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CDS avança para congresso de olhos postos nas legislativas

O posicionamento do CDS-PP face ao novo PSD de Rui Rio e a distância que o partido deve manter dos socialistas tem dominado as intervenções públicas de alguns dos principais dirigentes do partido, nas vésperas de mais um congresso onde Assunção Cristas avança sem oposição.

Lusa
08 de Março de 2018 às 11:32
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O CDS-PP reúne-se no próximo fim-de-semana em Lamego no seu 27º congresso, já de olhos postos nas próximas legislativas. O posicionamento do partido face ao novo PSD de Rui Rio, e a distância que deve manter dos socialistas tem dominado as intervenções públicas dos seus principais dirigentes.

Adolfo Mesquita Nunes, vice-presidente do CDS, é peremptório ao rejeitar uma aproximação do partido ao PS, considerando que essa seria uma solução "contra-natura". Em entrevista ao Público, o dirigente democrata-cristão diz que "a função do CDS é ser alternativa ao PS, não é casar-se com ele".

Com o PSD, a relação "próxima, de amizade", faz com que o partido seja visto como um parceiro natural, e nem o facto de Rui Rio ter marcado distâncias, ao ter afirmado que a relação do PSD com o CDS é igual à que mantém com o PS, faz Adolfo Mesquita Nunes mudar de entendimento. "Para mim é claro que o CDS não está mais próximo do PS do que do PSD. E que o partido com quem faz sentido termos uma conversa mais profunda é com o PSD".

Já Filipe Anacoreta Correia tem menos certezas sobre uma convergência com o partido de Rui Rio. "Nós não podemos aceitar ouvir que o CDS está à mesma distância do PSD que o PS, isso é uma avaliação que não é compreensível face a quem quer construir uma alternativa ao PS". É por isso que, para este dirigente, o PSD só deve cruzar-se com o CDS se assumir claramente como oposição a António Costa. "Quando nos perguntam se o PSD pode contar connosco, acho que a questão tem de ser colocada é se o CDS pode contar com o PSD. Se o PSD não tem claro qual é o seu posicionamento face ao PS, nós temos e nós queremos um caminho alternativo ao PS", respondeu à Lusa.

O tipo de convergência entre os dois partidos também divide os líderes centristas, havendo quem não ponha de parte uma coligação pré-eleitoral, e quem a rejeite à partida.

A deputada Cecília Meireles está entre os que entende que o partido deve apresentar-se sozinho às próximas legislativas. "O que acho que é a regra é que os partidos se apresentem sozinhos quer em europeias, quer em legislativas", defendeu à agência Lusa.

 

Apesar de reconhecer que matematicamente as coligações são favorecidas pelo método de Hondt, usado no sistema eleitoral português, Cecília Meireles disse acreditar "que é possível provar que este Governo não é a melhor alternativa para Portugal".

 

Na entrevista que concede esta quinta-feira, 8 de Março, ao Público, Adolfo Mesquita Nunes também sai em defesa desta tese dizendo que é preferível que cada um dos partidos trabalhe por si e que "o CDS tem tudo a ganhar" em ir sozinho a eleições. Se esta será a estratégia mais ajuizada é coisa que se só se saberá após os resultados eleitorais.

Já Filipe Lobo d’Avila, uma das vozes críticas à liderança de Assunção Cristas, tem mais dúvidas e, em entrevista recente ao Público, já afirmou que "O CDS, ao fechar a porta a coligações, afirmando-se como partido que vai sozinho a votos independentemente das circunstâncias, está a dar pouca margem para um entendimento e para conversas com o PSD". "Não tenho a certeza de que o resultado em termos eleitorais seja melhor se os dois partidos forem separados do que se houver uma coligação pré-eleitoral", afirmou.

 

Manuel Monteiro e o "sarar de velhas feridas"?

