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Mário Soares 1924-2017: "Quando cá não estiver, o que hei-de fazer?"
O Negócios escolheu 17 frases de Mário Soares que ajudam a perceber o pensamento e as convicções do fundador do PS e ex-Presidente da República. Soares não acreditava na imortalidade mas confiava na memória histórica.
Negócios
07 de Janeiro de 2017 às 16:11
"Sou socialista, republicano e laico"
"Fui um pouco político à força. Fui político porque não podia viver na ditadura. Era uma incompatibilidade física. Não era possível viver num regime como aquele, em que uma pessoa para conseguir alguma coisa era preciso ser subserviente. Isso levou-me a ser resistente à ditadura desde muito jovem e depois enveredar pelo Partido Comunista. Depois tive as minhas lutas com o Partido Comunista, como se sabe, porque também não concordava com aquele modelo. Se tenho vivido numa democracia inicialmente, podia ter sido advogado, escritor, jornalista".
"A pressa que eu tinha em criar o PS repousava fundamentalmente no facto de achar que ia dar-se uma ruptura no sistema. Por isso, tínhamos de estar organizados, ter um partido, com dirigentes reconhecidos, capazes de poderem falar em nome dele e ser ouvidos. Essa era a minha percepção fundamental".
"Eu esperava que com o colapso do comunismo a social-democracia e a democracia cristã pudessem desenvolver o projecto europeu. Mas os americanos pensaram o contrário. Foram eles que lançaram a globalização desregulada, o neoliberalismo como ideologia única e que fizeram cair os partidos socialistas, sociais-democratas e democratas-cristãos".
"Há uma vertente ideológica que facilitou a crise: foi o neo-liberalismo, responsável pela economia virtual, pela globalização desregulada e sem ética, pela idolatria dos mercados usurários - que vivem dos paraísos fiscais, que deviam ser ilegalizados - e que hoje mandam nos Estados. Mas à ideologia neo-liberal vai acontecer o mesmo que ao comunismo".
"Não sou líder. Sou um cidadão normal, que se vê como tal e que de vez em quando dá umas opiniões. Se são erradas ou certas, os outros que digam. Eu digo apenas o que penso e posso, claro, enganar-me, como toda a gente".
"Não faço História. Conheço a história, mais ou menos. Mas não acho que eu tenha sido especial. Não sou nada de especial. Ser Presidente da República é igual a ser outra coisa qualquer".
"Os portugueses têm a mania de dizer mal deles próprios. Quando vão para o estrangeiro percebem rapidamente que o nosso País tem muita qualidade e muito interesse. Mas só no estrangeiro".
"É preciso confiar no povo português. Eu confio no povo português e no génio do povo português. E um povo que tem a história que tem Portugal e fez aquilo que fez, incluindo a revolução de sucesso que foi a revolução do 25 de Abril, que realizou todos os seus objectivos, um País que consegue ter a melhores relações com África e com as antigas colónias portuguesas como não têm nem os franceses nem os ingleses".
"Tenho confiança no futuro de Portugal – e dos portugueses – sempre tive. Mesmo nos anos cinzentos e tão tristes da Ditadura. Durou demais, é verdade, mas a liberdade chegou-nos, finalmente. Nos últimos trinta anos Portugal progrediu imenso. É incontestável! E não é agora por a 2 Europa estar em crise – e o Mundo a entrar em recessão – ou por sentirmos, é verdade, "um difuso mal-estar" que os órgãos de comunicação social ampliam, que nós vamos perder a confiança em nós próprios e no destino português!".
"Quando cheguei [a Portugal após o 25 de Abril de 1974], não sabia o que se ia passar. Logo no primeiro dia, o general António de Spínola [primeiro Presidente português após a revolução] acreditava que era possível manter uma espécie de acordo e fazer a paz com as colónias, ficando elas colónias. Eu disse-lhe logo que isso não tinha sentido nenhum e que tínhamos de dar a independência às colónias – sem isso nada feito. Por isso é que eu digo, descolonizar em primeiro lugar, não havia democracia possível sem isso".
"A descolonização foi óptima, foi feita num tempo recorde que admirou muitos países que fizeram descolonizações, como os franceses".
"De vez em quando passa-me pela cabeça: ‘Quando cá não estiver, o que é que hei-de fazer?’. A crença é realmente um grande conforto para aqueles que acreditam. Mas é difícil acreditar. Pensar que há um Deus, que somos feitos à sua semelhança, que sente o que nós sentimos e que pode ser até antropomórfico, é uma coisa que não entra no meu espírito. Nunca entrou. Por isso sou racionalista e agnóstico. E também não acredito, dada a evolução das espécies, dado o que já sabemos cientificamente da nossa vida, também não acredito na outra vida. As pessoas que acreditam têm esse grande estímulo: estão a trabalhar para poderem estar na outra vida e serem recompensados na outra vida. Eu não acredito na imortalidade. Mas acredito na memória, na memória histórica".
