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Passos Coelho prometeu a Sócrates apoio à vinda da troika em 2011
Numa carta enviada ao então primeiro-ministro José Sócrates, o então líder do PSD dizia que apoiaria o “recurso aos mecanismos financeiros externos”, revela o Público na sua edição desta quarta-feira.
Segundo o diário, a carta até hoje desconhecida tem data de 31 de Março de 2011. Isto é, cerca de uma semana antes de José Sócrates anunciar o pedido de resgate. Nela, Pedro Passos Coelho dizia ser favorável à entrada de financiamento externo, que permitisse colmatar os problemas orçamentais nacionais.
"Nestas circunstâncias, entendo ser meu dever levar ao seu conhecimento que, se essa vier a ser a decisão do Governo, o Partido Social Democrata não deixará de apoiar o recurso aos mecanismos financeiros externos, nomeadamente em matéria de facilidade de crédito para apoio à balança de pagamentos", refere Passos Coelho na carta.
O actual primeiro-ministro começava por reconhecer a dificuldade da situação, que lhe teria sido comunicada pelos representantes dos bancos e do Banco de Portugal. "Recebi hoje informação, da parte do senhor governador do Banco de Portugal, de que o nosso sistema financeiro não se encontra, por si só, em condições de garantir o apoio suficiente para que o Estado português assegure as suas responsabilidades externas em matéria de pagamentos durante os meses mais imediatos. Ainda esta manhã, o senhor presidente da Associação Portuguesa de Bancos transmitiu-me idêntica informação", escrevia Passos Coelho.
De seguida nota que José Sócrates tem recusado o pedido de financiamento à Comissão Europeia e FMI e que compete ao Executivo decidir o que fazer nesta situação. Contudo, sublinha que "é do conhecimento público a situação do mercado que a República vem defrontando" e alerta para as "gravíssimas consequências" de "qualquer risco de incumprimento".
No dia seguinte, Passos seria ainda mais explícito numa declaração à Lusa, em que dizia que "se o Governo achar que por qualquer razão é preciso contrair um empréstimo especial para evitar incumprimento de Portugal no exterior, o Governo tem tidas as condições para o poder fazer, e não é o PSD que vai pôr isso em causa". "O PSD apoiará isso", referia.
No dia 2 de Abril, foi a vez de Paulo Portas declarar: "Não faço parte dos que diabolizam o FMI."
Quatro dias depois, o Negócios noticiava que Portugal ia pedir um resgate externo, citando o ministro das Finanças, Fernando Teixeira dos Santos. Três horas depois, Sócrates anuncia a decisão.
Recorde-se que o tema voltou a entrar na discussão pública, depois do último debate entre António Costa e Pedro Passos Coelho, em que o líder do PS acusou o primeiro-ministro de, em 2011, querer a troika em Portugal. O social-democrata defendeu: "Então foi a oposição que chamou a troika? […] É uma absoluta mistificação."