O eventual regresso de Manuel Monteiro ao partido também tem estado presente nas intervenções públicas de diversos dirigentes do partido, depois de o antigo líder popular e ter admitindo o cenário, em entrevista à Sic-notícias.

 

Abel dos Santos, porta-voz da tendência "Esperança em Movimento" (TEM) é um dos que receberá Manuel Monteiro de braços abertos. E, declarações à Lusa, Abel Matos Santos lembra que "Manuel Monteiro já disse que foi um erro [fundar a Nova Democracia]" e sustenta que "quem não tiver telhados de vidro que atire a primeira pedra". Aliás, "o Paulo Portas teve o 'irrevogável', que foi uma coisa que podia ter sido gravíssima para o país", sustentou.

 

Na mesma linha, Raúl Almeida, conselheiro nacional e ex-deputado do CDS Raúl Almeida, defendeu à Lusa a refiliação de Manuel Monteiro: "Não devemos esquecer que não há 'portismo' sem 'monteirismo' e é o tempo de sarar velhas feridas e de o partido se reconciliar com o seu passado", sustentou.

 

Já Cecília Meireles, actual deputada e apoiante de Assunção Cristas, não quer falar do futuro e prefere convocar o passado. "Quem decidiu abandonar o CDS e fazer outro partido foi o doutor Manuel Monteiro. Ouvi falar de uma hipótese, não vou comentá-la, acho que não faz sentido".


cronologia

De Gondomar a Lamego

 A liderança de Assunção Cristas no CDS-PP afirmou-se nos últimos dois anos através do resultado autárquico em Lisboa, e numa oposição que apresentou diversos pacotes legislativos e uma moção de censura ao Governo.

Cronologia dos principais momentos do primeiro mandato da liderança de Assunção Cristas, feita pela agência Lusa:

2016

13 de março - Assunção Cristas é eleita no Congresso de Gondomar com 95,59% dos votos. A primeira mulher a presidir ao CDS-PP, sucedendo a Paulo Portas, perde, contudo, lugares no Conselho Nacional. Filipe Lobo d'Ávila encabeça a lista alternativa ao órgão máximo entre Congressos e consegue 23% dos votos, 16 lugares diretos (num total de 70).

A nova líder anuncia a renovação do apoio a Rui Moreira nas eleições autárquicas do ano seguinte e fala numa candidatura forte para Lisboa. O discurso de encerramento é marcado por um desafio ao PS para participar numa reforma do sistema de pensões e na revisão da regulação do sistema financeiro, incluindo a forma de nomeação do governador do Banco de Portugal.

17 de março - Assunção Cristas inicia uma ronda de apresentação de cumprimentos aos partidos com representação parlamentar e torna-se a primeira presidente do CDS a reunir com o PCP, num encontro em que é recebida pelo líder da bancada comunista.

22 de abril - CDS apresenta um projeto de resolução sobre o Programa de Estabilidade e o Plano Nacional de Reformas apresentados pelo Governo, forçando uma votação sobre aqueles documentos na Assembleia da República.

17 de agosto - O CDS-PP faz-se representar pela primeira vez num Congresso do Movimento para a Libertação de Angola (MPLA), em que o ex-líder Paulo Portas também está, a título pessoal. O dirigente e deputado centrista Hélder Amaral diz em Luanda que o CDS está muito mais próximo do MPLA, tendo "muitos mais pontos em comum". As palavras provocam polémica no partido que tradicionalmente alinhava com a UNITA.

10 de setembro - Sem esperar que o PSD defina uma posição, Assunção Cristas anuncia na 'rentrée' do partido, em Oliveira do Bairro, que é candidata à Câmara de Lisboa nas eleições autárquicas de 2017.

16 de outubro - O CDS-PP elege mais um deputado nas eleições regionais dos Açores. A líder nacional reclama um "excelente resultado" e destaca que o partido teve mais votos que BE e PCP juntos.