Não sou religioso. Ser ateu também tem o significado de ser contra. Eu não sou contra nem a favor, não acredito em Deus. E o meu pai era padre! Foi padre mas casou com a minha mãe pela Igreja, o que é extraordinário! Conseguiu isso! O meu pai foi padre porque era de uma família muito modesta".
"Antes de mais nada, é o domínio da economia e dos negócios sobre a política que é trágico para qualquer país, ou para qualquer grupo de países. Eu acho que a UE está a atravessar a maior crise de sempre. E os mercados, que estão completamente desregulados, e aqueles que dirigem os mercados, eu chamei-lhes monstros e é verdade. São verdadeiros monstros. Ninguém sabe donde vêm e o que querem. Sabe-se que querem dinheiro e que querem atacar o euro e atacar certos países, entre eles a Grécia, a Irlanda, Portugal… e vão vir outros".
"O capitalismo perdeu a ética. E isso é de uma grande gravidade para o futuro. Estamos numa economia globalizada, num processo apoiado no neo-liberalismo. Isso está a aumentar o fosso entre países ricos e pobres. Cada vez há mais pobres e cada vez há menos ricos. Dois terços da humanidade vivem abaixo do limiar mínimo".
"A sociedade portuguesa é muito mimética e por isso influenciável. Nunca me demiti da ideia de que podemos transformar as coisas desde que tenhamos capacidade e dinamismo para o fazer. Quando eu lancei a ideia da adesão à CEE houve muita contestação. Os economistas do meu partido, todos eles, avisaram-me que não seria bom para Portugal. E que, quanto muito, devíamos pedir um estatuto de associação. Eu respondi-lhes que não tinha argumentos técnicos para os rebater, mas que a minha intuição política me dizia para avançar".
Mário Soares: uma fotobiografia" - Página 12, de Maria Fernanda Rollo, José Maria Brandão de Brito, Maria Inácia Rezola - Editora Bertrand, 1995
"Fui um pouco político à força. Fui político porque não podia viver na ditadura. Era uma incompatibilidade física. Não era possível viver num regime como aquele, em que uma pessoa para conseguir alguma coisa era preciso ser subserviente. Isso levou-me a ser resistente à ditadura desde muito jovem e depois enveredar pelo Partido Comunista. Depois tive as minhas lutas com o Partido Comunista, como se sabe, porque também não concordava com aquele modelo. Se tenho vivido numa democracia inicialmente, podia ter sido advogado, escritor, jornalista".
Entrevista a Anabela Mota Ribeiro por ocasião do seu 80º aniversário
"A pressa que eu tinha em criar o PS repousava fundamentalmente no facto de achar que ia dar-se uma ruptura no sistema. Por isso, tínhamos de estar organizados, ter um partido, com dirigentes reconhecidos, capazes de poderem falar em nome dele e ser ouvidos. Essa era a minha percepção fundamental".
Mário Soares no livro "Um político assume-se", 2011
"Eu esperava que com o colapso do comunismo a social-democracia e a democracia cristã pudessem desenvolver o projecto europeu. Mas os americanos pensaram o contrário. Foram eles que lançaram a globalização desregulada, o neoliberalismo como ideologia única e que fizeram cair os partidos socialistas, sociais-democratas e democratas-cristãos".
Expresso, 5 de Maio de 2012
"Há uma vertente ideológica que facilitou a crise: foi o neo-liberalismo, responsável pela economia virtual, pela globalização desregulada e sem ética, pela idolatria dos mercados usurários - que vivem dos paraísos fiscais, que deviam ser ilegalizados - e que hoje mandam nos Estados. Mas à ideologia neo-liberal vai acontecer o mesmo que ao comunismo".
Diário de Notícias, 4 de Novembro de 2012
"Não sou líder. Sou um cidadão normal, que se vê como tal e que de vez em quando dá umas opiniões. Se são erradas ou certas, os outros que digam. Eu digo apenas o que penso e posso, claro, enganar-me, como toda a gente".
Expresso, 5 de Maio de 2012
"Não faço História. Conheço a história, mais ou menos. Mas não acho que eu tenha sido especial. Não sou nada de especial. Ser Presidente da República é igual a ser outra coisa qualquer".
I, 21 de Fevereiro de 2015
"Os portugueses têm a mania de dizer mal deles próprios. Quando vão para o estrangeiro percebem rapidamente que o nosso País tem muita qualidade e muito interesse. Mas só no estrangeiro".
