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Jerónimo alerta que não há "responsabilidade delegável" com maioria absoluta

O secretário-geral do PCP alertou esta terça-feira que não há "responsabilidade delegável" com um governo com maioria absoluta, apontando que continuam a faltar respostas para problemas estruturais do país e admitindo que o diálogo com os socialistas "será diferente".

Miguel A. Lopes/Lusa
15 de Fevereiro de 2022 às 18:30
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"Há aqui uma responsabilidade que não é delegável que é do governo, um governo sustentado numa maioria absoluta e esta é a novidade", declarou aos jornalistas Jerónimo de Sousa, depois de ter estado reunido com o primeiro-ministro, António Costa, que hoje recebe na residência oficial, S. Bento, Lisboa, todos os partidos com representação parlamentar, exceto o Chega.

Não querendo fazer "juízos de valor precipitados", Jerónimo de Sousa ressalvou que "é natural a preocupação tendo em conta que o PS fica com as mãos livres para fazer o que entende em termos políticos", esclarecendo que não se estava a referir a questões "de regime, de liberdades e democracia, obviamente".

"É as coisas concretas que precisam de respostas concretas e que tendo em conta o passado recente não vemos essa disponibilidade para a consideração desses problemas", sustentou.

Acompanhado pelo ex-líder parlamentar dos comunistas, João Oliveira, e pela atual líder de bancada, a deputada Paula Santos, o secretário-geral do PCP admitiu que o diálogo com o PS nesta legislatura "será diferente" mas continuará a ser feito institucionalmente.

"O diálogo tem que existir particularmente no quadro da Assembleia da República e no quadro da prestação de contas que o Governo terá de dar aos grupos parlamentares, na resposta aos anseios dos portugueses e isso cria um espaço natural. Embora com uma maioria absoluta que pode determinar tudo, mas de qualquer forma aquilo que é fundamental é encontrar respostas", acrescentou.

Questionado sobre se este diálogo poderá incluir eventuais reuniões bilaterais, Jerónimo respondeu: "Se existir uma matéria de regime, desde as questões da regionalização ou outras, tem de existir esse diálogo. Mas em termos formais não".

O líder dos comunistas disse ter transmitido ao primeiro-ministro algumas preocupações, destacando a necessidade de aumentar o salário mínimo nacional e "os salários acima desse valor", a revogação das "normas mais gravosas da legislação laboral", o reforço do SNS, respostas para "o problema da habitação e da escola pública" ou ainda uma rede pública de creches.

O secretário-geral do PCP vincou ainda que "é preciso coragem para enfrentar os interesses dos grupos económicos" e "encontrar respostas para que o país saia da situação que se encontra, num país muito marcado pelas injustiças, pelas desigualdades em que claramente o governo não está a encontrar essa resposta".

"A arrogância com que os grandes grupos económicos e financeiros apresentam os seus lucros, os seus dividendos com todas as consequências que isto tem para o aumento dessas mesmas desigualdades", apontou.

Questionado sobre se o Governo terá essa coragem, Jerónimo respondeu que "não fica bem fazer a suspeição sem prova".

"Mas algumas experiências no passado recente demonstram que o governo não deu resposta a questões que são parte integrante da vida, da retribuição do trabalho que está em causa. As próprias confederações patronais em nome da estabilidade - seja lá o que isso for - têm garantidos os seus lucros e estou a falar particularmente dos grandes grupos económicos em que não há uma resposta determinada que exige naturalmente opções e coragem para resolver esses problemas", sustentou.

Jerónimo apontou ainda para um "ânimo das confederações patronais em ver o caminho mais ou menos aberto para esses seus interesses próprios".

O primeiro-ministro está a receber hoje, em São Bento, os partidos com representação parlamentar, à exceção do Chega, e estará à noite na Comissão Política Nacional do PS, reuniões que visam preparar o novo ciclo político.



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