14 de novembro - Quase um ano antes das eleições autárquicas, Assunção Cristas inaugura a agenda oficial de pré-campanha em Lisboa com uma visita a um bairro social, o bairro da Cruz Vermelha.

2017

24 de fevereiro - O antigo secretário de Estado dos Assuntos Fiscais Paulo Núncio assume "responsabilidade política" pela não publicação de dados relativos às transferências de dinheiro para 'offshore' e abandona os órgãos do CDS-PP.

13 de março - Assunção Cristas diz numa entrevista ao Público que durante o Governo de Passos Coelho e Paulo Portas no qual foi ministra "o Conselho de Ministros nunca foi envolvido nas questões da banca". A líder do CDS revela que assinou o decreto sobre o BES por correio eletrónico, a pedido da ministra das Finanças, porque se encontrava de férias.

Na mesma entrevista, quando questionada sobre as diferenças entre o seu trabalho e o de Paulo Portas, responde: "Não sei se fazia assim tanto. Não tanto. Teve momentos".

01 de abril - O grupo da lista alternativa à da líder no Congresso de Gondomar, liderado por Filipe Lobo D'Ávila, reúne-se com militantes em Gondomar para reafirmar a "democracia interna" e defender que a prioridade nas autárquicas vai além de Lisboa.

10 de abril - Antecipando-se a críticas, Assunção Cristas defende num encontro com jornalistas que a lei das rendas que elaborou enquanto ministra do Governo PSD/CDS renovou o centro histórico da capital e é um fator a seu favor nas autárquicas.

10 de maio - A líder anuncia, durante um debate quinzenal com o primeiro-ministro, no parlamento, que o CDS tem uma proposta que prevê 20 novas estações de metro em Lisboa.

03 de julho - A presidente do CDS pede a demissão da ministra da Administração Interna e do ministro da Defesa. Em causa está o incêndio de Pedrógão Grande, de 17 de junho, e o roubo de armas em Tancos.

"Lamentamos, mas estes ministros não souberam estar à altura das suas responsabilidades. As demissões são inevitáveis e temos de o dizer sem hesitações nem mais rodeios. Senhor primeiro-ministro, volte [das férias] e demita-os", desafia.

19 de julho - PS, PSD e CDS-PP aprovam, em votação final global, a lei que permite aos serviços de informações o acesso a dados de comunicações, os metadados. O consenso para o diploma, que acolheu propostas dos centristas e dos sociais-democratas, teve origem na proposta avançada pelo CDS para contornar a inconstitucionalidade. Foi o CDS quem avançou a via de judicialização (pelo Supremo Tribunal de Justiça) do processo de autorização para solicitações de interceção de dados de comunicações.

01 outubro 2017 - Nas eleições autárquicas, o CDS soma Oliveira do Bairro às cinco Câmaras que o partido já governava. Em Lisboa, Assunção Cristas ultrapassa os 20%, torna-se a segunda força política na Câmara e passa de um para quatro vereadores.

24 de outubro - Depois dos incêndios de 15 de outubro, o CDS-PP apresenta uma moção de censura pelas "falhas do Governo nos incêndios trágicos de 2017", em que morreram mais de 100 pessoas. A moção é rejeitada com 122 votos contra, do PS, PCP, BE, PEV e do deputado do PAN, e 105 votos favoráveis, do CDS-PP e do PSD.

No debate, Assunção Cristas responsabiliza o primeiro-ministro pelas falhas, que, argumenta, mostraram apenas "um político habilidoso" quando o país quando precisava de "um estadista".

21 novembro - Realiza-se em Serralves, no Porto, a primeira conferência "Ouvir Portugal", uma réplica do modelo de auscultação usado na elaboração do programa eleitoral de Lisboa. As conferências em que participam sobretudo independentes são coordenadas pelo consultor do Presidente da República, poeta e comentador Pedro Mexia, a antiga diretora e jornalista da Rádio Renascença Raquel Abecassis e o gestor Sebastião Lancastre.

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