Correio da Manhã, 29 de Setembro de 2008
"É preciso confiar no povo português. Eu confio no povo português e no génio do povo português. E um povo que tem a história que tem Portugal e fez aquilo que fez, incluindo a revolução de sucesso que foi a revolução do 25 de Abril, que realizou todos os seus objectivos, um País que consegue ter a melhores relações com África e com as antigas colónias portuguesas como não têm nem os franceses nem os ingleses".
Correio da Manhã, 29 de Setembro de 2008
"Tenho confiança no futuro de Portugal – e dos portugueses – sempre tive. Mesmo nos anos cinzentos e tão tristes da Ditadura. Durou demais, é verdade, mas a liberdade chegou-nos, finalmente. Nos últimos trinta anos Portugal progrediu imenso. É incontestável! E não é agora por a 2 Europa estar em crise – e o Mundo a entrar em recessão – ou por sentirmos, é verdade, "um difuso mal-estar" que os órgãos de comunicação social ampliam, que nós vamos perder a confiança em nós próprios e no destino português!".
Artigo de Mário Soares publicado no Diário de Notícias a 9 de Fevereiro de 2008
"Quando cheguei [a Portugal após o 25 de Abril de 1974], não sabia o que se ia passar. Logo no primeiro dia, o general António de Spínola [primeiro Presidente português após a revolução] acreditava que era possível manter uma espécie de acordo e fazer a paz com as colónias, ficando elas colónias. Eu disse-lhe logo que isso não tinha sentido nenhum e que tínhamos de dar a independência às colónias – sem isso nada feito. Por isso é que eu digo, descolonizar em primeiro lugar, não havia democracia possível sem isso".
Deutsche Welle, 29 de Março de 2014
"A descolonização foi óptima, foi feita num tempo recorde que admirou muitos países que fizeram descolonizações, como os franceses".
Destak, 23 de Abril de 2009
"De vez em quando passa-me pela cabeça: ‘Quando cá não estiver, o que é que hei-de fazer?’. A crença é realmente um grande conforto para aqueles que acreditam. Mas é difícil acreditar. Pensar que há um Deus, que somos feitos à sua semelhança, que sente o que nós sentimos e que pode ser até antropomórfico, é uma coisa que não entra no meu espírito. Nunca entrou. Por isso sou racionalista e agnóstico. E também não acredito, dada a evolução das espécies, dado o que já sabemos cientificamente da nossa vida, também não acredito na outra vida. As pessoas que acreditam têm esse grande estímulo: estão a trabalhar para poderem estar na outra vida e serem recompensados na outra vida. Eu não acredito na imortalidade. Mas acredito na memória, na memória histórica".
"Mário Soares - O que falta dizer", editado em 2005 pela Casa das Letras. O livro resultou de um repto lançado por Mário Soares a Anabela Mota Ribeiro, Elsa Páscoa e Maria Jorge Costa
Não sou religioso. Ser ateu também tem o significado de ser contra. Eu não sou contra nem a favor, não acredito em Deus. E o meu pai era padre! Foi padre mas casou com a minha mãe pela Igreja, o que é extraordinário! Conseguiu isso! O meu pai foi padre porque era de uma família muito modesta".
i, 20 de Fevereiro de 2015
"Antes de mais nada, é o domínio da economia e dos negócios sobre a política que é trágico para qualquer país, ou para qualquer grupo de países. Eu acho que a UE está a atravessar a maior crise de sempre. E os mercados, que estão completamente desregulados, e aqueles que dirigem os mercados, eu chamei-lhes monstros e é verdade. São verdadeiros monstros. Ninguém sabe donde vêm e o que querem. Sabe-se que querem dinheiro e que querem atacar o euro e atacar certos países, entre eles a Grécia, a Irlanda, Portugal… e vão vir outros".
Euronews, 22 de Abril de 2011
"O capitalismo perdeu a ética. E isso é de uma grande gravidade para o futuro. Estamos numa economia globalizada, num processo apoiado no neo-liberalismo. Isso está a aumentar o fosso entre países ricos e pobres. Cada vez há mais pobres e cada vez há menos ricos. Dois terços da humanidade vivem abaixo do limiar mínimo".
Homem Magazine, 3 de Agosto de 2014
"A sociedade portuguesa é muito mimética e por isso influenciável. Nunca me demiti da ideia de que podemos transformar as coisas desde que tenhamos capacidade e dinamismo para o fazer. Quando eu lancei a ideia da adesão à CEE houve muita contestação. Os economistas do meu partido, todos eles, avisaram-me que não seria bom para Portugal. E que, quanto muito, devíamos pedir um estatuto de associação. Eu respondi-lhes que não tinha argumentos técnicos para os rebater, mas que a minha intuição política me dizia para avançar".
Jornal de Negócios, 11 de Janeiro de 2006