios rústicos que constam na declaração de património e rendimentos entregue pelo primeiro-ministro à Entidade para a Transparência e que foram mencionados quando se debatia a possibilidade de Luís Montenegro vir a beneficiar das mudanças à lei dos solos.
Luís Montenegro afirmou que, "para haver uma alteração no regime dos solos, em primeiro lugar é preciso haver um impulso de Câmara Municipal e uma decisão da Assembleia Municipal". "E também é preciso haver a contiguidade dos terrenos rústicos face ao edificado urbano e à consolidação desse edificado", explicou, dizendo que, por essa mesma razão, os terrenos que tem não podem beneficiar da lei dos solos.
Aos deputados, o primeiro-ministro esclareceu que o terreno rústico "mais valioso" que herdou tem um valor patrimonial de 1.081,19 euros. "Se o senhor deputado André Ventura ou algum deputado da bancada de Chega conseguir demonstrar que as alterações à chamada lei dos solos têm implicação na utilização e reconfiguração desta propriedade, eu sou menino para violar fortemente a minha consciência fraternal e oferecer este terreno ao Chega para poder aí dirigir um empreendimento imobiliário", ironizou.
A moção de censura ao Governo apresentada pelo Chega deve-se, no entanto, ao facto de a família de Luís Montenegro – a mulher e os dois filhos – terem uma empresa, a Spinumviva, que pode beneficiar das alterações à lei dos solos que este Governo está a fazer. Luís Montenegro foi fundador e gerente dessa empresa, tendo vendido a sua parte à mulher em 2022, quando foi eleito líder do PSD. No entanto, como é casado em comunhão de adquiridos, continuaria a ser o sócio maioritário da empresa.
Em resposta ao PS que queria saber quais os clientes e os serviços prestados pela Spinumviva, Luís Montenegro referiu que não irá dizer mais nomes além da Cofina, por "uma questão de respeito" com as entidades com as quais fez negócio. "Não é por minha causa. E devo até dizer que, se algum deles quiser tomar essa iniciativa, não tenho nenhum problema com isso. Os termos dos contratos, a forma como os serviços são prestados, naturalmente dizem respeito a essa relação", disse.
"Fui além do que era exigível. Expus a minha vida profissional, pessoal e até familiar de uma maneira que nunca vi ninguém fazer até hoje, mas não quero nenhum crédito por isso. Não é possível chefiar um Governo com uma nuvem de suspeição", rematou o primeiro-ministro.